Maria Butina, a russa acusada na semana passada por um tribunal federal americano de ter agido como agente não registrada de seu governo, recebeu apoio financeiro de Konstantin Nikolaev, um bilionário russo com investimentos em empresas de energia e tecnologia dos EUA, segundo uma pessoa a par do testemunho que ela deu aos investigadores do Senado.
Butina disse ao Comitê de Inteligência do Senado, em abril, que Nikolaev financiou um grupo de direitos de armas que ela representava, informou a fonte ao Washington Post. Um porta-voz de Nikolaev confirmou que ele esteve em contato com Butina, quando ela estava lançando o grupo de direitos pró-armas na Rússia entre 2012 e 2014. Ele se recusou a confirmar se Nikolaev lhe deu apoio financeiro.
A fortuna de Nikolaev foi construída, em grande parte, por meio de investimentos em portos e ferrovias na Rússia. Ele também faz parte do conselho de administração da American Ethane, uma empresa petroquímica de Houston que foi apresentada pelo presidente Donald Trump em um evento na China no ano passado. Nikolaev também é um investidor em uma startup do Vale do Silício.
Segundo o porta-voz, Nikolaev nunca se encontrou com Trump. No entanto, o filho dele, Andrey, que está estudando nos Estados Unidos, se ofereceu para trabalhar como voluntário na campanha de Trump, em 2016, segundo uma pessoa familiarizada com suas atividades.
Konstantin Nikolaev foi flagrado no Trump International Hotel em Washington, D.C., durante a posse de Trump em janeiro de 2017, segundo duas pessoas familiarizadas com sua presença.
Em uma audiência na semana passada, os promotores disseram que os e-mails e os registros de Butina em chats estão cheios de referências a um bilionário como o "financiador" de suas atividades. Eles escreveram que o bilionário é um "empresário russo conhecido, com laços profundos com o governo russo".
Os promotores não mencionaram o financiador de Butina pelo nome, mas disseram que ele viaja frequentemente para os Estados Unidos e foi listado pela Forbes este ano como tendo um patrimônio líquido de US $ 1,2 bilhão - o que é o mesmo de Nikolaev na relação.
Sem liberação sob fiança
Nesta semana, a Justiça determinou que não fosse concedida a possibilidade de Butina ser liberada sob o pagamento de fiança, depois que ela foi acusada de conspirar para trabalhar como agente russa. Os promotores alegam que ela procurou encontrar políticos do Partido Republicano e se infiltrar em organizações conservadoras, incluindo a Associação Nacional de Rifle, sob a direção de um oficial do governo russo, em uma tentativa de promover os interesses do Kremlin.
Segundo os promotores, durante dois anos, ela viajou de um lado para o outro nos Estados Unidos, muitas vezes acompanhando Alexander Torshin, diretor do Banco Central da Rússia, em eventos da NRA e outras reuniões políticas. Os promotores disseram que suas atividades foram dirigidas por um alto funcionário do governo russo que corresponde à descrição de Torshin.
Em agosto de 2016, ela chegou em Washington para estudar em período integral como aluna de pós-graduação na American University.
O advogado de Butina, Robert Driscoll, disse que ela não é uma agente russa, mas sim uma estudante interessada em aprender sobre o sistema político americano. O governo russo afirmou que Butina é inocente, e está promovendo a hashtag #freeMariaButina nas redes sociais. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, pressionou o secretário de Estado, Mike Pompeo, sobre o caso em um telefonema no sábado, de acordo com um comunicado do governo russo.
Driscoll se recusou a comentar sobre Nikolaev, mas disse que o empresário russo citado pelos promotores era um financiador do grupo pró-armas que Maria Butina fundou na Rússia. Ela se encontrou pessoalmente com Nikolaev apenas duas vezes, ele disse.
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Os promotores citaram as interações de Butina com o bilionário russo para justificar que ela não deveria ser autorizada a ficar fora da prisão enquanto aguarda julgamento. Eles argumentaram que ela tem "conexões com a oligarquia russa" e conhece homens ricos que poderiam estar em condições de oferecer um "porto seguro" a ela, caso decidisse fugir dos EUA.
Nikolaev teve o último contato com a ativista russa em 2014, de acordo com seu porta-voz. Ele disse que na época, Butina tinha um "perfil público na Rússia como blogueira sobre assuntos chave que eram de interesse".
As conexões de Nikolaev com o governo russo "não podem ser caracterizadas como profundas", disse seu porta-voz.
"Nikolaev não tem ligações com o governo russo além daquelas que são estritamente necessárias profissionalmente", disse o porta-voz, que pediu anonimato por causa da investigação em andamento.
Ele se recusou a oferecer detalhes sobre o trabalho voluntário político do filho de Nikolaev, Andrey. "Como inúmeros outros jovens estudando nos EUA, Andrey se ofereceu para distribuir panfletos apenas pela experiência", limitou-se a dizer.
Andrey Nikolaev não respondeu a um pedido de entrevista por meio do porta-voz. Funcionários da campanha de Trump também não responderam aos pedidos de entrevista.
Quem é Konstantin Nikolaev
Konstantin Nikolaev é um grande investidor na American Ethane e faz parte do conselho de administração da empresa.
A empresa foi colocada em destaque por Trump durante uma visita a Pequim em novembro. Durante a viagem, Trump e o presidente chinês Xi Jinping presidiram uma cerimônia na qual as empresas dos EUA assinaram publicamente acordos com parceiros chineses. Um dos 15 negócios fechados no evento foi uma parceria de US $ 26 bilhões para a American Ethane enviar etano líquido à China.
No evento, Trump e Xi Jinping se sentaram em um palco elevado e aplaudiram enquanto executivos, incluindo o executivo-chefe americano Ethane, John Houghtaling II, se apresentou para assinar acordos comerciais em uma mesa enfeitada com bandeiras americanas e chinesas.
A Casa Branca se recusou a comentar. Houghtaling também, exceto para dizer que Nikolaev não teve nenhum papel no acordo com a China ou na cerimônia de Pequim.
Nikolaev também investiu em outras empresas dos EUA. Em 2016, pôs dinheiro em uma startup de San Francisco chamada Grabr, de acordo com um comunicado de imprensa da empresa. A Grabr opera um serviço on-line que permite que pessoas comprem produtos não usuais fora do país, por meio de viajantes internacionais comuns dispostos a adquiri-los e transportá-los por meio do pagamento de uma taxa.
Outro investidor em Grabr, segundo a empresa, é Alexey Repik, um executivo russo do segmento farmacêutico, que participou da posse de Trump e que teve acesso a uma série de eventos exclusivos.
Repik disse ser é um pequeno investidor da Grabr, junto com Nikolaev, mas disse que os dois não são próximos. Ele afirmou não conhece Butina ou apoiar os esforços pró-relacionado à posse de Trump, mas ele foi visto no hotel de Trump, em Washington. O local serviu como centro de comemorações da posse. O porta-voz de Nikolaev se recusou a comentar sobre o que o bilionário estava fazendo lá.
Também na cidade para as festividades estava Butina, que apareceu em um dos bailes da posse, de acordo com uma pessoa que acompanhou a sua presença no evento. Nesta semana, os promotores apresentaram evidências de uma selfie que Butina tirou de si mesma em frente ao Capitólio, durante a cerimônia de posse.