Num clima de escalada de tensões no Afeganistão, com o Talibã pressionando cada vez mais militarmente o governo do presidente Hamid Karzai, forças de segurança abriram fogo contra manifestantes em Cabul após um acidente de trânsito em que um caminhão desgovernado do Exército americano bateu em mais de dez veículos, matando cinco pessoas. Pelo menos outras oito morreram e 107 ficaram feridas nos distúrbios que se seguiram - os piores na capital desde a queda do regime talibã em 2001 - classificados por Karzai de obra dos "inimigos do Afeganistão".
O caminhão fazia parte de um comboio militar que passava pelos subúrbios do norte de Cabul na hora do rush matinal. Depois do acidente, uma multidão furiosa lançou pedras e quebrou os vidros dos veículos do comboio. Na confusão que se seguiu, tiros foram disparados contra a turba, mas não ficou claro se por parte dos militares americanos ou dos policiais afegãos que acorreram em sua ajuda. Testemunhas acusam tanto uns quanto outros de terem aberto fogo. Um delegado de Cabul disse que um dos mortos foi atingido por balas disparadas por soldados americanos. Já o coronel Thomas Collins, porta-voz da coalizão estrangeira, afirmou que os militares dispararam sobre a multidão e não contra ela. Nenhum soldado dos EUA ficou ferido.
Da cena do acidente, os distúrbios se espalharam pela cidade. Gritando "morte aos Estados Unidos", "morte a Karzai" e "morte à polícia", mais de dois mil manifestantes se dirigiram ao Parlamento e ao palácio presidencial, destruíram cabines e queimaram carros da polícia, além de espancarem cinegrafistas. Lojas e prédios foram saqueados, inclusive um que abrigava a ONG internacional de assistência Care. Um grupo de manifestantes conseguiu romper o bloqueio policial e chegar perto do complexo onde fica a Embaixada dos EUA, mas foi depois retirado pelas forças de segurança.
- Não aceitamos mais Karzai como presidente. Estamos nos manifestando contra ele: morte a Karzai - afirmou Jaweed Agha, um dos manifestantes.
Para conter os distúrbios, o toque de recolher foi implantado na capital das 22h às 4h. Num pronunciamento pela TV, o presidente advertiu que tomaria "medidas fortes" contra os responsáveis pela confusão, acusados por ele de serem "oportunistas e agitadores" que aproveitaram um acidente de trânsito envolvendo forças estrangeiras para semear o caos e a destruição.
- Acidentes de trânsito ocorrem em todas as partes do mundo e muita gente perde a vida neles, mas não devem ser utilizados como desculpa para destruir o país - disse um Karzai visivelmente aborrecido, que pediu calma ao país. - Meu desejo é que meus compatriotas confrontem seriamente esses elementos onde quer que os encontrem e não permitam que destruam nosso lar de novo.
Ao cair da noite, a violência diminuiu, mas ainda continuou em menor escala em áreas próximas ao local do acidente. Karzai ordenou uma investigação e afirmou que se for verificada a culpa do motorista americano, pedirá que ele seja entregue às autoridades afegãs para julgamento. O Exército americano, no entanto, culpou uma falha mecânica no caminhão pelo acidente.
Os EUA mantêm 23 mil militares no Afeganistão.A força de paz liderada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) mantém mais de nove mil militares no país, a maior parte deles em Cabul e no norte e no oeste do território afegão, regiões menos conflituosas.
A missão está se expandindo agora para o sul, uma área mais instável e onde atua a insurgência inspirada pelo Talibã.
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