O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, foi reeleito com folgada vantagem, segundo os números oficiais divulgados neste sábado. O seu adversário, o moderado Mirhossein Mousavi, chamou, porém, o resultado de uma "charada perigosa", que pode levar a uma tirania no país.
As proporções da vitória de Ahmadinejad, que conseguiu quase o dobro dos votos do ex-primeiro-ministro Mousavi nas eleições de sexta-feira, decepcionou as expectativas de que a disputa iria no mínimo para o segundo turno.
O ministro do Interior, Sadeq Mahsouli, anunciou que Ahmadinejad levou 62,6 por cento dos votos, contra 33,75 por cento de Mousavi. O comparecimento às urnas foi um recorde: 85 por cento.
Mousavi protestou contra o que ele chamou de violações óbvias. "Alerto que não vou me entregar a essa charada perigosa. O resultado da ação de algumas autoridades vai colocar sob risco os pilares da República Islâmica e vai estabelecer uma tirania", disse o candidato num comunicado divulgado à Reuters.
Analistas iranianos e ocidentais receberam o resultado com descrédito. Segundo eles, a reeleição do atual presidente vai desapontar o Ocidente, que busca convencer o Irã a suspender atividades nucleares que, esses países suspeitam, têm como objetivo produzir bombas. A vitória de Ahmadinejad pode complicar ainda mais os esforços do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de se aproximar de Teerã.
"Não é um bom sinal para as tentativas de um acordo para a disputa nuclear", afirmou Mark Fitzpatrick, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, em Londres.
No poder há quatro anos, onde chegou prometendo reviver os valores da Revolução Islâmica de 1979, Ahmadinejad, 52 anos, expandiu o programa nuclear do Irã, que segundo ele é para fins pacíficos, e provovou a reação da comunidade internacional ao negar o Holocausto e pedir o fim de Israel.
A campanha eleitoral dura no Irã gerou grande interesse no mundo e mobilizou os iranianos. Ela revelou divisões profundas entre os líderes que apóiam Ahmadinejad e os que são a favor de mudanças sociais e políticas.
O atual presidente acusou os seus rivais de minar a República Islâmica ao defenderem a aproximação com o Ocidente. Mousavi, por sua vez, declarou que a política externa "extremista" de Ahmadinejad tem levado à humilhação dos iranianos.
Na noite de sexta, antes do anúncio do resultado oficial, Mousavi se declarava o real vencedor. Ele dizia que muitas pessoas não haviam podido votar e que faltavam cédulas.
Trita Parsi, presidente do Conselho Nacional do Irã nos Estados Unidos, colocou em questão a grande diferença em favor de Ahmadinejad. "É difícil conceber que isso ocorreu sem trapaças", disse Parsi.
Ali Ansari, que lidera o Instituto de Estudos Iranianos na Universidade de St. Andrews, na Escócia, disse: "Os iranianos vão acordar hoje em choque, não por causa da vitória do presidente, mas por conta das proporções dessa vitória."