• Carregando...
Homem segura uma bandeira do partido Congresso Nacional Africano (ANC) durante um comício eleitoral realizado no sábado (25)
Homem segura uma bandeira do partido Congresso Nacional Africano (ANC) durante um comício eleitoral realizado no sábado (25)| Foto: EFE/EPA/KIM LUDBROOK

Os cidadãos sul-africanos irão às urnas nesta quarta-feira (29) para escolher a nova composição da Assembleia Nacional, que, por sua vez, deverá definir o novo líder do país.

A África do Sul encontra-se em um momento decisivo. Analistas vem este pleito como um dos mais importantes e fundamentais desde o fim do apartheid em 1994, já que ele pode definir um rumo inédito para o maior e principal partido do país, o Congresso Nacional Africano (ANC).

O ANC governa África do Sul desde o fim do regime de segregação, quando Nelson Mandela chegou ao poder no país, no entanto, enfrenta o risco de perder sua atual maioria parlamentar pela primeira vez em 30 anos, tudo isso graças ao grande descontentamento popular com o governo, que é alimentado pelos altos níveis de desemprego, criminalidade e pobreza.

Conforme informações, a taxa oficial de desemprego da África do Sul é uma das mais altas do mundo, atingindo 32% da população. Ela é ainda mais grave entre os jovens, chegando a alcançar 45% deles. Além disso, mais da metade da população sul-africana está vivendo atualmente abaixo da linha da pobreza, segundo estimativas do Banco Mundial.

Esses números refletem uma crise socioeconômica profunda, exacerbada também por falhas nos serviços governamentais básicos, como fornecimento de água e eletricidade.

O crescimento econômico da nação africana também deve permanecer baixo nos próximos três anos. Em 2023, informações do governo deram conta de que o Produto Interno Bruto (PIB) da África do Sul atingiu um crescimento de apenas 0,6%.

Além dos problemas econômicos, a África do Sul enfrenta também uma significativa onda de violência e criminalidade. Segundo informações de agências internacionais, o número de homicídios está no ponto mais alto em 20 anos, com uma média de 83 assassinatos por dia nos últimos três meses de 2023. Outros crimes graves, como sequestros, tentativas de assassinato e roubos de carro também estão em ascensão.

Em meio a este cenário, diversas pesquisas apontam que o ANC pode perder seu posto de maior partido do país e seu controle absoluto sobre o Parlamento, que lhe deu poder suficiente para eleger os últimos presidentes sul-africanos sem depender de coalizões ou mais apoio.

“Todas as pesquisas de opinião estão sugerindo que há uma chance muito séria de que o ANC caia para abaixo de 50% dos votos e que seja forçado a criar algum tipo de coalizão", disse Daryl Glaser, professor de Estudos Políticos da Universidade de Witwatersrand, de Joanesburgo, ao site Voz da América.

Caso as previsões se concretizem, o ANC terá a inédita necessidade de formar uma coalizão para permanecer no poder e reeleger o atual presidente Cyril Ramaphosa, que tentará o seu segundo e último mandato de cinco anos. Tal ação marcaria o fim da dominância política do ANC na África do Sul pós-apartheid e inauguraria uma nova era de governo por coalizão.

As eleições que serão realizadas nesta quarta serão as sétimas desde o fim do apartheid. Para obter o controle do Parlamento, o partido vencedor precisa alcançar mais de 50% dos votos. Apesar de ser esperado que o ANC perca sua maioria absoluta no Parlamento, pesquisas ainda apontam que ele deve ser o partido mais votado nestas eleições, podendo chegar a 43% dos votos.

Mais de 23 mil locais de votação serão abertos para que a população possa exercer seu direito de escolha. Segundo a Comissão Eleitoral da África do Sul (IEC), 27,79 milhões de sul-africanos se registraram para votar este ano. As urnas já foram disponibilizadas desde segunda-feira (27) para pessoas que possuem alguma necessidade específica ou para aqueles que não poderão votar na quarta, que será um feriado.

Conforme noticiou a Al Jazeera, pela primeira vez candidatos independentes receberam autorização para concorrer a cargos públicos na África do Sul. A Comissão Eleitoral deu autorização para que mais de 14 mil candidatos disputem os cerca de 887 assentos (entre parlamentos provinciais e o nacional) disponíveis nesta eleição.

A Assembleia Nacional da África do Sul atualmente é formada por 14 diferentes partidos políticos, que são representados por 400 indivíduos. São os membros eleitos para a Assembleia Nacional e para os parlamentos provinciais que definem em votação posterior o novo presidente e os novos líderes de cada província.

A escolha do presidente era um processo considerado “simples” para o ANC, que sempre conseguia conquistar mais de 50% dos assentos no Parlamento nacional e uma grande maioria nos estados.

Os favoritos para dividir em maior número os assentos da Assembleia Nacional junto ao ANC neste ano são os opositores da Aliança Democrática (DA), liderados por John Steenhuisen, e os extremistas de esquerda do Combatentes da Liberdade Econômica (EFF), liderado por Julius Malema, o homem que prega abertamente a violência contra brancos. Há também o partido formado pelo ex-presidente Jacob Zuma (2009-2018), que já foi condenado por corrupção e considerado inelegível, o uMkhonto we Sizwe, que, segundo pesquisas, pode obter um bom resultado nas urnas.

O EFF de Malema tem oferecido para a população uma alternativa radical, com promessas que atingem a expropriação de terras dos brancos e a nacionalização de empresas privadas. É esperado que ele consolide seus votos conquistados na última eleição e, em caso de necessidade, poderia ser um dos partidos com quem o ANC provavelmente seria obrigado a conversar para formar um novo governo.

A Comissão Eleitoral prevê anunciar os resultados finais da eleição desta quarta-feira até domingo (2). O resultado das urnas poderá não apenas determinar o futuro do ANC, mas também o destino de uma nação que está sempre lutando para superar o seu passado e construir um futuro um pouco mais próspero e justo que o atual presente.

“O que está em jogo agora é um acerto de contas com o fato de que o país em que vivemos hoje não é o país que esperávamos há 30 anos, e é um momento crucial para tomar a decisão de romper com o passado e fazer escolhas ousadas para a mudança”, disse uma jornalista da África do Sul identificada como Redi Tlhabi, citada pelo site Foreign Policy.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]