Uma nova onda de violência deixou pelo menos quatro feridos em uma mina de ouro sul-africana, horas antes de a justiça colocar em liberdade condicional 162 dos 270 mineiros detidos durante o tiroteio na mina da platina de Marikana no dia 16 de agosto.
Segundo a porta-voz da Polícia, Pinky Tsinyane, cerca de 200 homens armados com paus e barras de ferro tentaram bloquear o acesso à mina de ouro de Modder East, em Springs, 30 km a leste de Johannesburgo, quando as forças de segurança intervieram.
"Confirmamos que quatro pessoas foram hospitalizadas, mas não podemos dizer se todas ficaram feridas a tiros ou foram agredidas pelos ex-mineiros. Estamos fazendo uma investigação", acrescentou à AFP.
A empresa Gold One explicou que a polícia interveio para desbloquear a entrada, e depois de ter tentado dispersar os manifestantes, usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.
Esta maneira de operar se tornou comum nos conflitos sociais que agitam periodicamente as minas sul-africanas: os mineiros iniciam uma greve, a justiça declara o movimento ilegal e a direção demite os grevistas antes de contratá-los de novo quando a calma retorna.
No começo do ano, a mina de platina de Impala Platinum, em Rustenburgo (norte), ficou paralisada várias semanas por uma greve ilegal durante a qual houve atos de violência que causaram três mortes e vários feridos.
A direção demitiu 17.200 grevistas, antes de voltar a contratar a maioria deles.
Greve
Em Modder East, a Gold One despediu 1.044 pessoas - mais da metade dos empregados da mina - em junho, depois de uma greve organizada pelo pequeno sindicato Ptawu, que pretendia se transformar na organização representativa.
A empresa, de capital chinês, se queixou, em um comunicado, das ameaças e dos atos de violência praticados contra seus funcionários por ex-empregados, quando a contratação recomeçou.
A direção diz ter conhecimento de pelo menos quatro ataques nas últimas semanas, dos quais "dois foram fatais e um terceiro deixou um empregado hospitalizado".
Este incidente ocorre menos de três semanas depois do sangrento tiroteio na mina de platina de Marikana (norte), onde 34 mineiros em greve ilegal foram mortos pela polícia.
No domingo, a promotoria sul-africana retirou "temporariamente" a surpreendente acusação, feita na quinta-feira, de 270 mineiros grevistas pelo assassinato de 34 de seus colegas, um drama que comoveu todo o país.
Os mineiros tinham sido detidos em Marikana no dia 16 de agosto logo depois de a polícia disparar contra uma multidão hostil de manifestantes armados com lanças e facões, causando 34 mortes e deixando 78 feridos.
"Podem ir", disse nesta segunda-feira o magistrado Esau Bodigelo, confirmando assim que "as acusações por assassinato contra os acusados foram retiradas no momento".
Bodigelo não explicou sua decisão de quinta-feira, mas muitos juristas consideram que utilizou uma lei antidistúrbios de 1956, ainda em vigor, muito aplicada nos tempos de Apartheid.
O texto da lei prevê o indiciamento por assassinato de todas as pessoas detidas no local de um tiroteio que envolva a polícia, sem importar se as vítimas são ou não agentes.
A mina de platina de Marikana (grupo Lonmin) está quase paralisada depois que 3.000 trabalhadores iniciaram uma greve, no dia 10 de agosto para exigir que seus salários fossem triplicados.