A rede terrorista Al-Qaeda transmitiu ontem uma mensagem póstuma de seu líder morto, Osama bin Laden, na qual ele elogia as revoluções no Egito e na Tunísia. Na declaração, Bin Laden pede que os muçulmanos aproveitem a "rara oportunidade histórica" para levarem adiante a insurgência. A informação foi divulgada hoje pelo grupo de inteligência dos Estados Unidos que monitora mensagens de extremistas na internet (Site, na sigla em inglês).
A mensagem de áudio foi divulgada em fóruns frequentados por militantes e simpatizantes pelo braço da Al-Qaeda que cuida da mídia, segundo o Site. O comunicado se dirige a muçulmanos envolvidos em revoluções no Oriente Médio e no norte da África. Na mensagem póstuma, Bin Laden sugere o estabelecimento de um conselho para oferecer recomendações e decidir um cronograma para se disseminar as revoltas pelo mundo muçulmano.
"Eu penso que os ventos de mudança irão soprar sobre todo o mundo islâmico, com a permissão de Alá," diz Bin Laden, segundo a tradução do Site, na mensagem de 12 minutos e 37 segundos. O líder extremista pediu aos jovens muçulmanos que "preparem o que é necessário" para disseminar essas revoluções, "consultando os especialistas sinceros que se afastam de compromissos e da bajulação aos opressores".
Em nota, o grupo Site afirmou que um comunicado anterior da Al-Qaeda indicava que a mensagem de áudio havia sido gravada uma semana antes de Bin Laden ser morto por tropas especiais norte-americanas, em uma operação em território paquistanês em 2 de maio.
A Al-Qaeda, que defende há tempos o uso da violência como única maneira possível de depor regimes, foi pega de surpresa pelos levantes da chamada "primavera árabe". A série de protestos foi detonada pela preocupação popular com inflação, desemprego e com pedidos de reforma política, e não capitaneada por doutrinas extremistas. Porém, agentes ocidentais haviam advertido que a Al-Qaeda tentaria explorar a onda de descontentamento no norte da África e no Oriente Médio.
Na mensagem, Bin Laden se refere às revoluções no Egito e na Tunísia, mas não cita os casos de Líbia, Síria e Iêmen. Nesses dois primeiros países, os levantes culminaram com a queda de presidentes. "Esta é uma séria encruzilhada diante de vocês, e uma oportunidade histórica grande e rara para a Ummah (comunidade muçulmana) se libertar da servidão dos desejos dos governantes, das leis feitas pelo homem e do domínio ocidental", afirmou Bin Laden. A mensagem foi publicada como um vídeo, mas é um áudio acompanhado de uma foto do líder extremista.
"É um grande pecado e uma imensa ignorância perder esta oportunidade que era aguardada pela Ummah há décadas. Portanto, aproveitem isso e destruam os ídolos, estabeleçam a justiça e a fé", recomendou. Bin Laden acusava governantes da região de se comportarem como ídolos, usando a mídia e instituições religiosas para garantir seu poder. "Então, o que vocês estão esperando? Salvem-se e a suas crianças, porque a oportunidade está aqui."
Bin Laden concluiu sua mensagem pedindo a seus seguidores que concluam o trabalho iniciado por ele, dizendo que a vitória virá. "A enorme opressão em nossos países chegou a grandes limites, e nós esperamos muito tempo para condenar e mudar isso" afirmou. "Portanto, quem começou (a mudança) deve encerrá-la e Alá lhe concederá a vitória."
Bin Laden foi morto por uma força especial dos EUA na cidade de Abbottabad, perto da capital paquistanesa, Islamabad. O corpo do terrorista, apontado como o mentor dos atentados de 11 de setembro de 2001, foi lançado ao mar.