O ex-vice-presidente dos EUA e candidato ao Prêmio Nobel da Paz por seus esforços para incluir os problemas ambientais na agenda política internacional, Al Gore, acusa a administração de George W. Bush de pagar para que cientistas minimizem as conseqüências do aquecimento global. Na sexta-feira passada, um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) afirmou que o aumento da temperatura do planeta é "muito provavelmente" causado pelo homem . Segundo o estudo, a temperatura da Terra aumentará entre 1,8 e 4 graus centígrados até o final do século.
"Eles não têm mais argumentos para continuar despejando toda a sua poluição na atmosfera da Terra. A única coisa que lhes resta é dinheiro, que eles vêm oferecendo aos profissionais ditos céticos, para que eles tentem confundir as pessoas. O que é totalmente antiético, já que chegou a hora de agirmos [contra o aquecimento global]", disse Gore em entrevista a uma rede de TV madrilena afiliada à CNN.
A declaração de Gore corrobora denúncia feita pelo jornal britânico "Guardian" na sexta-feira passada. Segundo o periódico, cientistas britânicos e americanos teriam recebido cartas do American Enterprise Institute (AEI), centro de estudos conservador financiado por uma das maiores petrolíferas do mundo e com estreitas ligações com o governo de George W. Bush, nas quais era oferecido dinheiro - cerca de US$ 10 mil - por artigos que questionassem o relatório do IPCC.
As cartas também acusavam o grupo intergovernamental que elaborou o relatório de resistir às "críticas racionais" e de "chegar a conclusões precipitadas e insuficientemente apoiadas no trabalho analítico".
Para David Viner, da Seção de Pesquisas Climáticas da Universidade de East Anglia, a iniciativa do AEI e do governo Bush é uma "tentativa desesperada de uma organização que quer confundir as provas científicas em benefício de seus objetivos políticos".
Como vice de Bill Clinton durante seus dois mandatos (1993 a 2001), Al Gore propôs medidas para proteger a Terra do aquecimento global. Depois de perder as eleições de 2000 para George W. Bush, o democrata iniciou uma campanha mundial sobre o tema e produziu o documentário " Uma Verdade Inconveniente" , recentemente indicado ao Oscar, no qual alerta sobre as graves conseqüências do aquecimento global.
O filme se baseia em estudos científicos que confirmam que, a menos que se freiem as emissões de dióxido de carbono e outros gases que retêm o calor na atmosfera, o aquecimento global causará uma mudança climática que acabará com a vida atual tal como a conhecemos. Mas inclui também críticas à gestão do meio ambiente do presidente George W. Bush, e a manipulação de relatórios por cientistas, em prol de determinados interesses políticos e econômicos.
Segundo Gore, o governo dos Estados Unidos aproveita os dados que lhe interessam e descarta o que lhe pode ser inconveniente em suas justificativas para não assumir compromissos de redução de emissões no bojo do Protocolo de Kyoto, que foi ratificado em março de 1999 por 23 países, dentre eles o Brasil.
Gore também está entre os ganhadores do prêmio Campeões da Terra 2007, do Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente. Por seus esforços para incluir os problemas ambientais na agenda política internacional, Al Gore foi recentemente indicado dois deputados do parlamento norueguês ao prêmio Nobel da Paz 2007.
- Al Gore aumentou a pressão nos Estados Unidos de tal modo que o presidente (George W.) Bush se viu obrigado a dizer pela primeira vez que a mudança climática é um problema - disse o socialista Borge Brende.