A divulgação de uma gravação de vídeo que mostra Osama bin Laden exortando alguns dos suicidas envolvidos nos ataques de 11 de setembro de 2001 faz parte de uma ofensiva de mídia com a intenção de elevar os ânimos dos militantes islâmicos em todo o mundo, disseram analistas.
Enquanto a imprensa internacional transmite imagens de pessoas de luto pelas vítimas no quinto aniversário dos ataques e os governos usam as imagens de Bin Laden para reforçar a justificativa para a guerra contra o terror, a Al-Qaeda mostra a gravação como um triunfo da fé dos suicidas.
- Bin Laden quer gravar a data na história - disse Rohan Gunaratna, do Instituto de Estudos Estratégicos e de Defesa, em Cingapura.
As imagens que mostram o líder da Al-Qaeda junto com Ramzi Binalshibh, um dos principais mentores do plano, hoje sob custódia dos EUA, e falando aos líderes do esquadrão suicida tiveram um significado especial. Analistas acreditam que, ao divulgar a fita, a Al-Qaeda estava declarando "fomos nós", com o objetivo de pôr fim a teorias da conspiração que atribuíam a outras pessoas a autoria dos ataques, que lançaram aviões comerciais contra as torres gêmeas do World Trade Center e contra o Pentágono, matando quase 3 mil pessoas.
A gravação, transmitida pela TV Al Jazeera, não continha indicações sobre a localização de Bin Laden.
- O objetivo básico dessa fita parece ser acabar com as dúvidas de que Bin Laden pudesse não estar associado ao 11/9. Foi a primeira vez que a Al-Qaeda mostrou Osama bin Laden encontrando-se com os executores - disse Ahmad Muaffaq Zaidan, chefe do escritório da Al Jazeera no Paquistão.
Desde o final de 2004 que Bin Laden não é visto em novas imagens, embora tenham surgido gravações de áudio este ano, e a inteligência americana tenha garantido sua autenticidade. Osama bin Laden nunca foi encontrado, e há uma recompensa de US$ 25 milhões por sua cabeça.
- Osama bin Laden não dá muita importância ao fato de as pessoas acharem que ele está vivo ou morto. Ele não pensa do jeito ocidental, seu recado vai além da importância dele mesmo ou da Al-Qaeda. Seu recado vai para os defensores da jihad global - disse Gunaratna, autor do livro "Inside Al-Qaeda" ("Por dentro da Al-Qaeda").
Bin Laden é considerado um ícone por sunitas muçulmanos radicais que se opõem à intromissão ocidental nas terras muçulmanas, seja no Iraque, no Afeganistão ou em qualquer outro lugar.
- Osama está tentando agir como provocador, conclamando os muçulmanos a lutar - disse Zaidan, autor de uma biografia de Bin Laden. - É por isso que a Al-Qaeda está ganhando terreno todo dia - disse Zaidan, que já fez várias entrevistas com Bin Laden no passado.
Sem o apoio do Taliban, derrubado do poder no Afeganistão pelas forças lideradas pelos EUA em 2001, a Al-Qaeda já não é tão poderosa. Sua capacidade de organizar e executar ataques diminuiu e seu contingente foi dizimado, de acordo com o governo paquistanês.
Mas, ao mesmo tempo, grupos militantes se fundiram e novas ligações foram formadas, resultando no surgimento de organizações que seguem o modelo da Al-Qaeda.
O mais recente grande ataque contra o Ocidente foi a explosão de bombas no sistema de transporte londrino, em julho de 2005. Segundo parentes dos envolvidos, os perpetradores admiravam Bin Laden, mas não foi revelado nenhum contato direto com a Al-Qaeda.
Não há indícios do paradeiro de Bin Laden. Acredita-se que ele esteja em algum ponto da fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão, mas integrantes da inteligência paquistanesa admitem que é possível que ele esteja em cidades como Karachi ou Lahore.