O anúncio da agência espacial americana desta segunda-feira (28) apresenta as mais fortes evidências já descobertas sobre a presença de água em estado líquido na superfície de Marte. O achado pode mudar a concepção que a Humanidade tinha sobre a geologia do Planeta Vermelho, mas, sobretudo, alimenta as especulações sobre a existência de vida fora da Terra.
“A água é essencial para a vida. Na Terra, qualquer lugar que tenha água, existe vida microbial. Como o objetivo principal das agências espaciais é tentar compreender a possibilidade de surgimento da vida fora da Terra, achar água é fundamental nesta busca”, diz Nilton Rennó, pesquisador brasileiro da Universidade de Michigan e coautor de estudos que demostraram evidências de água líquida em Marte.
Em 2008, imagens capturadas espaçonave Phoenix mostraram, em uma das hastes, pequenas gotículas de água. A explicação seria que, durante o pouso, uma lama salina teria se fixado na espaçonave e, com a absorção de vapor d’água da atmosfera, formado as gotas.
Em abril deste ano, Rennó participou de outro estudo, que indica a possibilidade de formação de água líquida na cratera Gale por causa da presença do perclorato, sal que diminui o ponto de congelamento da água.
“Na Phoenix, a comunidade científica aceita se tratar de água líquida, mas existe a discussão de que a água só se formou por causa da espaçonave”, explica Rennó. “Mas, para mim, o anúncio da descoberta de água líquida em Marte não é novidade”.
Para o pesquisador, o anúncio desta segunda-feira mostra “evidências circunstanciais”. Ainda não foi visto água correndo ou jorrando pela superfície de Marte. O que estudo traz de novo é indicar que formações geológicas, no caso valas ao longo de montanhas e crateras, possuem sais hidratados.
“Nós já sabíamos que o percloreto é distribuído globalmente”, diz Rennó. “É uma evidência forte, mas nós só vamos ter comprovação quando formos lá e tocarmos na água”.