Após acompanhar a derrota histórica do peronismo nas eleições presidenciais argentinas no domingo (19), o atual presidente Alberto Fernández afirmou que lhe "faltou sorte" durante os anos de gestão para controlar as contas públicas e a inflação do país, que chegou a 142,7%, em 12 meses.
Em entrevista ao jornal uruguaio El Observador, nesta quarta-feira (22), o mandatário argentino fez uma espécie de balanço da catastrófica administração, que contou com duas influências principais: Cristina Kirchner, à frente da vice-presidência e do Senado, e Sergio Massa, candidato derrotado que comandou o Ministério da Economia.
Embora admitisse que seu governo não conseguiu melhorar os rendimentos da Argentina, Fernández afirmou que “não tinha responsabilidade” sobre a dívida do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI), uma vez que ela foi criada durante a gestão de Maurício Macri, seu antecessor na Casa Rosada. “Macri foi enormemente culpado. Ele recebeu um país sem dívidas e deixou uma dívida de quase 100% do PIB. Ele tem uma dívida enorme assumida em dois anos, impossível de pagar", afirmou.
Durante a entrevista, o presidente argentino também descreveu sua relação com Cristina Kirchner, a vice-presidente do país, como "distante". O mandatário foi classificado como "obediente" a Kirchner em diversas ocasiões pela imprensa argentina. “Ouvi Cristina em muitas questões, mas a verdade é que ele não lhe obedeci em tudo o que ela gostaria. Há momentos em que o presidente decide e não deve obediência a ninguém. Por um lado, pedem-me para ser obediente, por outro lado, dizem-me para ficar com a caneta", explicou. Segundo Fernández, "não era sua missão obedecê-la. E ela sabia disso desde o primeiro dia".
No dia 22 de outubro, data do primeiro turno eleitoral no país, Kirchner afirmou que tinha “divergências notórias" com o chefe da Casa Rosada desde 2020. "Quando disse que era preciso alinhar preços, salários, taxas e aposentadorias, não fui ouvida”, enfatizou a ex-presidente, condenada por corrupção.
Fernández também justificou os desastrosos índices econômicos do país como "má sorte, porque o mundo não conspirou a favor no seu tempo”.
"A pandemia não afetou apenas os argentinos. Não é um consolo. Temos 40% de pobreza, tivemos a pandemia, a guerra e a seca. E agora, para finalizar, temos a crise em Israel dos argentinos sequestrados pelo Hamas. A verdade é que precisava de um pouco mais de sorte, porque o mundo não foi conivente na minha época. Obviamente, não conseguimos resolver o problema da inflação e não conseguimos resolver o problema do rendimento das pessoas. Não conseguimos resolver isso”, apelou o presidente, na tentativa de culpar a situação global pela piora da crise argentina.
Ainda, Fernández tentou apresentar pontos positivos conquistados pelo país neste ano, em meio ao caos econômico instaurado. "Deixo um país onde, apesar de tudo, nos primeiros oito meses deste ano, apresentou recorde de produção industrial”.
O governo peronista foi responsável nos últimos meses pelo agravamento da inflação e da pobreza no país, parte disso ocorreu como efeito do aumento de subsídios sociais, numa tentativa de emplacar uma vitória nas urnas no último domingo (19).
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