Por sete meses, Dylan Carrico Rogers dormiu em sua loja de bicicletas com uma espingarda. A TriTech Bikes, localizada em Portland, no estado americano do Oregon, passou por três arrombamentos, dois tiroteios nas proximidades e incontáveis casos de vandalismo. Não houve nem sinal da força policial de Portland. E diante dos US$ 25 mil em peças de bicicletas roubadas, a seguradora da TriTech estava pronta para desistir do seu cliente.
"Eles disseram, 'se você fizer mais um pedido, nós simplesmente vamos largá-lo'", disse Rogers ao National Review. "Então, estou pagando US$ 1.200 a cada três meses para ouvir que tenho que repor [tudo] por minha conta. E, ao mesmo tempo, os policiais não aparecem. Então, estamos simplesmente em um vale-tudo."
O empresário, que morou a vida inteira em Portland, finalmente fez as malas e partiu em agosto. Naquele momento, disse ele, o proprietário do prédio "me disse que não valia mais a pena". As pichações, os danos à propriedade, as constantes invasões e as chamadas policiais não atendidas simplesmente não valiam mais o investimento. "Ele rasgou um contrato de arrendamento de três anos. O prédio está vazio agora", disse Rogers.
A sombria metrópole de 660 mil habitantes, situada na ponta noroeste do Oregon, não é exatamente a distopia anárquica como ocasionalmente alguns cantos da mídia conservadora a descrevem. Mas, na esteira de espasmos de violência política, um orçamento reduzido para a manutenção da ordem, uma onda de aposentadorias precoces da polícia e medidas punitivas de lockdown que devastaram pequenas empresas como a TriTech, a cidade está se aproximando cada vez mais de uma verdadeira terra sem lei.
Este é o modo de vida de Portland. "Você tem pessoas que estão simplesmente tirando vantagem do fato de que não há policiais", disse Rogers. "Isso se espalhou por toda parte agora. Não são apenas as lojas de bicicletas de Portland. Trabalhadores de mercados estão sendo atacados, porque temos viciados em drogas que estão literalmente entrando e fazendo esses ataques."
A abordagem de Portland para a governança nos últimos dois anos tem sido um paradoxo: um casamento de processos frouxos de crimes reais e repressões draconianas contra proprietários de pequenas empresas e cidadãos cumpridores da lei. O promotor distrital do condado de Multnomah, onde Portland está localizada, se recusou a processar 70% dos casos relacionados aos protestos do Black Lives Matter no ano passado, e o Departamento de Polícia de Portland deixa as pessoas que chamam o 911, o telefone dos serviços de emergência, em espera por horas.
A cidade ultrapassou seu recorde anual de tiroteios no final de setembro, faltando três meses para o fim do ano - e, como tragicamente costuma acontecer, os moradores negros foram mortos em tiroteios a uma taxa doze vezes maior que os moradores brancos em Portland.
Depois que o governo municipal parou de aplicar as leis de vadiagem, a população de sem-teto explodiu de cerca de seis grandes acampamentos para mais de 100. Ao mesmo tempo, o Oregon consistentemente tem sido o líder do país em restrições de saúde pública durante toda a pandemia, com a governadora Kate Brown rotineiramente obrigando os negócios a fechar em intervalos imprevisíveis, mesmo depois que as vacinas se tornaram amplamente disponíveis. A obrigatoriedade do uso de máscaras ao ar livre no estado do Oregon - que se aplicava a residentes vacinados e não vacinados - foi a última a continuar em vigor no país, até que foi finalmente revogada no final de novembro.
Para donos de empresas como Rogers, o golpe duplo de lockdowns arbitrários e crimes não policiados costuma ser insustentável. "Você está vendo mais e mais pessoas desistindo", disse ele ao National Review. E, por sua vez, "quando pessoas como eu e outros proprietários de negócios fecham seus estabelecimentos e vão embora, você não tem economia - e tudo continua a piorar".
Essa espiral cívica se reflete claramente nos números da economia: quase 260 mil habitantes do Oregon - quase um em cada oito membros da força de trabalho em todo o estado - perderam seus empregos apenas no primeiro mês de confinamento. Talvez o mais preocupante seja o fato de que as perdas de empregos foram mais acentuadas nos setores hoteleiro, de alimentação e de lazer, que reduziram pela metade sua força de trabalho nos primeiros dois meses da pandemia.
Restaurantes, bares e hotéis são indiscutivelmente a indústria mais importante de Portland. Mas até março, um terço dos empregos perdidos no setor não havia retornado, provavelmente como resultado da redução de 80% no tráfego de pedestres no centro da cidade.
"Isso é o que Portland se tornou", disse Rogers. Foi assim que as coisas aconteceram, levando ao fechamento permanente de seu negócio em agosto: "Eu tenho que dormir na minha loja com uma espingarda e fazer o que a polícia deveria fazer, porque não há polícia suficiente. Serei punido por fazer o que a polícia precisa fazer se alguém invadir. Mas se eu não fizer isso, vou perder meu negócio - porque se alguém invadir, não posso pagar o seguro. Você está em uma situação sem saída. Então, por que ter um negócio?"
Os efeitos adversos das políticas econômicas pouco competitivas de Portland por muito tempo foram atenuados pelo charme da cidade: tendo como pano de fundo o Monte Hood coberto de neve, povoada por adoráveis e excêntricos produtores de kombuchá, e muitas vezes classificada como a cidade dos EUA com as melhores comidas e bebidas, o fascínio único dos grunges em ambos os lados do rio Willamette tornou Portland um alvo para investidores e um ímã para turistas.
Mas a cultura e os ativos naturais da "Rose City" não são mais suficientes para equilibrar os efeitos dos lockdowns, do número descontrolado de sem-teto, de picos de criminalidade e do colapso cívico em geral.
Em 2021, Portland foi rebaixada da terceira para a 66ª entre as 80 cidades mais desejáveis para investidores e incorporadores em potencial - o resultado direto dos danos à reputação que a cidade sofreu no último ano e meio. Embora os distúrbios que abalaram Stumptown em 2020 tenham ficado em sua maioria restritos a alguns quarteirões ao redor do Tribunal do Condado de Multnomah no centro da cidade, suas consequências são sentidas em toda a cidade - e além dela.
As manifestações em grande escala começaram a diminuir no final de agosto, mas somente depois de meses de cobertura intensa na mídia nacional e de uma quantidade incalculável de danos econômicos. (As primeiras quatro semanas de tumultos custaram à cidade cerca de US$ 30 milhões.)
Ao mesmo tempo, a força policial parcialmente esgotada e totalmente desmoralizada de Portland parece incapaz de evitar o vandalismo e a destruição que um grupo menor de determinados anarquistas Antifa continuou a realizar nos meses que se seguiram. A cidade é tomada por uma sensação de desamparo - como se a desordem e o colapso fossem inevitáveis.
Esses acontecimentos recentes passaram quase sempre despercebidos na mídia nacional. O flerte de Portland com a violência política recebeu ampla cobertura no verão de 2020, mas a mídia em grande parte perdeu o interesse nos destroços que os motins do Black Lives Matter deixaram em seu rastro.
O declínio não gera manchetes atraentes: é um processo lento e irregular, mais como um suspiro do que um estrondo.
Mais do que tudo, a Portland de hoje é um lugar triste; mesmo deixando de lado os tiroteios, roubos e arrombamentos à noite, basta vislumbrar as lojas fechadas com tábuas e os outrora belos passeios ao longo do rio cobertos por acampamentos de desabrigados, sentir o cheiro de maconha barata ou testemunhar os doentes mentais transientes vagando por ruas vazias em bairros outrora vibrantes para sentir a tristeza disso.
Em outras palavras, esta é a face de uma cidade decadente. "Se você for ao centro, é uma cidade fantasma, exceto pelos zumbis que andam empurrando carrinhos porque não têm outro lugar para ir", disse Rogers. "Não há sinais de vida, exceto por esses drogados - eles são as únicas pessoas que a ocupam. Não há mais negócios reais sendo feitos no centro da cidade."
A coisa mais trágica sobre o triste destino de Portland é o quão evitável isso era. O declínio da cidade é uma decisão política - ou mais especificamente, uma série de decisões políticas, dirigidas às classes trabalhadoras e médias por grupos ativistas poderosos e políticos irresponsáveis isolados das consequências no mundo real de sua aquiescência.
Na explosão de fervor ideológico utópico que varreu a cidade em 2020, Portland cortou seu orçamento policial em US$ 15 milhões, dissolveu três de suas unidades - policiamento em escolas públicas, policiamento no TriMet (o sistema de ônibus e trem) e a Equipe de Redução de Violência Armada - e eliminou oito das posições da Equipe de Reação de Emergência Especial.
Quando as consequências previsíveis dessas políticas levaram a demissões em massa no Departamento de Polícia de Portland, o governo da cidade se esforçou para restaurar os fundos que havia cortado um ano antes, mas a mudança de opinião chegou tarde demais e foi insuficiente.
Em meio à pior escassez de pessoal em décadas, o Departamento de Polícia de Portland (PPB) não consegue mais encontrar oficiais para contratar; Atualmente, Portland tem menos policiais nas ruas do que em qualquer momento nas últimas três décadas. Um dos inúmeros policiais que estão deixando a cidade deu uma declaração contundente em uma entrevista: "A única diferença entre o PPB e o Titanic? Espreguiçadeiras e uma banda."
Há uma sensação de que as autoridades municipais perderam o controle das forças que desencadearam no verão de 2020. O prefeito Ted Wheeler inicialmente defendeu os protestos do BLM, e de fato os exaltou como parte da "orgulhosa tradição progressista" de Portland. Em uma carta aberta em resposta à oferta do então presidente Trump de enviar agentes policiais federais para proteger a cidade no final de agosto de 2020, Wheeler escreveu: "Em nome da cidade de Portland: Não, obrigado. Não precisamos de sua política de divisão e demagogia. Os portlanders estão de olho em você."
Hoje, Wheeler, com uma aparência exausta, está adotando um tom totalmente diferente: ele declarou estado de emergência em abril e disse que era hora de "desmascarar" os Antifa e "fazê-los sofrer um pouco". Mas o que Wheeler não consegue entender é que ele não está mais no comando. O próprio prefeito tem sido alvo de repetidos ataques de militantes locais e foi forçado a se mudar de seu apartamento quando manifestantes atearam fogo no saguão do prédio.
A impressão é de que incendiários e saqueadores estão zombando das autoridades da cidade: quando a cerca de três metros ao redor do tribunal do centro da cidade foi removida em março, cerca de 100 incendiários vestidos de preto levaram menos de sete horas para quebrar suas janelas e incendiar o local novamente. A cerca voltou a ser instalada dois dias depois.
Eu fui criado na Rose City, e eu sempre a amarei muito, mas essa não é mais a cidade em que cresci. A Portland contemporânea é uma cidade de sonhos adiados; está cheia de pessoas como Dylan Rogers, um garoto de Portland que já foi sem-teto por duas vezes e que construiu um negócio do nada, viu-o destruído em questão de meses e agora não consegue encontrar um trabalho que pague mais de US$ 20 por hora - mesmo quando pedintes nas ruas arrecadam mais de US$ 150 por dia.
Agora, em seu tempo livre, Rogers trabalha com crianças com deficiência. "Isso é divertido para mim", disse ele. "É importante para mim ajudar essas crianças. Porque o Papai Noel deve viver mais do que nós permitimos. Mas esta cidade - esta cidade destrói o Papai Noel cedo."
A Portland de hoje é só uma lembrança do que era antigamente. O custo total do colapso social não pode ser medido nas taxas de criminalidade - a desordem cívica é um mal-estar espiritual. É o ressentimento latente que vem por saber que você pode trabalhar duro, seguir as regras e ainda ser esmagado por forças além de seu controle. É a inversão do certo e do errado, onde os criminosos são tratados com simpatia e as vítimas são retratadas como vilões, onde as calçadas que se estendem por quarteirões são simplesmente cedidas a fileiras de tendas de sem-teto.
E nesse tempo todo, a classe política de Portland brinca.
©2021 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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