Na luz fraca e vermelha de um sol distante, cientistas encontraram evidências de água na atmosfera de um planeta rochoso. É a primeira vez que uma descoberta como essa é feita, e ela oferece um novo alvo para busca pela vida no universo.
O planeta intrigante, que tem o nome impessoal de K2-18b, fica a 110 anos-luz de distância na constelação de Leo. Mais importante: ele está na "zona habitável" de sua estrela, onde é banhado pela quantidade certa de calor para permitir que a água exista na forma líquida em sua superfície.
Duas vezes maior do que o nosso planeta e oito vezes mais pesado, o K2-18b possui uma gravidade poderosa que dificultaria uma caminhada sobre sua superfície. Ele orbita próximo a uma estrela anã vermelha, muito menor e mais fria do que o nosso sol. Além de vapor d'água, sua atmosfera contém principalmente gás hidrogênio - uma molécula que compõe menos de uma parte por milhão da nossa atmosfera.
Não se trata de uma "segunda Terra", disse o astrônomo Angelos Tsiaras, coordenador do estudo sobre o planeta, publicado nesta quarta-feira no periódico Nature Astronomy, mas "é o melhor candidato para habitabilidade que conhecemos no momento".
Super Terra ou mini-Netuno
O artigo de Tsiaras foi elaborado a partir de dados públicos produzidos por Björn Benneke, astrônomo planetário na Universidade de Montreal, Canadá. Na terça-feira, a equipe de Benneke publicou a sua própria análise sobre o K2-18b na plataforma arXiv, que hospeda artigos científicos que ainda não foram publicados em periódicos com revisão por pares.
Benneke e seus colegas também encontraram sinais de vapor de água nos céus do K2-18b. Mas eles estavam menos otimistas do que Tsiaras sobre o potencial do planeta de ser habitado por humanos. A interpretação da equipe de Montreal sugere que a atmosfera de hidrogênio forma um envelope gasoso e espesso em torno do planeta. Isso causaria pressões intensas na superfície do planeta - talvez o suficiente para fazer com que o hidrogênio esteja em sua forma líquida. "Não é um verdadeiro análogo da Terra", relatam os pesquisadores.
Laura Kreidberg, astrônoma do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, disse que o K2-18b pode ser melhor descrito como um "mini-Netuno" do que uma "super Terra". Uma extensa pesquisa com modelos computacionais sugere que, na faixa de 1,6 a 1,8 vezes a massa da Terra, os planetas tendem a se tornar enormes e gasosos, em vez de rochosos.
Embora o K2-18b provavelmente tenha um núcleo sólido, as temperaturas e pressões na "superfície" seriam tão altas que poucas moléculas complexas sobreviveriam, muito menos qualquer forma de vida. "Acho o resultado incrível", disse Kreidberg. "É definitivamente o planeta menor e mais frio cuja atmosfera pudemos observar de tão longe… mas eu não acho que ele seja potencialmente habitável".
Até então, cientistas haviam detectado água apenas na atmosfera de "gigantes gasosos" - exoplanetas imensos que não possuem superfícies sólidas, como Júpiter e Saturno no nosso sistema solar. Planetas rochosos são menores, o que faz com que eles sejam mais difíceis de serem encontrados e ainda mais difíceis de serem estudados. Mesmo um planeta como o K2-18b pode ser examinado apenas com o telescópio espacial mais sensível da humanidade, o Hubble.