Islâmicos simpatizantes da rede de Osama bin Laden lançaram um telejornal semanal via internet com a missão de dissipar o que eles chamam de "mentiras e propaganda" dos grandes canais de TV dedicados a notícias - os internacionais e os árabes, como CNN e Al-Jazeera.
O programa chama-se "Voz do Califado" e o primeiro foi produzido no início deste mês pela Frente Global de Media Islâmica, uma organização baseada na internet e ligada à Al-Qaeda, que se "a mensageira dos mujahideen (guerreiros da resistência) e de todos os muçulmanos".
"Esse é o mundo da verdade contra o vazio", diz o slogan, que aparece junto à imagem de uma fogueira onde ardem os logotipos de CNN, Reuters, Al-Arabyia, BBC e Al-Jazeera.
A Al-Qaeda e outros grupos extremistas têm se voltado crescentemente para a internet para espalhar seus ensinamentos sobre a guerra santa e recrutar jovens muçulmanos.
Mas a "Voz do Califado" parece ser uma virada. Até então, os vídeos da Al-Qaeda eram mensagens de seus líderes, normalmente em locais não identificáveis e rodeados de armas, ou imagens tenebrosas de reféns sendo degolados. As mensagens acabavam indo parar em grandes sites islâmicos.
O primeiro programa foi aberto por citações do Corão e rugidos de leões. O jornal, de 15 minutos, que será semanal, foi dedicado a Bin Laden.
O âncora, que usava uma balaclava, saudou os muçulmanos pela retirada de Israel da faixa de Gaza e a devastação levada pelo furacão Katrina aos EUA.
- É sabido que os israelenses fugiram de Gaza graças à valiosa batalha dos mujahideen e que o Katrina é a ira de Deus contra os infiéis - disse o âncora, sentado numa cadeira, ladeado por uma metralhadora e uma cópia do Corão.
Ao fundo, imagens pirateadas da Al-Jazeera, o mais popular canal árabe de notícias, mostravam palestinos celebrando em Gaza e depois palmeiras abatidas pelos ventos do furacão nos EUA.
As outras manchetes do show foram a declaração de guerra do líder da Al-Qaeda no Iraque, Abu Musab al-Zarqawi, aos xiitas daquele país e as mais recentes "vitórias" da rede contra as tropas americanas.
Tecnicamente, a produção não é ruim. Trechos de uma mensagem em áudio de Zarqawi divulgada um mês atrás foram editados num pacote que não faria feio em qualquer grande emissora.
Mantendo um traço cultural da mídia do Oriente Médio, o âncora seguiu a citação do nome de Zarqawi com a oração "que Deus o proteja", da mesma maneira que emissoras estatais da região fazem com os líderes políticos locais.
O ativista islâmico Yasser Sirri, conhecido em Londres, disse que a frente Islâmica de Mídia Global está ativa há um ano e não tem um QG físico.
- Os membros estão em todo o mundo e se comunicam via e-mail - disse Sirri. - Ninguém realmente sabe quem está no comando.
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