Um tribunal alemão iniciou nesta segunda-feira (30) o julgamento de John Demjanjuk. Ele enfrenta acusações de ter participado de maneira indireta da matança de 27.900 judeus num campo de extermínio nazista. O advogado de Demjanjuk, um trabalhador aposentado de 89 anos, acusou a corte de parcialidade.
Demjanjuk chegou ao tribunal numa cadeira de rodas para escutar o capítulo final de 30 anos de esforços para acusá-lo. O advogado do réu abriu os procedimentos ao entrar com uma moção contra o juiz e os promotores do tribunal, aos quais acusou de tratarem Demjanjuk, que nasceu na Ucrânia, de maneira bem mais dura que os soldados alemães que controlavam o campo de extermínio de Sobibor, na Polônia.
O advogado Ulrich Busch disse que a questão jamais deveria ser levada a julgamento. Ele citou casos nos quais soldados alemães designados para Sobibor - onde os promotores alegam que Demjanjuk serviu como guarda - foram inocentados. "Como você pode dizer que aqueles que deram as ordens eram inocentes... E alguém que recebeu ordens é culpado?", afirmou Busch à corte. "Existe uma moral e um padrão duplos sendo aplicados hoje.
Demjanjuk foi deportado em maio dos Estados Unidos à Alemanha e, desde então, ficou detido. Ele poderá ser sentenciado a até 15 anos de prisão se for condenado. Um médico que examinou Demjanjuk duas horas antes do começo do julgamento disse que todos os sinais vitais do réu eram estáveis.
Efraim Zuroff, o principal caçador de nazistas no Centro Simon Wiesenthal, disse que era importante que finalmente o julgamento ocorresse, mas teme que Demjanjuk tenha parecido mais doente do que realmente está. "Ele tem um claro interesse em aparecer tão doente e frágil quanto possível. E ele jogará esse papel até o final.
'Ivã, o Terrível'
Demjanjuk se tornou um nome conhecido na década de 1980, quando foi extraditado pelos EUA para julgamento em Israel, sob a acusação de que ele era o brutal guarda no campo de extermínio de Treblimka, conhecido como "Ivã, o Terrível". Ele foi condenado em 1988 por crimes de guerra e crimes contra a humanidade e passou sete anos preso em Israel, até que a Suprema Corte israelense anulou a condenação em 1993. O tribunal máximo de Israel determinou que foi outra pessoa, e não Demjanjuk, o verdadeiro "Ivã, o Terrível".
Demjanjuk, um ex-soldado do Exército Vermelho soviético, é agora acusado de ter servido voluntariamente como guarda, sob a SS, após ter sido feito prisioneiro pelos nazistas em 1942. De acordo com o indiciamento, ele serviu como simples "wachmann", ou guarda, sob ordens da SS. Como tal, é a pessoa de mais baixa patente a ir a julgamento por crimes de guerra na era nazista.
Os procuradores alegam que, mesmo sem testemunhas vivas que impliquem Demjanjuk em atos de brutalidade e assassinato, apenas ter sido um guarda num campo de extermínio significa que ele esteve envolvido na máquina de destruição nazista.