A distribuição desigual das vacinas contra Covid-19, que afeta especialmente os países africanos, é um dos temas centrais dos discursos da Assembleia Geral das Nações Unidas, que está sendo realizada esta semana em Nova Iorque. Nesta quinta-feira (23), o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, mencionou em seu pronunciamento que mais de 82% das doses de imunizantes foram adquiridas por países ricos e menos de 1% enviadas para países de baixa renda.
Ele pregou a necessidade de uma renúncia temporária de algumas disposições do Acordo sobre Aspectos Relacionados ao Comércio dos Direitos de Propriedade Intelectual, o que permitiria a países pobres produzir vacinas. “Precisamos nos preparar agora para futuras pandemias e trabalhar com maior determinação rumo à meta de cobertura universal de saúde”, argumentou Ramaphosa.
Na sua fala à Assembleia Geral, Samia Suluhu Hassan, presidente da Tanzânia, citou que cerca de 71 milhões de pessoas em todo o mundo que saíram da pobreza extrema devem retornar a essa condição por conta da pandemia.
“É verdadeiramente desanimador ver que, enquanto a maioria dos nossos países vacinou menos de 2% da população e, portanto, procura mais vacinas para o nosso povo, outros países estão prestes a aplicar a terceira dose, chamando-a de dose de reforço”, lamentou a presidente. Segundo a OMS, apenas 15% das doses prometidas por países ricos aos países em desenvolvimento foram entregues.
Na quarta-feira (22), a Anistia Internacional divulgou um relatório que apontou que seis dos principais fabricantes de imunizantes utilizados na vacinação contra a Covid-19, AstraZeneca, BioNTech, Johnson & Johnson, Moderna, Novavax e Pfizer, se recusaram a participar de iniciativas para aumentar o fornecimento global de vacinas.
O estudo apontou que menos de 1% das pessoas em países de baixa renda estão totalmente vacinadas, enquanto o índice é de 55% nos países ricos. “Embora os desenvolvedores de vacinas afirmem respeitar os direitos humanos, todos eles - em diferentes níveis – têm deixado de cumprir com suas responsabilidades”, destacou a Anistia Internacional.
“As empresas têm causado danos aos direitos humanos por meio de suas decisões de não compartilhar propriedade intelectual e tecnologia e contribuído para as violações dos direitos à vida e à saúde ao repetidamente vender a maior parte de seu escasso estoque para países mais ricos, muitas vezes com lucro significativo”, criticou.
Na quarta-feira, o presidente americano, Joe Biden, anunciou que os Estados Unidos vão comprar mais 500 milhões de doses da vacina da Pfizer para doação a países de baixa e média renda. O país já havia se comprometido anteriormente a doar outras 600 milhões de doses.
Em seguida, Japão e Itália também anunciaram uma revisão na quantia de doses que pretendem adquirir para envio a países pobres – agora serão 60 milhões e 45 milhões, respectivamente. Na terça-feira (21), a China havia anunciado a doação de 100 milhões de doses a outros países.
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