A Alemanha declarou, na sexta-feira (17), que a pandemia do novo coronavírus está "sob controle" no país.
O ministro da Saúde da Alemanha, Jens Spahn, disse na sexta-feira que o vírus está controlado na maior economia da Europa graças às medidas de confinamento impostas logo após o aumento de casos no início do surto. "Os números da infecção caíram significativamente, especialmente o aumento diário relativo", disse.
Com isso, o país de 83 milhões de habitantes começa agora a dar os primeiros passos para a volta à normalidade. A partir desta segunda-feira, lojas com menos de 800 metros quadrados têm permissão para reabrir, desde que tenham planos para garantir a higiene e evitar grande concentração de pessoas. Livrarias, lojas de carros e de bicicletas também podem abrir, independentemente do seu tamanho.
As escolas vão começar a reabrir a partir de 4 de maio. Salões de cabeleireiro também poderão funcionar a partir dessa data. Restaurantes, bares, teatros e casas de show ficarão fechados até o fim de agosto. Nesse período, continuam proibidos os eventos públicos, grandes aglomerações e a realização de serviços religiosos.
As medidas rígidas de distanciamento social continuam em vigor. Reuniões em público entre mais de duas pessoas, exceto as que moram na mesma casa, estão proibidas. Os cidadãos foram aconselhados a usar máscaras no transporte público e no comércio. O governo alemão mantém a recomendação de evitar viagens e visitas desnecessárias.
As restrições à circulação foram aprovadas pela chanceler Angela Merkel e governadores estaduais em 22 de março. O plano de reabertura anunciado na semana passada foi feito em acordo com os governadores, que têm a autoridade para abrir ou fechar escolas, creches e outros.
Sem colapso
A Alemanha é um dos países da Europa mais atingidos pela pandemia, mas a taxa de letalidade da doença no país é mais baixa do que a de seus vizinhos. Até esta segunda-feira, o país registra pouco mais de 145 mil casos e 4.642 mortes por Covid-19. Segundo dados divulgados pela Universidade Johns Hopkins, 91.500 pessoas se recuperaram da doença no país. O primeiro caso de Covid-19 na Alemanha foi registrado em 28 de janeiro.
Para comparação, na França mais de 19 mil pessoas morreram de Covid-19, entre 154 mil infectados.
A Alemanha tem a seu favor um sistema coordenado de saúde e sólidas instituições científicas espalhadas pelo país. Além disso, a maioria da população aprova as medidas tomadas para o combate à pandemia e tem obedecido as restrições.
"Nós conseguimos algo que não estava garantido", disse Merkel na quarta-feira (15). "Nosso sistema de saúde continua funcionando", afirmou a chanceler ao anunciar as novas medidas.
Merkel descreveu os dados recentes que indicam uma desaceleração da taxa da infecção no país como um "sucesso intermediário frágil".
A queda da taxa de infecção do novo coronavírus na Alemanha foi um dado crucial para a decisão de retomar as atividades no país. O Instituto Robert Koch informou na quinta-feira que a taxa de infecção de pessoa para pessoa caiu para 0,7% no território alemão. Isso significa que uma pessoa infectada pelo novo coronavírus transmite a doença, em média, para menos de uma pessoa.
A taxa média de infecção do coronavírus é 2,2, enquanto a da gripe comum é de 1,3.
A Alemanha agiu rápido para conter a propagação do novo coronavírus, conduzindo o maior programa de testes para a doença na Europa. Com 350 mil testes feitos por semana, o país conseguiu detectar o vírus em tempo suficiente para isolar e tratar os pacientes. Diante da escassez global de insumos médicos e laboratoriais necessários para o combate ao coronavírus, os laboratórios da Alemanha têm capacidade para produzir os kits diagnósticos usados nacionalmente.
A grande quantidade de testes aplicados é outra explicação para o relativamente baixo número de casos fatais de Covid-19 na Alemanha. Realizando mais testes, mais pessoas infectadas com poucos ou nenhum sintomas são detectadas, o que aumenta o número de casos conhecidos, mas não o de mortes.
Os números de mortes menores do que o de países vizinhos também se deve ao sistema público de saúde alemão e à capacidade de atendimento aos pacientes mais graves. Desde a chegada do vírus no país, os hospitais alemães ampliaram as suas unidades de tratamento intensivo. Em janeiro, a Alemanha tinha cerca de 28 mil leitos de UTI equipados com respiradores, ou 34 por 100 mil habitantes. Para comparação, essa taxa é de 12 na Itália e sete na Holanda. Agora, 40 mil leitos de UTI estão disponíveis na Alemanha.
Confiança no governo
Angela Merkel, que é formada em física e doutora em química quântica, tem sido elogiada por sua atuação diante da crise nacional.
"Talvez a nossa maior força na Alemanha seja a tomada de decisão racional no nível mais alto de governo combinada com a confiança que a população tem no governo", disse Hans-Georg Kräusslich, diretor de virologia no Hospital Universitário de Heidelberg, ao New York Times.
Nesta segunda-feira, Merkel enfatizou que o problema ainda não está resolvido. "Devemos permanecer vigilantes e disciplinados", disse a chanceler, como relatou a Deutsche Welle. Se o número de infecções voltar a subir acentuadamente após a retomada das atividades, as restrições mais rígidas teriam que ser colocadas novamente em vigor, o que a chanceler quer evitar, para proteger a economia.
Rastreamento de contatos
O ministro da Saúde anunciou que a Alemanha produzirá 50 milhões de máscaras por semana a partir de agosto e "recomendou fortemente" o uso delas pela população. Spahn também disse que um aplicativo de rastreamento de contatos estará disponível em algumas semanas.
Vários países trabalham para desenvolver aplicativos similares, que informarão as pessoas se elas estiveram perto de alguém que descobriu que foi infectado pelo vírus.
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