Curitiba Na contramão da perspectiva dos grandes líderes ocidentais, que temem o poder obtido nas urnas pelo grupo terrorista palestino Hamas, há quem aposte que, ao conquistar a maioria do Parlamento nas eleições legislativas palestinas, ocorridas na quarta-feira, o grupo radical tenda a seguir o caminho trilhado pelo Fatah, abandonando os radicalismos para se moldar às exigências do poder.
Um dos analistas do conflito no Oriente Médio que pensam desse modo é Günther Rudzit, cientista político que leciona nas Faculdades Integradas Rio Branco e é pesquisador da Universidade de São Paulo (USP). Ele considera que as perspectivas para a região sejam positivas a médio prazo e destaca a consolidação da democracia, ainda que a duras penas, em regiões como os territórios palestinos e o Iraque.
Gazeta do Povo O que a vitória do Hamas nas eleições parlamentares palestinas representa no cenário do Oriente Médio?Günther Rudzit Sem dúvida foi uma grande virada, uma mudança democrática pelo voto. O Hamas não conquistou o poder por completo, uma vez que Mahmoud Abbas, do Fatah, segue presidindo a Autoridade Palestina (AP). A democracia palestina começa a se consolidar sem imposições. Também nas eleições no Iraque houve grande participação popular. Pode ser considerado um avanço o fato de o Hamas, que é um grupo radical autor de ataques terroristas, ter aceito participar do processo democrático. Ou seja, chegaram ao poder pelo voto e não pelas armas.
O que mais há a temer com a chegada do Hamas ao poder?O Hamas já vinha dando indícios de moderação há tempos, diferentemente do grupo Jihad Islâmica. Apesar de não ter retirado de seu estatuto a eliminação do território de Israel, o Hamas não defendeu essa bandeira na campanha eleitoral. O Fatah também tinha este senão no estatuto. A tendência é que o Hamas siga o mesmo caminho que o Fatah e se torne um partido. Acredito que haja uma perspectiva positiva de diálogo do Hamas com Israel. Com o Hamas, que fazia ataques com mais freqüência, assumindo o governo e negociando sem atentados terroristas, abre-se brecha para o isolamento dos demais grupos radicais. A tendência é que a violência diminua na região. O Hamas terá, a partir de agora, a responsabilidade e o peso de ser governo.
Como os EUA devem agir daqui por diante?A vitória do Hamas será um teste para a diplomacia norte-americana. Afinal, a busca por democracia é a bandeira dos EUA. O foco da política externa de Bush é levar a democracia aos países islâmicos. Tanto os EUA quanto Israel terão de reconhecer o Hamas e negociar com eles.
Até que ponto a vitória do Hamas pode dificultar o governo de Abbas?A partir de agora o Hamas terá mais da metade dos votos no Congresso para aprovar políticas (76 das 132 cadeiras do Parlamento ficaram com o grupo). Controlando o Legislativo, o grupo imporá sua linha política, marcada pela assistência social. Mas sempre existirá o medo da iminência de uma guerra civil palestina, entre Fatah e Hamas. Ambos sabem, porém, que a divisão interna enfraquece a causa e favorece Israel, por isso, não acredito que partam para a radicalização. Os dois grupos devem adotar a moderação para tornar a convivência possível. Nenhum deles tem completo aval popular. A leitura geral é de que os votos para o Hamas foram um protesto contra os 40 anos de administração do Fatah, envolvido em escândalos de corrupção. A vitória nas eleições não representa a força do Hamas diante da população palestina.
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