Artigo
Fantasma de Chávez assombra seus seguidores
Eduardo Saldanha, coordenador do curso de direito da FAE
O fantasma de Hugo Chávez assombra Nicolás Maduro.
No enfrentamento da atual crise, Maduro não encontrou, como em outros momentos, sustentação na esperança impulsionada pela retórica e pelo carisma de um líder popular, o que ele já mostrou não ser.
Maduro usou e abusou da imagem daquele que sempre foi o seu grande apoio, Hugo Chávez.
Entretanto, todas as tentativas de comparação somente mostraram ainda mais a falta de carisma de Maduro e a falência do Estado venezuelano, fazendo com que a imagem de Chávez deixasse de ser um trunfo.
Frente a esse cenário, Maduro não consegue emplacar um discurso messiânico ao estilo Chávez a fim de angariar apoio popular. E, sem o apoio popular, aos poucos o apoio político também irá se diluir.
Resultado disso tudo? O que não se consegue por amor, muitas vezes só é possível pela dor. Maduro está esgotando todas as suas alternativas e, aparentemente, o cenário tem se mostrado cada vez mais irreversível. A perda de apoio político aumentará o espaço para o crescimento da oposição.
Assim, sem apoio e assombrado por aquele que ele gostaria de ser mas não consegue, aumenta a possibilidade de uma escalada, não da violência popular, mas da reação violenta do governo na busca pela manutenção do poder que não é mais possível por meio do convencimento, tal qual nos tempos de Chávez.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, convocou ontem uma nova marcha "pela paz e contra o fascismo" que deve ir às ruas hoje. Diante das tensões, como os protestos de quarta-feira que deixaram três mortos, ele disse que seu país "não é a Ucrânia" ao se referir a um suposto plano para derrubar seu governo.
"Está sendo convocada uma grande marcha para todas as forças sociais e políticas da revolução bolivariana pela paz e contra o fascismo, portanto, eu me junto à convocação, no sábado todo o povo de Caracas, vamos fazer a passeata contra o fascismo, contra a violência, contra o golpismo", disse Maduro.
O presidente fez essas declarações durante uma reunião com seu gabinete ministerial que foi transmitida em rede nacional obrigatória de rádio e televisão, na qual afirmou que os incidentes de violência de quinta-feira fazem parte de um plano de um grupo de oposição e o responsabilizou pelas mortes e pelos mais de 60 feridos.
Maduro comparou esse suposto plano que, segundo ele, tem como fim derrubá-lo com os incidentes violentos na Ucrânia e que terminaram com a renúncia do premiê Mikola Azarov, o que ele garantiu que não vai acontecer na Venezuela.
"Na Ucrânia aconteceram eventos muito graves, a Venezuela não é a Ucrânia, nosso povo é outro povo, nossas Forças Armadas são outras Forças Armadas, a história é outra, aqui estamos fazendo uma revolução, com todo o respeito que temos pelo povo e pelo governo da Ucrânia", disse.
Maduro afirmou que "por trás dos movimentos ucranianos estão os mesmos grupos que financiam e treinam essa gente", que querem tirá-lo do governo, "organizações americanas que vivem de sua política imperialista de se infiltrar e controlar o mundo".
UE e EUA pedem diálogo pacífico e liberdade
A Alta Representante da União Europeia (UE) para a Política Externa, Catherine Ashton, expressou hoje sua preocupação pela situação da Venezuela e pediu às partes que desenvolvam um "diálogo pacífico".
Liberdade
Ashton ressaltou que a "liberdade de expressão e o direito à participação em manifestações pacíficas são essenciais", segundo indicou seu porta-voz mediante um comunicado.
O Departamento de Estado dos EUA realizou pedido semelhante, para que respeite as liberdades de reunião e expressão.
Esperança
"Esperamos que as partes evitem a violência e resolvam suas diferenças através do diálogo. Pedimos ao governo da Venezuela que respeite os direitos humanos de seu povo", afirmou um funcionário não identificado.
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