Placa de trânsito sinaliza direção da embaixada norte-americana em Jerusalém| Foto: THOMAS COEX/AFP

O presidente Donald Trump tem dito, orgulhosamente, ao público, que ele está cumprindo uma promessa de campanha com a abertura da embaixada americana em Jerusalém e que seu conhecimento sobre o mercado imobiliário está ajudando a economizar um dinheirinho para os contribuintes com a instalação da unidade no novo local. 

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Mas o presidente não disse nada sobre outra promessa de campanha: a busca de um acordo de paz entre israelenses e palestinos, ou o fato de que a primeira promessa tem, no mínimo, fechado as portas para a segunda. 

Uma iniciativa de paz liderada pelo assessor presidencial e genro, Jared Kushner, foi arquivada por causa da raiva palestina devido à mudança em décadas da política americana relacionada à embaixada, que sustentava que o status disputado de Jerusalém era um tema a ser resolvido durante as negociações. 

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Manter a embaixada em Tel Aviv era um sinal de que os Estados Unidos não iria fazer pré-julgamentos a respeito das reivindicações de palestinos e israelenses relacionadas a territórios na cidade santa. 

Antes do anúncio sobre a embaixada, o plano de paz de Trump era amplamente esperado para ser apresentado ao longo de 2018, com negociações entre palestinos e israelenses na sequência. Trump falou muito no ano passado sobre a chance de se fazer um “último acordo”, na sucessão de outros que foram frustrados. 

Palestinos veem traição

Líderes palestinos apontam que a mudança de sede da embaixada é uma traição e uma abdicação do papel dos Estados Unidos como um parceiro neutro no conflito palestino-israelense. Eles boicotaram encontros com representantes americanos desde que a mudança foi anunciada em dezembro. Nenhum dos representantes americanos que participarão da abertura da embaixada americana nesta segunda – incluindo Kushner e sua esposa Ivanka Trump, devem se encontrar com os líderes palestinos. 

A abertura da embaixada coincide com o aniversário de 70 anos de Israel nesta segunda. 

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Trump não participará do evento, nem o vice-presidente Mike Pence ou o secretário de Estado Mike Pompeo. O secretário-adjunto John Sullivan vai liderar a delegação americana. O baixo perfil dela é um sinal de que a Casa Branca mantem a esperança de uma proposta de paz neste ano, apesar de não haver sinais de progresso. 

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Representantes do governo dos EUA dizem que o plano não está morto e será apresentado na hora certa. Trump mal o mencionou publicamente nos últimos meses, contudo o tema esteve na agenda da conversa que teve com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, quando este visitou a Casa Branca no começo de março. 

“Seria uma grande conquista”, disse Trump então. “Será um grande acordo e sob o ponto de vista humanitário, que bom seria se pudéssemos fazer a paz entre palestinos e israelenses. E posso dizer que estamos trabalhando arduamente nesse sentido. E acho que temos uma boa chance.” 

Trump vê ousadia

Trump cita que a mudança da embaixada é um exemplo de seu estilo de liderança mais ousado. “Os Estados Unidos estão sendo respeitados novamente. É um jogo de bola diferente”, disse o presidente durante um comício.  “Após promessas de muitas administrações e muitos presidentes, e eles nunca fizeram nada para cumprir a promessa, finalmente estaremos abrindo a embaixada israelense em Jerusalém.” 

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Outros representantes do governo americano apontam que a decisão de mudar a embaixada de cidade segue o senso comum de que Jerusalém é realmente a capital de Israel e será mantida em qualquer negociação que houver. Apesar das críticas da Europa e de países muçulmanos, a Casa Branca justifica que a decisão sobre a embaixada poderia ajudar mais os planos de paz do que prejudicá-los. 

O argumento causou surpresa ao ex-embaixador de Israel durante o governo Obama. Dan Shapiro escreveu em uma coluna para a CNN.com que a quebra deste tabu é útil por si só e contribui para levar a resolução do conflito às suas origens.  “As Nações Unidas entenderam, em 1947, que a solução do conflito exigia e a criação de dois Estados, o que significa que, hoje, árabes e judeus precisam compartilhar território”, destacou Shapiro. 

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Nenhum país tem embaixadas em Jerusalém. Algumas funcionaram na cidade até os anos 80. Na quarta, a Guatemala abrirá sua embaixada em Jerusalém, seguindo o exemplo americano. 

Segundo o embaixador americano em Israel, David Friedman, o conflito não está perto de uma solução ao se completar 70 anos de história de Israel e 51 anos desde que Israel ocupou Jerusalém Oriental e a Cisjordânia, após a Guerra dos Seis Dias. 

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“Uma das coisas que pensamos ser importante é olhar para os diferentes pontos e olhar como podemos ajustá-los para criar uma dinâmica melhor para a paz”, disse o diplomata. 

“O que o presidente Trump disse é que os palestinos vetam o reconhecimento de Israel como capital de Israel”, afirmou Friedman. 

Solicitação de boicote

O negociador palestino Saeb Etekat acusou a administração Trump de violar leis internacionais e os compromissos para o processo de paz. “Como Washington adota uma política de encorajamento da anarquia internacional e desrespeito às organizações e leis internacionais, nós sugerimos que diplomatas, organizações da sociedade civil e autoridades religiosas que boicotassem a cerimônia de inauguração da embaixada.” 

Segundo Erekat, comparecer à cerimônia significa legitimar uma decisão ilegal e as contínuas políticas israelenses de ocupação, colonização e anexação. 

Friedman disse que diplomatas de outros países não foram convidados à solenidade, “então seria incorreto dizer que outros países recusaram o nosso convite, porque, simplesmente, não os enviamos.” Alguns diplomatas europeus e de outros países rejeitaram a participação em um evento paralelo, realizado pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel. 

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Jeremy Bem-Ami, o líder da J Street, um movimento americano que defende a solução de dois Estados, disse que a mudança de local da embaixada é um ato suicida que bloqueia a realização de um acordo na magnitude e complexidade que Trump deseja. 

“A credibilidade deste governo como um potencial parceiro está quebrada e é irreparável”, disse. “Se for colocada alguma espécie de proposta, o que se pode esperar é o recompilado dos pontos desejados pela direita israelense – são propostas veiculadas em Israel por algum tempo, mas que não são aceitáveis pelos representantes palestinos.” 

Pedido para negociações

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, convocou os palestinos a voltarem à mesa de negociações, mas não se encontrou com eles quando visitou Israel, no mês passado. 

Ele parece estar posicionando o Departamento de Estado para retomar um papel de liderança mais tradicional no Oriente Médio, particularmente em relação ao processo de paz. A ação de Kushner na região é menor do que no ano passado, apesar dele e o negociador americano, Jason Grenblatt, terem, recentemente, organizado uma grande conferência regional na Casa Branca sobre a crise humanitária na Faixa de Gaza. 

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Pompeo também visitou a Arábia Saudita e a Jordânia em sua primeira viagem. Em Amã, o ministro jordaniano das Relações Exteriores, Ayman Safadi, sinalizou que se país considera o conflito entre israelense e palestino como a principal causa de instabilidade na região. Segundo ele, a menta é a existência de um estado palestino soberano e independente, com Jerusalém Oriental como capital. Esta é a exigência principal dos palestinos em um acordo. 

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“A solução de dois estados permanece como o único caminho que pode assegurar a paz”, disse Safadi. 

Pompeo argumentou dizendo que os Estados Unidos não estava tomando nenhuma decisão final sobre fronteiras e disse que seu país apoia uma solução de dois Estados, desde que as duas partes concordem com isso. 

Muitos israelenses estão encantados com a mudança da embaixada, a qual Netanyahu qualifica com endosso de sua administração das relações entre Israel e os Estados Unidos.  Na semana passada, o prefeito de Jerusalém, Nir Barkat, autorizou a colocação das primeiras placas de sinalização em hebreu, árabe e inglês, mostrando a localização da embaixada israelense. 

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“Não é um sonho, é uma realidade”, afirmou Barkat por meio de um comunicado. “Eu agradeço o presidente Trump por este momento histórico. Jerusalém é a capital eterna do povo judeu e o mundo está começando a reconhecer este fato.”