As autoridades da Alemanha anunciaram nesta segunda-feira (26) uma investigação sobre a festa de encerramento do 74ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim, realizada no último sábado (24), quando vários dos vencedores fizeram acusações contra Israel, sem se referir aos atos de terror do Hamas.
A porta-voz adjunta do governo alemão, Christiane Hoffmann, referiu-se a uma declaração da ministra da Cultura, Claudia Roth, na qual esta anunciou que analisará esses incidentes junto com o prefeito de Berlim, Kai Wegner.
Hoffmann acrescentou que Roth também vai conversar com a nova diretora artística da Berlinale - como também é conhecido o festival -, Tricia Tuttle, que assume o cargo a partir da próxima edição, “para esclarecer como se pode evitar que algo assim aconteça novamente no futuro”.
Hoffmann ressaltou que a ministra descreveu as declarações ouvidas durante a cerimônia como “terrivelmente tendenciosas e marcadas pelo ódio contra Israel”.
“É inaceitável, essa é a posição do governo federal, que não tenha havido nenhuma menção ao ataque terrorista do Hamas no dia 7 de outubro”, destacou Hoffmann.
A porta-voz acrescentou que o chanceler alemão, Olaf Scholz, “compartilha a opinião de que essa posição unilateral não pode ser ignorada e que, em qualquer debate sobre esse assunto, é importante, é claro, ter em mente o evento que desencadeou essa nova escalada do conflito, ou seja, o ataque do Hamas”.
O prefeito de Berlim escreveu em sua conta na rede social X (ex-Twitter) que o que aconteceu durante a festa de encerramento do festival foi uma relativização inaceitável e que não há lugar para o antissemitismo em Berlim, e isso também se aplica ao mundo artístico.
Wegner expressou sua esperança de que a nova administração da Berlinale tome as providências para que tais incidentes não se repitam.
“Berlim tem uma posição clara quando se trata de liberdade. Berlim está firmemente ao lado de Israel. Não há dúvidas quanto a isso. Toda a responsabilidade pelo profundo sofrimento em Israel e na Faixa de Gaza é do Hamas. Somente ele tem em suas mãos a responsabilidade de pôr fim a esse sofrimento, libertando todos os reféns e depondo suas armas. Não há espaço para relativização aqui”, acrescentou.
As declarações de Wegner e Roth foram feitas poucas horas depois de imprensa e políticos criticarem, em seus sites e redes sociais, a indústria cultural pelo que aconteceu durante a festa e também as autoridades presentes na cerimônia de premiação por não reagirem imediatamente.
O cineasta e ativista palestino Basel Adra, codiretor com outros três cineastas de “No Other Land”, documentário sobre a Cisjordânia premiado na sua categoria, exigiu em seu discurso ao receber o prêmio que a Alemanha parasse de fornecer armas a Israel.
Adra declarou, sob fortes aplausos, que “achava difícil comemorar o prêmio enquanto dezenas de milhares de pessoas estão sendo massacradas em Gaza”.
Já seu colega israelense Yuval Abrahan falou sobre “ocupação” e “apartheid”.
O cineasta e ativista americano Ben Russell, codiretor com Guillaume Cailleau do filme “Direct Action”, que ganhou o prêmio de melhor filme na seção Encontros e uma menção especial na categoria de Melhor Documentário, acusou Israel de “genocídio”, usando um lenço palestino, sendo também aplaudido.
Somente a codiretora da Berlinale, Marriette Rissenbeek, fez uma alusão ao Hamas e pediu ao grupo terrorista palestino que libertasse os reféns, ao mesmo tempo em que solicitou ao governo israelense que alivie o sofrimento da população civil da Faixa de Gaza e facilite uma paz rápida.