“Ele acredita que tomou as melhores decisões. Agora, reconhece que algumas coisas não deram certo”.Wayne Slater, que acompanha Bush há 15 anos| Foto: Arquivo pessoal

Quem é

Livro de Slater enfoca homem que "fez" Bush

Poucos jornalistas acompanharam George W. Bush por tanto tempo e de tão perto como Wayne Slater, repórter político do Dallas Morning News, principal jornal da cidade para onde Bush retorna na terça-feira. Durante 15 anos, ele acompanhou as ações deste que se tornaria o presidente norte-americano com maior impopularidade.

O acesso a informações privilegiadas resultou em dois livros, Bush’s Brain: How Karl Rove Made George W. Bush Presidential, sobre o responsável pela ascensão política do presidente, listado como bestseller pelo New York Times, e The architect, ambos escritos em conjunto com o jornalista James Moore.

O primeiro livro, de 2003, inspirou o documentário "O cérebro de Bush", de 2004.

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George W. Bush é considerado o presidente dos EUA que sai da Casa Branca com a popularidade mais arranhada da história do país. Apesar disso, seus amigos do Texas ainda gostam dele. Somando a apreciação dos conservadores com a passagem do tempo, seu legado pode vir a ser revisto. É o que conta o repórter do Dallas Morning News, Wayne Slater, autor de dois livros sobre o governo Bush, em entrevista concedida, por telefone, à Gazeta do Povo:

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Gazeta do Povo – Qual foi o maior erro de Bush?

Wayne Slater – Acho que foi confiar demais em um pequeno grupo de conselheiros dentro da Casa Branca, que lhe deram, em muitos casos, conselhos ruins. São eles o vice-presidente Dick Cheney, o ex-secretário de Defesa Donald Rumsfeld, o assessor da Casa Branca Karl Rove, entre outros. Bush tem de assumir responsabilidade por suas decisões, e a decisão mais prejudicial foi ir à guerra no Iraque e defender isso com o que hoje sabemos ser uma alegação errada, de que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa.

Como ele escolheu essas pessoas?

Como governador, seu estilo foi se cercar de um grupo pequeno de pessoas leais. Quando chegou a Washington, ele fez a mesma coisa. Seus aliados não eram todos do Texas, alguns eram simplesmente figuras que entendiam Washington. Mas sempre eram escolhidos porque as percebia como leais a ele.

Como a fé de Bush influenciou sua ações?

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Na Casa Branca, Bush valorizava pessoas de grande fé, semelhantes a ele. Em certo sentido, sua fé contribuiu para a forma como ele justificava suas decisões. Por exemplo, ele falava da guerra contra o terrorismo quase em tom religioso. A guerra era sobre "liberdade", que era um "presente de Deus". Então, ele defendeu a guerra ao terror porque sentia que estava fazendo o que Deus queria dele.

A fé era só justificativa ou baseava suas decisões?

As decisões eram baseadas em muitos fatores, não apenas na religião. Ele não foi à guerra porque é cristão e eles, muçulmanos. Mas sua fé lhe dá uma convicção que faz com que, após tomar uma decisão, ele acredite que elas têm uma qualidade inerente.

Foi essa convicção que fez com que ele se mostrasse inabalado no episódio da "sapatada"?

Bush acredita que tomou as melhores decisões que poderia ter tomado, dadas as circunstâncias. Agora ele reconhece que algumas coisas não deram certo, mas ainda tem um senso de que é guiado por algo maior do que ele. E nisso está sua habilidade de não lamentar um grande número de erros, não ficar se perguntando o que deu errado.

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Em que ele admite ter errado?

Ele admite que não havia armas de destruição em massa, mas diz que teria ido à guerra de qualquer forma, porque Saddam era mau. Ele admite que falhou em seus esforços para privatizar o sistema de seguridade social, que era de alta prioridade, e reformar o sistema imigratório. Mas ainda assim ele generaliza e conclui que tomou as melhores decisões que podia na época, tentou tudo que pôde e que está satisfeito – e isso você percebe no jeito como ele age. É essa convicção que os críticos dizem ser quase uma cegueira em relação a seus fracassos.

Ele é querido no Texas?

O índice nacional de aprovação de Bush é muito baixo, cerca de 30%. No Texas, seu estado natal, é maior, mas não muito maior. Talvez 40%. Muito menor do que quando ele saiu daqui. Ele foi um governador muito popular, mas mesmo aqui sua reputação piorou. Muitas pessoas aqui o conhecem pessoalmente, mas, mesmo sendo amigos, eles dividem Bush. Por um lado, acham que sua administração foi muito ruim. Pessoalmente, ainda gostam dele.

Pelo que ele é lembrado no Texas?

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Pela habilidade de trabalhar com os democratas, o que permitiu que ele conseguisse muito na área de educação. Quando foi para Washington, ele me disse que achava que conseguiria fazer o mesmo, mas isso não aconteceu, e sua administração se tornou bastante partidária, politizada e polarizada. Ele falhou em Washington no que conseguiu no Texas.

Ele deve voltar à política?

Não. Ele irá viver em Dallas e em seu rancho. Irá trabalhar em sua biblioteca e no Instituto Bush. Não o vejo ativo na política. Ele nos contou outro dia que opinará ocasionalmente sobre assuntos, e, eventualmente, republicanos podem querer seu apoio para levantar dinheiro para campanha. Mas, para ser honesto, não sei se há muitos que iriam querer isso.

Ele dará palestras?

Algumas. Mas não o vejo como um palestrante mundial, como Bill Clinton.

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Quanto do filme "W", de Oliver Stone, sobre Bush, corresponde à verdade?

Eu falei com o diretor sobre isso. Alguns dos evento no filme foram inventados, ou modificados por motivos dramatúrgicos, mas o personagem fundamental é absolutamente correto. O George Bush que eu conheço é em muitos sentidos aquele do filme.

Ele foi o presidente que mais foi retratado de forma crítica em filmes e livros?

Nixon também teve muitos livros negativos, mas Bush com certeza tem o mesmo número ou ainda mais. Já foram escritos muitos e certamente haverá muitos outros, enquanto a história tenta decidir se ele foi um dos piores presidentes da história ou se sua administração irá "melhorar com o tempo".

Como começou seu interesse em registrar a trajetória de Bush?

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Comecei a cobrir os atos de Bush na década de 1990, e cobri toda sua administração como governador (do Texas), em 1994. O acompanhei no avião presidencial na noite da eleição no ano 2000. Depois disso, fiquei no Texas, mas continuei a escrever sobre ele.