O escritor Ernest Hemigway, armado e com um cão de caça, em ação na África: primeiro safári durou dez semanas| Foto: Coleção Ernest Hemingway/Biblioteca e Museu Presidencial John F. Kennedy

20 anos

Em 28 de fevereiro de 1934, Hemingway terminou seu primeiro safári. O escritor planejou voltar à África no ano seguinte, mas os planos demoraram duas décadas para se concretizar. Acompanhado desta vez por sua quarta esposa, Mary Welsh, Hemingway retornou ao Quênia em 22 de agosto de 1953. Tinha 54 anos e problemas de alcoolismo. "Papa", como era chamado pelos amigos mais próximos, passou quase sete meses em território africano, onde visitou o filho Patrick, que vivia em Tanganica (hoje Tanzânia). Depois da segunda ida à África, Hemingway enfrentou problemas físicos e psicológicos, e se suicidou em 2 de julho de 1961.

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Hóspede

No quarto do hotel New Stanley, hoje Sarova Stanley, Ernest Hemingway escreveu livros inspirados em suas aventuras africanas.

Livros

Green Hills of Africa ("Colinas Verdes da África"), publicado em 1935, é um dos livros escritos no continente africano. Trata-se de um relato de não ficção que conta as experiências de um grupo de caçadores, o próprio Hemingway entre eles. Ainda no hotel New Stanley, o autor também elaborou esboços para dois contos clássicos, ambos publicados em 1936: "A Vida Curta e Feliz de Francis Macomber", sobre um homem que descobre a coragem em um safári, mas morre por acidente, e "As Neves do Kilimanjaro", que narra as tribulações de um escritor ferido em uma caçada na África.

Filmes

Os textos africanos seduziram Hollywood, que os adaptou para o cinema. Os filmes Covardia (1947) e As Neves do Kilimanjaro (1952) foram ambos protagonizados por Gregory Peck (1916-2003).

1961 foi o ano em que Hemingway morreu, no dia 2 de julho. Tinha 60 anos. Com problemas psicológicos – hoje falam que sofria de depressão –, o escritor cometeu suicídio e hoje está enterrado em Ketchum, Idaho (EUA).

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... ritual repetido na segunda expedição, 20 anos depois
Ernest e Mary Hemingway durante safári nos anos 1950

Setenta anos atrás, o escritor Ernest Hemingway (1899-1961) viajou pela primeira vez para o continente africano. Duas décadas mais tarde, faria uma segunda viagem. Nas temporadas que passou na África, ele sobreviveu a doenças e a dois acidentes de avião, um deles não o matou por muito pouco. Ainda assim, o autor de O Velho e o Mar deixou por escrito: "Não me lembro de ter tido uma manhã na África em que não acordasse feliz".

INFOGRÁFICO: Veja por onde viajou Ernest Hemigway

Após ter sofrido ferimentos na Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e contraído dois casamentos – o primeiro com Hadley Richardson e o segundo com Pauline Pfeiffer –, depois de viver anos na França e na Espanha, Hemingway tinha 34 anos quando conheceu a África e uma disposição enorme para aventuras.

Naquela época, 1933, já era um escritor de fama internacional graças aos romances O Sol Também Se Levanta e Adeus às Armas. E ele decidiu ir para o território africano pelo possibilidade de entrar em contato com um ambiente selvagem que mais tarde inspiraria obras famosas.

Acompanhado da segunda mulher, Pauline, o romancista norte-americano (que era também contista e jornalista) embarcou em um navio em 22 de novembro de 1933 em Marselha, na França, com destino à cidade litorânea de Mombaça, no Quênia, onde chegou 17 dias mais tarde.

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Foi o começo de um safári que durou dez semanas e deu a Hemingway a chance de palmilhar as savanas do Quênia e de Tanganica – parte da atual Tanzânia –, onde explorou o seu interesse pela caça.

O guia no safári foi o britânico Phil Percival, o "caçador branco" mais popular da época. As fotos da expedição de 1933-1934 mostram um Hemingway jovem e sorridente com uma escopeta nas mãos, posando ora ao lado de um elefante abatido, ora mostrando os chifres de algum animal exibidos como troféu.

Houve várias di­­fi­­culdades na viagem e Hemingway sofreu uma inflamação intestinal nos arredores do Kilimanjaro, o monte mais alto da África, imprevisto que o forçou a pegar um voo direto para Nairóbi e se hospedar no New Stanley, então o primeiro hotel de luxo da cidade.

"Em seu tempo livre, Hemingway adorava se sentar no restaurante [do hotel] e contemplar a vida passando", disse Caleb Chirchir, porta-voz do hoje Hotel Sarova Stanley. Chirchir diz que o hotel tem uma sala de conferências batizada em homenagem ao escritor, que venceu o Prêmio Nobel de Literatura em 1954.

Avião explodiu na decolagem em Entebbe

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Em 1953, a família Hemingway chegou ao Quênia em plena rebelião contra o regime colonial britânico, mas esse levante não abalou o segundo safári de Ernest, que sobreviveu a nada menos que dois acidentes aéreos consecutivos.

O primeiro acidente ocorreu em 23 de janeiro de 1954, em um voo turístico – presente de natal para a mulher Mary Welsh – de Nairóbi ao Congo. O aviãozinho caiu nas Cataratas Murchison, em Uganda, mas o casal escapou quase ileso.

Antes mesmo de se recompor do susto, os dois tomaram outro avião no dia seguinte a fim de chegar à cidade ugandense de Entebbe para receber atendimento médico, mas a aeronave sofreu uma explosão em plena decolagem.

Desta vez, Hemingway e Mary se salvaram por milagre. O escritor sofreu uma fratura craniana, múltiplos ferimentos internos e queimaduras.

Em 25 de janeiro, de carro, finalmente chegaram a Entebbe, onde eram esperados por uma legião de jornalistas que dias antes os davam como mortos e que chegaram a publicar os obituários.

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"Por sorte, estou muito bem", disse Hemingway sarcasticamente aos repórteres, carregando uma garrafa de gim e um cacho de bananas, informou então a agência de notícias United Press.

A segunda e conturbada aventura africana de Hemingway terminou em março de 1954 e inspirou uma obra autobiográfica póstuma, Verdade ao Amanhecer, publicado no Brasil em 2000.