Belfast Líderes católicos e protestantes da Irlanda do Norte, arquiinimigos durante décadas de derramamento de sangue, tomaram posse ontem em um novo governo com divisão de poderes na província britânica.
Com a posse do governo de coalizão e da Assembléia local, de 108 cadeiras, a província passa a ter autonomia limitada, para legislar sobre questões internas como agricultura, educação e saúde. A autonomia foi prometida no Acordo da Sexta-Feira Santa, assinado em 1998 entre os líderes das facções locais e o governo britânico.
O acordo apontado como uma das principais conquistas do primeiro-ministro Tony Blair, no poder desde 1997 pôs fim a 30 anos de confrontos que deixaram cerca de 3.500 mortos. A violência opunha os protestantes, favoráveis ao domínio britânico, aos católicos, defensores da união com a vizinha República da Irlanda, que tornou-se independente do Reino Unido em 1922.
Ontem, o protestante radical Ian Paisley e Martin McGuinness, ex-comandante do IRA (Exército Republicano Irlandês) e seu inimigo histórico, prestaram juramento como primeiro-ministro e vice-primeiro-ministro.
"Do fundo do meu coração posso lhes dizer que acredito que a Irlanda do Norte entrou hoje numa era de paz, uma era em que o ódio deixará de mandar, disse Paisley. "O que estamos presenciando hoje é um dos maiores saltos neste processo de paz em quase 15 anos, disse McGuinness.
Compareceram à cerimônia, os primeiros-ministros da Grã-Bretanha, Tony Blair, e da República da Irlanda, Bertie Ahern, além do senador democrata americano Edward Kennedy, cuja família é de origem irlandesa católica. McGuinness elogiou Blair: "Desde o início, ele envolveu-se emocionalmente e intelectualmente para tentar dar a sua contribuição. E eu creio que deu uma grande contribuição.
Diálogo
O acordo entre os principais partidos protestante e católico, o Partido Democrático Unionista (DUP, de Paisley) e o Sinn Fein, aliado do IRA, foi alcançado em 26 de março. Ao contrário das tentativas anteriores de coalizão, todas frustradas, os líderes desta vez parecem determinados em fazê-la funcionar.