À medida que os Estados Unidos lidam com uma apuração nacional de alegações de má conduta sexual contra homens poderosos, três mulheres que acusaram o homem de maior destaque na América questionaram novamente na segunda-feira (11) por que as suas alegações não o impediram de se eleger à presidência.
Foi “doloroso” para as mulheres levarem a público as suas acusações contra o presidente Donald Trump no ano passado, apenas para vê-lo ascender à Sala Oval, de acordo com Samantha Holvey, ex-candidata a Miss EUA que disse em outubro de 2016 que Trump inspecionava as participantes do concurso de modo inapropriado.
“Eu me expus para o mundo inteiro e ninguém se importou”, disse Holvey no programa da NBC, “Megyn Kelly Today”, na segunda-feira.
Durante a sua aparição na televisão e em uma coletiva de imprensa, Holvey sentou-se ao lado de Jessica Leads, uma mulher de Nova York que disse que Trump a apalpou durante um voo, e Rachel Crooks, que disse que ele a beijou à força na Trump Tower, para renovarem as suas acusações contra o presidente.
As mulheres também pediram ao Congresso que investigue essas acusações em meio à mudança dramática que está acontecendo em todo o país em resposta às denúncias de má conduta sexual contra homens de Hollywood a Capitol Hill. Denúncias emergiram em diversas indústrias, contra legisladores a estrelas de cinema, com o país mostrando uma disposição repentina e inédita em levar tais acusações a sério.
Trump nega
Trump negou todas as acusações contra ele, que se tornaram públicas após o jornal The Washington Post publicar a gravação do “Access Hollywood” no ano passado, que registrou Trump vangloriando-se de tocar nos genitais de mulheres.
A posição da Casa Branca é que as acusadoras de Trump estão mentindo e que a questão foi resolvida quando ele se elegeu à presidência depois das histórias surgirem.
“Essas alegações falsas, totalmente refutadas na maioria dos casos por depoimentos de testemunhas oculares, foram extensivamente discutidas durante a campanha eleitoral no ano passado, e o povo americano expressou o seu julgamento ao proporcionar uma vitória decisiva”, disse a Casa Branca em nota na segunda-feira. “O momento oportuno e o caráter absurdo dessas acusações falsas dizem muito, e o giro de publicidade que elas iniciaram confirma ainda mais os motivos políticos por trás delas.”
Sarah Huckabee Sanders, secretária de imprensa de Trump, reiterou essa ideia na tarde de segunda-feira, falando aos repórteres que o presidente negou todas as acusações contra ele e dizendo que “essas alegações foram respondidas” com a eleição.
“O povo americano sabia disso e votou no presidente e acreditamos que estamos prontos para seguir em frente”, disse Sanders sobre as acusações. Ela acrescentou: “O presidente tem conhecimento em primeira mão do que ele fez e o que não fez”.
Ameaça e nojo
As mulheres que falaram ao programa de televisão na manhã de segunda-feira relataram as suas acusações contra Trump, dizendo que se sentiram ameaçadas e com nojo durante essas situações com o futuro presidente.
“Eu fiquei chocada”, disse Crooks a Kelly após descrever a situação em que Trump a beijou na Trump Tower. “Devastada. Isso aconteceu tão rápido. (...) Eu gostaria de ter sido corajosa o suficiente para dizer ‘O que está acontecendo? Você precisa parar com isso.’”
Crooks disse que no momento sentiu que não tinha como reagir à situação por medo de que, se ela relatasse o ocorrido aos seus superiores – que mantinham negócios com a organização de Trump –, ela poderia perder o seu emprego. “Eu gostaria de ter sido mais forte”, disse. Crooks disse que decidiu levar o caso a público após ler sobre um caso de outra mulher acusando Trump de má conduta, e disse que teve uma sensação de alívio ao saber que “não foi só comigo”.
Quando as mulheres escutaram a nota da Casa Branca descrevendo as suas acusações como falsas, Crooks chamou a nota de “risível”.
A coletiva de imprensa foi organizada pela Brave New Films, um grupo sem fins lucrativos lançado por Robert Greenwald, produtor e ganhador do Emmy, com o objetivo de promover ativismo em causas progressistas por meio de documentários de baixo orçamento. O grupo tem orçamento de cerca de US$ 2,6 milhões, de acordo com Jim Miller, diretor executivo do grupo.
A organização, que visa distribuição em massa pelo YouTube e outras mídias sociais, produziu vídeos sobre desarmamento e encarceramento em massa. Em novembro, o grupo postou um vídeo sobre as mulheres acusando Trump, juntando cenas delas relatando as suas histórias. O vídeo, juntamente com a coletiva de imprensa, foi financiado por doações entre US$ 5 e US$ 50 que foram arrecadadas por meio de solicitação por email e redes sociais, de acordo com o grupo.
Greenwald disse que após o lançamento do vídeo, o grupo decidiu entrar em contato com as mulheres, algumas das quais hesitaram quando receberam um email sobre isso.
“Eu não queria reviver isso”, disse Holvey em uma entrevista após a coletiva de imprensa, relembrando a repercussão no ano passado e a sensação de que ela não estava sendo escutada. Mas a ideia de se juntar às outras mulheres que tiveram experiências similares a interessou.
“Em grupo podemos ter mais impacto”, disse. E ela também estava percebendo uma mudança no seu feed no Facebook na era da hashtag #metoo (#eutambém, em português), em que viu as pessoas perguntarem: “E o Trump?”.
Algumas mulheres contatadas pela Brave New Films estavam com medo de participarem da coletiva de imprensa, segundo Greenwald. As três que aceitaram se encontraram pela primeira vez em um jantar na noite de domingo.
Além de chamar atenção novamente para as acusações, não estava claro o que as mulheres esperavam que fosse o próximo passo depois da coletiva de imprensa. Greenwald disse que a resposta viria depois, dizendo que, por enquanto, ele acredita que “temos uma oportunidade”.
Leeds disse na coletiva de imprensa na segunda-feira que nenhuma das mulheres estava indo a público em busca de fama, mas sim porque sentiram que essa era a coisa certa a fazer.
“Nenhuma de nós quer atenção”, disse Leeds na coletiva de imprensa. “Nenhuma de nós está confortável com isso. (...) Mas isso é importante, então quando fomos convidadas, nós aceitamos.”
As mulheres falaram na segunda-feira enquanto uma onda de acusações de assédio e abuso sexual se espalhou por todo o país nas últimas semanas, estendendo-se a setores como política, entretenimento, mídia, tribunais e mercado financeiro.
Diversos homens notórios foram despedidos ou afastados de seus cargos, incluindo o magnata de Hollywood Harvey Weinstein e o âncora Charlie Rose, enquanto outros anunciaram planos de renúncia, incluindo o senador Al Franken, D-Minn., e o deputado John Conyers Jr., D-Mich., os quais disseram na semana passada que deixariam o Congresso após uma série de acusações.
Trump, por outro lado, apoiou Roy Moore, candidato republicano na eleição acirrada ao Senado no Alabama, mesmo após diversas mulheres revelarem que Moore as assediou quando elas eram adolescentes e ele tinha mais de 30 anos. Uma das acusadoras disse que ela tinha 14 anos na época. Moore negou as acusações.
Para as acusadoras de Trump, parece que Moore está seguindo o roteiro usado por Trump no ano passado durante a sua corrida eleitoral.
“Ele foi capaz de simplesmente negar o que nós dissemos, e isso fez com que ele se elegesse”, disse Crooks na segunda-feira sobre Trump. “Parece que ele está passando o bastão para Roy fazer o mesmo.”
Segundo round
Holvey sugeriu que faria sentido que as acusadoras de Trump viessem a público novamente considerando como o clima do país – e a resposta a suposta má conduta sexual – mudou no último ano.
“Vamos tentar um segundo round”, disse. “O ambiente está diferente, vamos tentar novamente.”
Um dia antes das mulheres virem a público, Nikki Haley, embaixadora dos EUA na ONU, disse que as mulheres que acusaram Trump “deveriam ser escutadas”.
Os comentários de Haley foram uma mudança brusca em relação à posição da Casa Branca, e foram particularmente notórios vindos de uma das mulheres de maior destaque no governo de Trump.
“Elas deveriam ser escutadas e isso deveria ser resolvido”, disse Haley quando questionada no programa da CBS, “Face the Nation”, sobre as acusações que outras mulheres fizeram contra Trump. “E eu acho que escutamos as suas histórias antes das eleições. E eu acredito que qualquer mulher que se sentiu violada ou maltratada de qualquer modo tem todo direito de contar a sua história.”
Para as mulheres que acusaram Trump de má conduta sexual no ano passado, ver outros homens caírem com acusações contra eles as deixou pensando por que as suas acusações não tiveram o mesmo impacto durante a campanha presidencial.
Além de negar as acusações contra ele, Trump prometeu processar as suas acusadoras e conseguir “evidências substanciais” que ele diz provarem que as acusações são falsas. Até agora, Trump não manteve a sua promessa.
O único processo resultante das acusações contra Trump veio de uma das acusadoras, Summer Zervos, que o processou em um tribunal de Nova York por difamação devido aos diversos comentários de Trump de que todas as mulheres seriam mentirosas.
Zervos, ex-participante do reality show “O Aprendiz”, disse que Trump a beijou e a tocou durante um encontro em 2007 no Hotel Beverly Hills. Em resposta, Trump disse: “Histórias falsas. Tudo inventado. Mentiras. Mentiras. Nenhuma testemunha. Nada. Tudo grandes mentiras”.
Os advogados de Trump desacreditaram o processo de Zervos, chamando de “politicamente motivado” e baseado em alegações de algo “que nunca aconteceu”. Eles estão tentando fazer o processo ser anulado, dizendo que Trump estava expressando uma opinião política e que um presidente em exercício não poderia ser processado em um tribunal estadual.
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