O Irã está pronto para retomar as negociações nucleares com as potências mundiais, mas vai continuar a fazer pressão para manter suas atividades atômicas, dentre elas o enriquecimento de urânio, afirmou nesta terça-feira o presidente Mahmoud Ahmadinejad.
"Eles querem negociar novamente. Vamos negociar para chegarmos a uma compreensão e cooperação... mas até que eles mudem sua abordagem arrogante para uma cooperativa, os conflitos verbais pela mídia vão continuar", disse o presidente iraniano.
O chamado sexteto (grupo composto por Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Rússia, China e Alemanha) negocia há anos com o Irã a respeito de seu controverso programa nuclear. Foi realizada uma reunião com os dois lados em dezembro, na Suíça, e uma outra em janeiro, na Turquia, mas não houve progresso.
"Estamos conduzindo nossas atividades legalmente. Tivemos a maior cooperação com a agência", disse Ahmadinejad sobre a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). "A questão nuclear é uma desculpa. A questão verdadeira é o Ocidente contra nossa independência", afirmou.
Segundo o presidente, as atividades nucleares de Teerã estão "progredindo rapidamente. As centrífugas estão funcionando. Novos projetos estão em andamento. Nossos pesquisadores estão avançando. Nós chegamos até mesmo a um enriquecimento de 20% que não tínhamos antes".
Perguntado se o Irã vai suspender seu programa de enriquecimento de urânio ele afirmou que "não". Ahmadinejad criticou as declarações feitas ontem pelo diretor-geral da AIEA, Yukiya Amano, que afirmou que a agência havia "recebido novas informações" sobre as atividades nucleares do Irã.
Amano disse que a AIEA "recebeu mais informações relacionadas a possíveis atividades nucleares não divulgadas, atuais ou passadas, que parecem apontar para um programa nuclear iraniano de dimensões militares".
Ahmadinejad questionou "como é que o senhor Amano fecha seus olhos... para a radiação?", depois da Agência de Segurança Industrial e Nuclear do Japão dizer que 770 mil terabecquerels de radiação escaparam para a atmosfera na primeira semana do acidente de Fukushima, mais do que o dobro da estimativa anterior.
"Em vez disso, sob a chefia dos Estados Unidos, ele escreveu algo num relatório, violando a lei e o estatuto da AIEA", afirmou Ahmadinejad. "Essas afirmações não têm amparo legal e apenas prejudicam a reputação da agência", disse o presidente iraniano. "Nós vamos continuar e cooperar com eles, contanto que eles ajam de forma lógica e com justiça".
Muitos países ocidentais temem a possibilidade de o Irã buscar capacidade nuclear militar, sob a aparência de um programa atômico civil, acusação negada por Teerã. O Conselho de Segurança da ONU condenou as atividades atômicas do Irã em suas resoluções, dentre elas quatro rodadas de sanções econômicas e políticas, apesar da manutenção das inspeções da AIEA em instalações iranianas. O principal alvo das sanções é o programa de enriquecimento de urânio, que pode resultar em combustível para um reator ou material físsil para uma ogiva nuclear. As informações são da Dow Jones.