A polícia da Bélgica divulgou ontem que encontrou o corpo de uma mulher na residência de Nordine Amrani, que na terça-feira matou cinco pessoas e feriu 125 ao abrir fogo e lançar granadas contra uma multidão no centro de Liège, sudeste do país.
O corpo foi encontrado durante uma operação na casa de Nordine Amrani, 33 anos. "Estava em um galpão de Amrani, que ele utilizava entre outras coisas para cultivar maconha", declarou o procurador de Liège, Cedric Visart de Bocarmé.
De acordo com Bocarmé, o corpo encontrado é o de uma mulher de 45 anos, empregada doméstica de uma vizinha de Amrani, que foi assassinada pouco antes do atirador seguir para a Praça Saint-Lambert e abrir fogo contra a multidão.
Ao que parece, segundo a polícia, o atirador convidou a empregada para sua casa sob o pretexto de oferecer emprego e depois a agrediu e matou.
Nordine Amrani estava em liberdade condicional e deveria ter comparecido na terça-feira a uma delegacia para responder a uma denúncia de agressão sexual. Vestido com uniforme militar e armado com quatro granadas, uma pistola e um fuzil automático Amrani abriu fogo contra pessoas que esperavam ônibus na praça a partir do teto de uma padaria. Pouco depois cometeu suicídio.
Ontem, ao meio-dia, a população da cidade de Liège fez um minuto de silêncio em homenagem às vítimas do massacre que chocou os belgas. O rei da Bélgica, Alberto II, e sua esposa, Paola, visitaram o local da tragédia, assim como o novo primeiro-ministro belga Elio Di Rupo.
O número de vítimas do massacre foi revisado ontem. A Justiça belga disse que quatro pessoas morreram e cinco feridos estão em condição grave, segundo a ministra do Interior, Joelle Milquet.
As autoridades belgas informaram ainda que uma idosa de 75 anos que havia sido incluída como morta no balanço divulgado na terça-feira está hospitalizada.
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PerfilAutor de ataque colecionava armas e munições
AFP
Belga de origem marroquina e órfão muito jovem, o chamado "atirador louco de Liège", Nordine Amrani, colecionava armas e munições e se sentia perseguido pela polícia por causa dos vários processos judiciais.
Nascido no dia 15 de novembro de 1978 em Ixelles, um bairro de Bruxelas, Nordine Amrani perdeu muito cedo seus pais e logo foi deixado "à sua própria sorte", segundo seu antigo advogado, Abdelhadi Amrani, que não possui nenhum grau de parentesco com ele.
Nordine já era alvo de várias acusações criminais. Era um fugitivo da Justiça, acusado de tráfico de entorpecentes, posse de armas, receptação de cargas roubadas e abuso sexual.
A polícia descobriu em sua casa em 2007 um arsenal mais de 9.500 cápsulas de munição, silenciadores e vários fuzis , além de 2,8 mil plantas de cannabis (maconha). Foi condenado a 5 anos e meio de prisão por uma série de crimes, antes de ser colocado em liberdade condicional no dia 8 de outubro de 2010.
Soldador de profissão, Nordine tinha voltado a trabalhar quando saiu da prisão.
"Esse cara realmente tinha ouro em suas mãos. Ele era capaz de desmontar um carro e remontá-lo de olhos fechados. A mecânica era seu negócio", lembrou seu ex-advogado.
Nordine Amrani, que tinha uma companheira, sentia-se, apesar de tudo, perseguido pelos policiais. "Ele acreditava que já tinha pagado sua dívida com a sociedade. Ele acreditava que, durante toda a sua vida, as autoridades voltariam com seus antigos arquivos. Que nunca o deixariam em paz", acrescentou o advogado.
Entre suas fichas criminais consta um escândalo sexual, pelo qual foi convocado a comparecer na terça-feira, dia do ataque, às 13 h no serviço de polícia do Tribunal de Liège. Ele não apareceu, e neste momento disparava contra a multidão.
"Em nenhum momento, durante os procedimentos criminais, descobriram qualquer desequilíbrio do acusado", declarou a procuradora do rei de Liège, Danièle Reynders. Depois de atirar na multidão e jogar várias granadas, Nordine Amrani virou sua arma contra si e atirou em seu próprio rosto. Não deixou nenhuma mensagem para explicar seu ato, nem mesmo para sua companheira.