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A vergonhosa coletiva de imprensa de Trump em Helsinque

Presidente dos EUA, Donald Trump, em coletiva de imprensa com o presidente da Rússia, Vladimir Putin | Chris RatcliffeBloomberg
Presidente dos EUA, Donald Trump, em coletiva de imprensa com o presidente da Rússia, Vladimir Putin (Foto: Chris RatcliffeBloomberg)

Na segunda-feira (16) o presidente dos EUA, Donald Trump, deu uma coletiva de imprensa profundamente vergonhosa ao lado do ditador russo Vladimir Putin. Trump começou anunciando que, embora a relação Rússia-EUA "nunca tenha sido pior do que é agora", tudo isso "mudou a partir de quatro horas atrás". A partir daí, a coisa foi ladeira abaixo. Trump disse que considerou "os dois países responsáveis" pela deterioração do relacionamento e depois apoiou o argumento de Putin de que a Rússia não havia interferido na eleição americana de forma alguma: "Eu aceito o que disse o presidente Putin, ele disse que não é a Rússia. Vou dizer isso: não vejo nenhum motivo para acreditar que seria... Eu tenho confiança em ambas as partes”. 

Ambas as partes. Uma parte é um ditador assassino e a outra a comunidade de inteligência que trabalha para ele. 

Tudo isso é nojento, é claro. 

Isso não significa, como os democratas sugeriram, que Trump está na cama com os russos. Muito mais provavelmente, significa que o ego de Trump é uma ferida aberta gigante, constantemente fluindo raiva sobre a sugestão de que sua vitória nas eleições de 2016 tenha sido, de alguma forma, inválida. À recusa do ex-diretor do FBI James Comey em liberá-lo publicamente da investigação do conluio, Trump respondeu atacando-o; agora ele respondeu à acusação da investigação de Mueller sobre 12 hackers do governo russo declarando que Putin poderia ser inocente, afinal. Isso não se trata de uma trama nefasta, mas sim do ridículo problema do ego de Trump. 

Nada disso serve como justificativa para o comportamento de Trump, é claro. Mas explica por que muitas coisas que Trump diz não importam. 

Mais de um ano atrás, escrevi que os americanos estavam começando a aprender a lidar com Trump. "Muitos americanos têm tratado Trump como alguém a ser ignorado, exceto quando ele os incomoda — uma abordagem que parece bastante razoável neste momento", sugeri. Mas a retórica de Trump pode fazer a diferença em relação à política externa? Na revista New Republic, o jornalista Jeet Heer criticou a ideia de que não poderia, afirmando que "a própria natureza do nosso mundo moderno e a supremacia dos Estados Unidos tornam impossível descartar a palavra de um presidente americano". 

Mas isso é obviamente falso. O resto do mundo já descartou a verborragia de Trump em várias ocasiões. Na semana passada, por exemplo, ele atacou a OTAN. De acordo com o Wall Street Journal, ele até disse aos membros da organização que "faria o que quisesse" se eles não aumentassem seus gastos militares. Qual foi o resultado? Nenhum. Os líderes da OTAN rapidamente se juntaram para declarar que a OTAN estava mais forte do que nunca, ignorando a pirotecnia de Trump. Eles devem ter imaginado, corretamente, que o establishment de segurança nacional de Trump não iria facilitar uma retirada dos EUA da OTAN e que, se eles lhe dessem algum tipo de vitória retórica, ele voltaria a assistir Shark Week (programa da Discovery Channel sobre tubarões). 

Quando se trata de comércio, no entanto, as palavras de Trump são importantes porque são apoiadas por políticas. A birra do presidente norte-americano no G-7 teve consequências reais para a política americana, porque ele imediatamente usou seu poder executivo para lançar tarifas em vários aliados americanos. 

Então, a política de Trump para a Rússia é mais parecida com a abordagem adotada com a OTAN ou com o G-7? Putin provavelmente acha que é mais com a OTAN: se ele invadisse a Lituânia de repente, não poderia confiar que Trump não faria nada.

A Kremlinologia da administração Trump, em outras palavras, não é a mesma da administração Obama. Os republicanos ficavam constantemente enfurecidos com as palavras de Obama porque sua suavidade era constantemente apoiada por políticas — o governo do democrata e ele próprio não eram duas entidades separadas. O mesmo não pode se dizer sobre Trump, cuja administração opera independentemente do presidente em vários níveis. 

Novamente, isso não é uma defesa de Trump, mas é um argumento de que o pânico induzido por seu palavreado deve ser ponderado, sabendo-se que ele diz muitas coisas e que os membros de sua própria administração ignoram a maior parte quando chega a hora de implementar uma política. 

Eles sabem disso, Putin sabe disso, e a imprensa sabe disso. Apenas Trump parece alegremente inconsciente da desconexão entre o absurdo que ele fala e a política que sua administração promulga. Nesse caso, é melhor que essa desconexão exista.

*Ben Shapiro é editor-chefe do Daily Wire.

©2018 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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