A decisão da Organização dos Estados Americanos em iniciar o processo de suspensão da Venezuela, tomada em Washington na terça-feira, mostra que o país está, cada vez mais, isolado diplomaticamente. Tradicionais aliados no Caribe e na América do Sul, muitos deles beneficiados pela venda subsidiada de petróleo, deixaram de apoiá-la, se abstendo de votar.
“É uma decisão muito simbólica”, ressaltou a professora Laura Gamboa-Gutierrez, professora do Departamento de Ciências Políticas da Universidade Estadual de Utah (EUA). Segundo ela, o apoio de 19 países não tem precedentes. “No passado, as resoluções contra a Venezuela fracassavam por causa da falta de votos”, afirmou ela. Agora, a situação se inverteu.
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A ditadura de Maduro só teve o apoio de Bolívia, Dominica e São Vicente e Granadinas na OEA. Cuba, que não participa da entidade, é outro importante aliado venezuelano. Ela recebe petróleo subsidiado do país sul-americano.
Com a decisão da OEA, a professora americana acredita que importantes países na região, como Estados Unidos, estão dispostos a reforçar a pressão contra o ditador Nicolás Maduro. “Isto é chave para a mudança no regime.”
Mas só a pressão é insuficiente para tirar o ditador do poder. Gamboa-Gutierrez aponta que, por si só, não forçará a saída de Maduro do poder, seja ele renunciando ou convocando eleições. Mas acaba fortalecendo a oposição, que atualmente está fragmentada e com os principais líderes presos ou enfrentando fortes restrições a seus direitos. “A decisão da OEA pode encorajar a oposição a se unir.”
Situação econômica
Paulo Wrobel, professor do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, aponta que o recrudescimento da situação econômica e social será mais relevante para enfraquecer o ditador. Este processo pode ser demorado. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que, neste ano, a inflação do país deve alcançar cerca de 13.000% e a economia deve encolher 15%, o que seria o quinto ano seguido de queda no PIB.
“A combinação de forte repressão e a preocupação da população em garantir a sua subsistência são fatores inibidores de mobilização no curto prazo”, diz ele.
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O especialista diz que a Venezuela tende a implodir por conta própria. “A situação por lá é insustentável.” Por enquanto, Maduro se beneficia por ter o apoio dos militares. Entretanto, essa base, que aparentemente era sólida, começa a se esfacelar lentamente. Pelo menos 30 foram presos neste ano, acusados de conspirar contra o ditador e de traição à pátria. O mais graduado foi o general Miguel Rodriguez Torres, ex-homem forte de Chávez e de Maduro.
A complicada situação econômica pode facilitar que a Venezuela sente à mesa de negociações. A produção de petróleo, o principal produto de exportação do país está em queda livre, justo no momento em que os preços estão em alta no mercado internacional. Atualmente, segundo a consultoria venezuelana Ecoanálitica ela é de 1,5 milhão de barris diários. Em 2013, era de 2,68 milhões, de acordo com a petrolífera britânica BP.
Chances maiores de negociação
“Um governo isolado e enfrentando uma situação econômica crítica tem mais chances ir à mesa de negociações com a possibilidade de renunciar do que alguém que ainda tem apoio internacional”, destacou Gamboa-Gutierrez.
O economista venezuelano Asdrubal Viveros, da Ecoanalítica, publicou em sua conta no Twitter que a situação venezuelana é insustentável há tempo. “Mas por ser um regime ditatorial, a mudança não é um processo simples. Em uma democracia mais ou menos imperfeita, a mudança política teria acontecido há muito tempo se tivessem passado pela metade da situação enfrentada pela Venezuela.
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Fora da América Latina, o regime de Maduro também vem perdendo força. Um de seus principais aliados – a China, que tem poder de veto no Conselho de Segurança da Organização Nações Unidos – está pouco disposto a renovar a moratória em relação à dívida venezuelana. “Isto aumenta as pressões sobre o caixa da estatal petrolífera (a PDVSA) e acelera a queda nos níveis de produção”, dizem os economistas da Ecoanalítica.
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