Milhares de sírios esperavam, neste sábado (6), que a Turquia abrisse sua fronteira, após aguardarem durante dias sob chuva, e depois de terem sido obrigados a deixar seus lares diante do avanço do exército sobre as localidades rebeldes do norte do país.
A União Europeia recordou à Turquia seu dever de acolher os refugiados, garantido pela Convenção de Genebra, no momento em que o posto fronteiriço de Oncupinar permanecia fechado.
A ONU estima que cerca de 20.000 pessoas esperam em Bab Al-Salama, do lado sírio da fronteira, apesar de que neste sábado o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, disse que seu país segue fiel a sua “política de fronteiras abertas”.
O avanço das tropas de Bashar Al-Assad, apoiadas pela aviação russa e por combatentes do Hezbollah libanês, consolidam progressivamente suas posições ao norte da cidade de Aleppo.
Na noite desta sexta-feira (5), intensos bombardeios que devastaram a localidade de Anadan, controlada pelos rebeldes, permitiram a Damasco apertar o cerco em torno de Aleppo, a grande metrópole do norte do país. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) informou que cerca de 40.000 civis deixaram a província de Aleppo e buscam refúgio na Turquia.
Esta província é um bastião importante para as operações dos rebeldes e, segundo os especialistas, o avanço do governo coloca os insurgentes na pior posição desde o início do conflito.
Depois de ter cortado a principal rota de fornecimento dos rebeldes em Aleppo, o exército começou a sitiar os rebeldes no leste da cidade, onde o OSDH estima que ainda haja 300.000 civis.
A guerra, que começou com um levante em 2011, fragmentou o país, dividido entre as zonas que o governo controla, os territórios nos quais opera o grupo extremista Estado Islâmico (EI) e as localidades sob o comando de outros grupos armados.
Situação dramática
“A situação dos deslocados é dramática”, disse à AFP o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman, em referência a que, após cerca de cinco anos de guerra, quase metade da população tenha sido obrigada a deixar seu lar.
“As famílias dormem nos campos e em tendas, expostas ao frio e sem a presença de nenhuma ONG internacional. Ajudam-se entre si”, explicou. O escritório da Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA) lamentou que o acesso à população que necessita de assistência seja cada vez mais difícil.
Desde segunda-feira, dezenas de milhares de pessoas das seis principais localidades nas mãos dos rebeldes no norte da Síria deixaram seus lares.
Na sexta-feira, muitos sírios refugiados na Turquia se aproximaram do posto de controle de Oncupinar, para terem notícias de seus familiares do outro lado, mas, hoje, a chuva os dissuadiu.
A presença de caminhões que transportavam tendas até um campo de refugiados próximo à fronteira poderia ser um indício de que a Turquia se prepara para abrir a fronteira, no momento em que o país já acolhe cerca de 2,5 milhões de sírios.
O ministro turco das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, reafirmou que seu país segue fiel a sua “política de fronteiras abertas” para os refugiados, sem detalhar quando serão autorizados a entrar os milhares de sírios retidos na fronteira turca.
“Seguimos mantendo esta política de fronteiras abertas para as pessoas que fogem da agressão do regime (sírio) e dos bombardeios russos”, declarou Cavusoglu ao sair de uma reunião com colegas europeus em Amsterdã.
Segundo Cavusoglu, “já acolhemos 5.000, há entre 50.000 e 55.000 que estão a caminho e não podemos deixá-los sozinhos, porque, neste momento, há bombardeios aéreos e as forças do regime operam, com o apoio de milícias xiitas iranianas”.
“Nossas equipes estão prontas para dar a eles água e comida quando chegarem”, declarou Ahme Lutfi Akar, presidente do Crescente Vermelho na Turquia.
Na sexta-feira, o secretário de Estado americano, John Kerry, pediu à Rússia que suspenda os bombardeios, que “matam uma grande quantidade de mulheres e crianças”, e que aplique um cessar-fogo.
Embora Ancara considere absurdas as declarações da Rússia de que a Turquia prepara uma intervenção na Síria, o ministro das Relações Exteriores sírio, Walid Muallem, advertiu a seu vizinho que qualquer ação terrestre “será considerada uma agressão”.
Por sua parte, o general Mohamed Ali Jafari, chefe dos Guardiões da Revolução iranianos, que combatem na Síria para apoiar o governo, afirmou que acredita que a Arábia Saudita “não se atreverá” a mandar suas tropas ao terreno, apesar das declarações emitidas esta semana por um comando militar do reino.
No campo político, o delegado da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, informou aos embaixadores dos 15 países que compõem o Conselho de Segurança que as negociações indiretas entre o governo e alguns grupos de rebeldes foram suspensas até 25 de fevereiro.
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