O Hamas, grupo que controla a Faixa de Gaza, continua recrutando crianças e adolescentes para acampamentos de verão em que são oferecidos treinamentos de combate, denunciam organizações.
Esses acampamentos, a maioria coordenada pelo Hamas e a Jihad Islâmica Palestina, oferecem "treinamento militar, como práticas com facas e armas de fogo (ocasionalmente com munição real); combate físico; marchas, percursos de obstáculos e combate em túneis", relata o Instituto de Pesquisa de Mídia do Oriente Médio (Memri).
Segundo o Memri, esses treinamentos ocorrem há uma década. Os acampamentos desse ano tiveram início nesta semana, diz o instituto, que ao longo dos anos tem publicado relatos e vídeos que documentam as atividades nesses locais.
"Eles começam a ser doutrinados com uma ideologia da resistência islâmica e da história do conflito pela narrativa deles", diz André Lajst, cientista político e diretor-executivo da ONG StandWithUs Brasil, uma organização internacional de educação sobre Israel. Ele explica que a visão que as crianças locais têm de um combatente do Hamas é a de um herói nacional, assim como os bombeiros são vistos em muitas regiões.
O treinamento é oferecido gratuitamente para as crianças e adolescentes, e eventualmente também pode ser oferecido um benefício à família. Como não há muitas opções para os jovens em Gaza, os treinamentos passam a fazer parte da rotina de muitos deles, explica Lajst. "Depois de um tempo, eles começam a fazer trabalhos específicos do Hamas. Muitas crianças vão trabalhar com 13 ou 14 anos em túneis, eventualmente em projetos de construção de mísseis. Isso faz com que eles se tornem terroristas, quando ainda são crianças [de acordo com classificação da ONU]", diz. Aqueles que se mostram mais aptos passariam então para o treinamento de combate.
Esses treinamentos passaram a ser desenvolvidos principalmente depois que o Hamas tomou o poder na Faixa de Gaza, em 2007, diz o cientista político. "Antes existia muita doutrinação, mas quando eles consolidam o poder na Faixa de Gaza, isso começa a ser muito mais conhecido, porque o Hamas muda um pouco o seu formato. De um grupo de resistência, eles se transformam em governo e começam a criar unidades paramilitares", diz.
O recrutamento para este ano ocorreu entre 14 e 18 de junho, segundo o Memri. O acampamento deste ano tem o nome de "Espada de Jerusalém", que é o nome dado pelo Hamas aos recentes conflitos com Israel. O objetivo dos acampamentos, segundo o grupo de Telegram das Brigadas Izz Al-Din Al-Qassam, é "atiçar as chamas da jihad entre a geração da libertação, incutir valores islâmicos e preparar o exército tão esperado para a libertação da Palestina", segundo noticiou o Memri.
Além da falta de oportunidades para os jovens em Gaza, muitos deles acabam sendo atraídos pela visão que têm dos combatentes do Hamas. "Nessa região do Oriente Médio, exercer força acaba ganhando prestígio moral", explica Lajst. "Eles são vistos como os todo-poderosos que enfrentam os maiores exércitos da região e um dos maiores do mundo".
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