O Afeganistão perdeu 60% de seus jornalistas desde a queda de Cabul para o Talibã, em 15 de agosto do ano passado, de acordo com ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) nesta quarta-feira (10), destacando que as mulheres jornalistas foram as mais afetadas.
De acordo com um estudo da ONG com sede em Paris, o Afeganistão perdeu 39,95% de seus meios de comunicação e 59,86% de seus jornalistas.
Três quartos das mulheres jornalistas estão desempregadas, em meio a uma profunda crise econômica e uma repressão à liberdade de imprensa, disse a organização.
"Dos 11.857 jornalistas contabilizados antes de 15 de agosto de 2021, agora são apenas 4.759. As mulheres são as mais afetadas: 76,19% perderam o emprego", informou a RSF.
O secretário-geral da ONG, Christophe Deloire, lamentou em um comunicado que o jornalismo foi dizimado e os meios de comunicação social submetidos a regulamentações "que restringem a liberdade da mídia e abrem caminho para repressão e perseguição".
"As autoridades devem se comprometer a acabar com a violência e o assédio aos trabalhadores dos meios de comunicação e devem permitir que eles realizem seu trabalho sem serem molestados", acrescentou.
A "carnificina" infligida ao jornalismo afegão foi particularmente forte no caso das mulheres: elas desapareceram completamente em 11 das 34 províncias do país.
"Das 2.756 mulheres jornalistas e trabalhadoras de mídia antes de 15 de agosto, apenas 656 ainda estão trabalhando. Destas, 84,6% trabalham na região de Cabul", diz a nota.
A RSF relata o testemunho de várias jornalistas refugiadas em países vizinhos, mas também de Meena Habub, diretora da Rouidad News, agência noticiosa criada por ela após o regresso dos talibãs.
"Preferi ficar no meu país para continuar reportando e defendendo o que as mulheres conquistaram nos últimos 20 anos. As condições de vida e de trabalho das mulheres jornalistas no Afeganistão sempre foram difíceis, mas a situação atual não tem precedentes", lamentou Habub.
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