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A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) recomendou, após sua recente visita à usina atômica ucraniana de Zaporizhzhia, que se estabeleça uma zona de segurança ao redor da central e se detenha imediatamente os bombardeios para evitar um possível desastre radioativo.
“Isso requer um acordo de todas as partes para o estabelecimento de uma zona de segurança e proteção nuclear em torno da usina nuclear de Zaporizhzhia”, afirma o relatório da agência nuclear da ONU, divulgado nesta terça-feira (6) em Viena.
Zaporizhzhia, ocupada por forças russas e desconectada da rede ucraniana desde a tarde de segunda-feira (5), é palco de bombardeios pelos quais Rússia e Ucrânia se acusam mutuamente e que representam um risco de desastre nuclear há meses.
“A situação atual é insustentável e a melhor medida para garantir a segurança das instalações nucleares da Ucrânia e de sua população seria que este conflito armado terminasse agora”, acrescenta o documento de 52 páginas.
A AIEA enumera sete recomendações específicas para evitar os riscos de um desastre nuclear na usina, a maior da Europa com seus seis reatores, e o estabelecimento dessa zona de segurança é a primeira delas.
“Embora o bombardeio em curso ainda não tenha desencadeado uma emergência nuclear, continua a representar uma ameaça contínua à segurança nuclear”, alerta o relatório.
O diretor-geral da AIEA, o argentino Rafael Grossi, apresentará as conclusões do documento ainda nesta terça-feira em uma reunião do Conselho de Segurança da ONU em Nova Iorque.
Além das recomendações de segurança, o documento confirma a presença de material militar russo no interior da usina e a presença de pessoal da estatal nuclear russa Rosatom, algo criticado pela AIEA.
“A equipe observou a presença de militares, veículos e equipamentos russos em vários locais da usina nuclear de Zaporizhzhia, incluindo vários caminhões militares no térreo das salas de turbinas da unidade (reator) 1 e da unidade (reator) 2”, detalha o organismo da ONU.
Os inspetores nucleares pedem que este equipamento militar seja removido porque interfere em possíveis operações de segurança na usina e esses espaços não foram projetados para uso militar.
A AIEA também critica a presença de pessoal da Rosatom, a agência nuclear russa, por interferir nas “linhas normais de comando ou autoridade operacional e criar atrito potencial com relação à tomada de decisões”.
O relatório também mostra preocupação com a deterioração de vários elementos da planta e a dificuldade técnica em repará-los.
“A equipe foi testemunha de que vários equipamentos elétricos na área do pátio de manobras estavam danificados devido aos recentes bombardeios e que os reparos de alguns destes equipamentos necessitariam de muito tempo, já que as peças de reposição são feitas sob medida”, assinala o documento.