Entrevista
"O que está ocorrendo na Turquia é uma explosão social"
O que está acontecendo na Turquia?
Não é uma Primavera Turca, como tem sido afirmado por aí. O termo correto talvez seja uma explosão social turca. A violência da repressão policial aos protestos contra a reforma no Parque Gezi acabou reunindo ambientalistas, esquerdistas, kemalistas, grupos LGBT, curdos e anarquistas. E não eram grupos originalmente unidos; kemalistas e esquerdistas, historicamente, sempre se estranharam. A expressão Revolução das Árvores, usada por alguns jornais, é muito bonita, mas acho que o movimento é mais bem definido pelo termo explosão social.
A reforma do Parque Gezi foi o estopim, mas o movimento não se resume a isso. O que há por trás de tanta revolta?
Nos últimos meses, houve dois casos de truculência policial na Turquia: na Middle East Technical University, em Ancara, e no 10 de Maio. Além disso, a grande imprensa não vinha noticiando casos de corrupção, em um sinal de interferência do governo. A Turquia é o país com o maior número de jornalistas presos no mundo. Some-se a isso o que vem sendo visto como islamização: a declaração de Erdogan de que as mulheres deveriam ter três filhos; a restrição à venda de bebidas alcoólicas; o cerceamento do ato de beijar em público, o que levou a um beijaço em Ancara. Os seculares estão bastante incomodados com isso. Os esquerdistas, por sua vez, estão irritados com o que veem como um neoliberalismo do governo.
Monique Sochaczewski Goldfeld, historiadora brasileira, especialista em Turquia.
Agência O Globo
A polícia turca e manifestantes voltaram a se confrontar ontem na Praça Taksim, em Istambul. Na ação, a tropa de choque usou gás lacrimogêneo e jatos dágua. A nova incursão da polícia na praça marca o agravamento dos conflitos entre forças do governo e manifestantes, que ocupam o local desde o começo do mês.
As forças antidistúrbios, que atuaram no local há uma semana, ocuparam a praça pela manhã, em ação que desencadeou confronto de mais seis horas com grupos de manifestantes.
Horas depois da primeira ação policial, agentes derrubaram várias barracas de comércio de rua, enquanto os manifestantes fugiam.
No fim da tarde, contudo, vários cidadãos decidiram retornar à praça para mostrar apoio aos manifestantes, que se encontram no local desde o dia 1.º de junho.
Enquanto milhares de pessoas enchiam a praça, agitando bandeiras e gritando palavras de ordem contra o governo, a polícia continuou enfrentando os manifestantes na periferia de Istambul.
Até o fechamento desta edição não havia informações oficiais sobre feridos, mas a Associação Médica da Turquia informou que 5 mil pessoas foram feridas e três morreram desde o começo dos protestos. Mais cedo, o governo anunciou que estava disposto a negociar com os manifestantes.
A polícia alegou que não iria desmontar o acampamento dos manifestantes no adjacente Parque Gezi, mas disse que pretendia limpar a praça e seus arredores.
Embora os agentes tenham conseguido remover os cartazes do monumento central, centenas de pessoas concentradas no restante da praça armaram novas barricadas e passaram a confontar os agentes.
A intervenção policial ocorreu poucas horas depois de o governo anunciar a intenção de discutir as reivindicações ambientais dos manifestantes.
A Plataforma de Solidariedade com Taksim, surgida para proteger o Parque Gezi de um projeto urbanístico e uma remodelação, convocou apoiadores dos protestos antigovernamentais a comparecer novamente à área verde e à praça.
O grupo afirmou que as autoridades ainda não atenderam a nenhuma de suas reivindicações, como assegurar que o parque será respeitado, a libertação dos detidos nas duas semanas de protestos e a acusação dos responsáveis da violência policial.
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