Alemanha aprova pacote trilionário para impulsionar defesa e infraestrutura
Plano foi aprovado durante sessão no Bundesrat nesta sexta (21)| Foto: EFE/EPA/CLEMENS BILAN
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A câmara alta do Parlamento da Alemanha aprovou nesta sexta-feira (21) um plano trilionário em defesa proposto pelo provável próximo chanceler Friedrich Merz, sinalizando uma guinada histórica na postura do país desde a Segunda Guerra Mundial. Com apoio da maioria dos parlamentares em ambas as casas legislativas – o Bundestag (câmara baixa) e Bundesrat (câmara alta) - o pacote autoriza investimentos de até 1 trilhão de euros nos próximos anos, liberando o país das rígidas amarras fiscais para ampliar seus gastos militares e revitalizar sua infraestrutura.

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O plano, viabilizado por uma emenda constitucional, permite que todo o investimento acima de 1% do PIB destinado à defesa — incluindo ajuda à Ucrânia — fique fora das regras da chamada “barreira da dívida”. Além disso, estabelece um fundo de 500 bilhões de euros a ser usado em obras de infraestrutura ao longo de 12 anos, com foco em transporte, digitalização, energia e combate às mudanças climáticas.

O idealizador da proposta, Friedrich Merz, líder do CDU/CSU, união partidária que venceu a última eleição geral, e que deve assumir oficialmente o cargo de chanceler federal em abril, após concluir as negociações para uma nova coalizão de governo, conseguiu articular um acordo no Congresso para garantir os dois terços de apoio necessários à aprovação da medida.

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“Considerando os perigos à nossa liberdade e à paz no continente, isso é essencial”, afirmou Merz ao defender as mudanças na legislação fiscal durante um discurso no Bundestag.

A nova política de defesa alemã prevê compras bilionárias de armamentos, como caças de última geração, além da ampliação do apoio militar à Ucrânia, com uma promessa adicional de 3 bilhões de euros em equipamentos. Desde o início do conflito no leste europeu, a Alemanha já forneceu sistemas de defesa aérea IRIS-T, mísseis Patriot, tanques Leopard e veículos Marder ao governo de Kiev.

A decisão alemã ocorre em um momento de pressão crescente por parte dos Estados Unidos para que os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) invistam mais em defesa. O presidente Donald Trump tem cobrado que os membros da aliança atlântica destinem pelo menos 5% de seus PIBs à área militar. Ele também já afirmou que os EUA poderiam deixar de honrar o artigo 5º do tratado da Otan — cláusula de defesa mútua — caso os aliados não cumpram metas de investimento.

Nesse cenário, a movimentação da Alemanha é vista como um marco estratégico.

“Berlim está quebrando o cofre, e está fazendo isso antes mesmo do próximo governo estar oficialmente empossado”, disse ao jornal americano The Wall Street Journal François Heisbourg, especialista em estratégia militar. Segundo ele, “a Alemanha está se dando os meios para se tornar uma força militar à altura de seu peso econômico e estratégico. Isso é uma mudança de era.”

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Analistas ouvidos pela mídia internacional apontam que o impacto positivo do pacote dependerá da implementação de outras reformas estruturais complementares, como ajustes no sistema tributário, na burocracia e no mercado de trabalho. Segundo economistas da seguradora Allianz, citados pelo WSJ, se bem executado, o plano pode gerar um crescimento de 0,3% no Produto Interno Bruto (PIB) alemão já neste ano e até 2,1% até 2027. Ainda que a dívida pública do país deva subir para 68% do PIB nesse período, o índice permanece abaixo da média europeia e americana.

Outra vantagem do pacote é o impulso à indústria de defesa nacional, que já demonstrou capacidade de resposta rápida ao abastecer a Ucrânia. Empresas como a Rheinmetall, fabricante de veículos blindados e munições, deverão ser grandes beneficiadas.

O projeto também corrige uma lacuna histórica: a Alemanha por décadas não atingia a meta de 2% do PIB para defesa que é estipulada pela Otan. Apenas em 2024 o país conseguiu alcançar esse patamar — feito considerado simbólico diante das novas ameaças geopolíticas na Europa Oriental.

A nova coalizão liderada por Merz, que deve incluir o partido do chanceler cessante Olaf Scholz, o SPD, ainda precisa alinhar posições sobre temas como imigração ilegal e cortes de impostos, mas já mostrou unidade para aprovar o pacote trilionário. A expectativa é que os detalhes finais do plano sejam regulamentados até o fim de abril, quando o novo governo possivelmente estará oficialmente empossado.