O homem que confessou ter assassinado a jornalista Daphne Caruana Galizia, em outubro de 2017, foi condenado nesta terça-feira, 23, a 15 anos de prisão, durante julgamento realizado em um tribunal de Malta.
A jornalista, que tinha um blog muito popular, vinha investigando ativamente a relação da classe política de Malta com os Panama Papers e descobriu escândalos de corrupção que atingiram e derrubaram o antigo premiê.
Vincent Muscat, um dos três acusados pelo crime, admitiu durante a audiência as acusações que recebeu, após ter entrado em acordo com o Ministério Público do país pela redução da pena, segundo informou o jornal Times of Malta.
A família da jornalista, em um comunicado publicado no site da fundação que leva o nome da vítima, disse esperar que "esse passo comece a levar à Justiça plena" para esclarecer o que aconteceu com Caruana Galizia, que foi morta por uma bomba em seu carro.
O advogado da família leu a mesma declaração na audiência do tribunal maltês, onde o processo ocorreu momentos depois de Muscat admitir todas as acusações.
Os irmãos George e Alfred Degiorgio também são acusados de instalar e detonar a bomba no carro da jornalista, que investigava a corrupção em seu país no momento de seu assassinato. Todos os três têm antecedentes criminais.
"É uma pessoa que admitiu seu envolvimento no assassinato de Daphne Caruana Galizia, a privou de seu direito à vida e de desfrutar de sua família, incluindo de seus netos, que nasceram após seu assassinato", disse o advogado.
Muscat quebrou a estratégia da defesa dos três suspeitos e admitiu os crimes contra eles, apesar do fato da juíza Edwina Grima o ter alertado para a gravidade da sua declaração.
O homem condenado pediu perdão à acusação no mês passado e, embora tenha sido negado, continuou a cooperar para obter a redução da pena, segundo o Times of Malta, que cita fontes próximas do caso.
Explosão
Caruana Galícia, que tinha 53 anos, foi morta quando uma bomba explodiu seu carro a poucos metros de sua casa, em 16 de outubro de 2017. O ataque chocou a opinião pública no país e causou a renúncia em 2020 do primeiro-ministro maltês Joseph Muscat, a quem a família acusou de permitir a corrupção no país.
No dia 19 de novembro de 2019, o governo de Malta ofereceu perdão presidencial a um homem que afirmava conhecer o autor intelectual do plano e, no dia seguinte, o empresário Yorgen Fenech, um dos mais importantes do país, foi preso por sua suposta ligação com esse crime.
Alguns meios de comunicação e a família da jornalista o apresentam como um possível mentor do assassinato. As audiências sobre as acusações contra ele ainda não começaram.
Foi justamente Caruana Galícia que revelou as ligações entre Fenech e altos políticos malteses. Ela descobriu, em particular, que uma empresa de Dubai, a 17 Black, havia pago € 2 milhões a Keith Schembri, na época chefe de gabinete do primeiro-ministro Joseph Muscat (sem parentesco com Vincent Muscat), e Konrad Mizzi, ministro do Turismo.
O consórcio de jornalistas Projeto Daphne, que retomou suas investigações, revelou que a 17 Black era propriedade de Fenech. A prisão de Fenech levou a uma cascata de renúncias de alto nível na arena política. Muscat anunciou em 1º de dezembro de 2019 que renunciaria quando o Partido Trabalhista nomeasse um sucessor, que acabou sendo Robert Abela, eleito em janeiro de 2020.
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