São Paulo - O Brasil foi protagonista de um dos anúncios mais importantes da política internacional esta semana. O país foi um dos três envolvidos no acordo sobre o programa nuclear do Irã, que pode ajudar a romper um impasse de anos envolvendo esse país e as potências internacionais, segundo analistas ouvidos pela Agência Estado. O documento poderia, porém, tratar-se apenas de uma estratégia para Teerã ganhar tempo, enquanto avança para produzir uma bomba nuclear.
"O acordo foi um fato positivo, avançou na negociação", afirma, em entrevista por telefone, o professor de Relações Internacionais José Flávio Sombra Saraiva, da Universidade de Brasília (UnB). "Há uma abertura de um novo tabuleiro de negociações", acredita ele.
O acordo foi firmado entre Irã, Turquia e Brasil. Por esse documento, o país persa se compromete a enviar 1,2 mil quilos de urânio pouco enriquecido ao território turco, recebendo em troca combustível nuclear para seu reator de pesquisas em Teerã. "Certamente, o acordo é um evento que muda os contornos do diálogo entre a comunidade internacional e o Irã", concorda, em entrevista por e-mail, o professor Kai Michael Kenkel, que leciona Relações Internacionais na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Kenkel, porém, faz também uma advertência: "O Irã tem um histórico de manipulação da comunidade internacional sobre esse assunto e qualquer impasse continua a servir essencialmente aos interesses de Teerã, permitindo a continuação do enriquecimento do urânio pelo país."
Potências lideradas pelos Estados Unidos temem que o Irã busque secretamente produzir armas nucleares, o que os iranianos negam. Kenkel lembra que "o assunto crucial de qualquer acordo era a continuação ou não do enriquecimento de urânio pelo Irã o que o acordo negociado por Turquia e Brasil não conseguiu parar". Nesse sentido, a situação de impasse se mantém, avalia o analista.
Pé atrás
O anúncio oficial do acordo ocorreu na segunda-feira. No dia seguinte, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, anunciou que havia consenso entre os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (CS) da ONU EUA, Rússia, China, Grã-Bretanha e França, com poder de veto sobre um rascunho para um novo pacote de sanções ao Irã por seu programa nuclear, que pode ser a quarta rodada de punições ao país no CS. Na quinta-feira, o vice-presidente do Parlamento iraniano, Mohammad Reza Bahonar, disse que o país pode abandonar o acordo de troca de urânio, caso sejam aprovadas novas sanções.
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