Curitiba Pela primeira vez desde 1969 e quatro anos após a queda do regime Taleban, 12,5 milhões de eleitores afegãos vão às urnas hoje para eleger o seu Parlamento em um pleito que, apesar do cunho democrático, deve levar ao poder chefes tribais e facções autoritárias. A disputa é por 249 vagas na Assembléia Nacional (Wolesi Jirga) e 34 conselhos provinciais (420 cadeiras).
A retirada de 32 candidatos, acusados de ligação com grupos armados, vale mais como tentativa de mostrar algum controle do processo eleitoral, considera Paulo Edgar Almeida Resende, coordenador do Núcleo de Análise de Conjuntura Internacional da PUC-SP. "Os senhores da guerra estão bem presentes na cena política afegã, não apenas entre os candidatos não cassados", diz.
O pleito, aponta Resende, indica, em tese, um avanço formal na reconstituição representativa, mas tem pouco efeito prático. Mesmo com líderes eleitos, o reclamo se soberania será mera retórica enquanto as tropas dos EUA estiverem por lá, acha.
A presença de tropas estrangeiras alimenta a violência, avalia Luciana Worms, professora de Geopolítica do Curso Positivo. "Os norte-americanos são odiados ou, no máximo, engolidos pela população."
O Afeganistão tende a ficar como o Kosovo, analisa Luciana. "É a instituição de uma democracia formal, mas não real. As eleições não fazem parte da cultura do país." Luciana destaca que há uma "onda de democracias formais". "O mundo tem a impressão de que o Oriente Médio está entrando nos eixos, mas é uma visão distorcida."
Pela primeira vez as mulheres têm direito à candidatura e ao voto elas ocuparão 25% da Assembléia Nacional e 30% dos conselhos provinciais. Mas estima-se que dos quase 5.800 candidatos que se apresentaram, apenas 10% são mulheres e pelo menos 50 delas desistiram da carreira política após serem ameaçadas de morte. A maioria das candidatas não tem grandes, afirma Resende. O medo ainda marca a vida das mulheres afegãs, completa Luciana.
As eleições parlamentares representam a última etapa do acordo de Bonn, estipulado na ONU por facções afegãs após a queda Taleban, no final de 2001, para a criação de um governo estável. Em janeiro, a ONU deve estabelecer um novo plano de assistência para os próximos cinco anos. Luciana acredita que o plano deve contemplar o direito de os talebans de manifestarem. "É preciso trazê-los à discussão. Caso contrário serão como o Khmer Vermelho, no Camboja, que só atua pela força." A professora, no entanto, acha que isso não ocorrerá porque os EUA não vão querer dar tal demonstração de "fraqueza".
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