1961: o Muro de Berlim no ano de sua construção, cercado por tropas comunistas do oriente| Foto: Creative Commons

História

Divisão foi o símbolo maior da disputa entre capitalismo e socialismo

O Muro de Berlim foi construído em 1961 pelo regime socialista da extinta República Democrática Alemã, também conhecida como Alemanha Oriental. O objetivo era separar duas áreas da capital alemã, então dividida entre uma parte capitalista e outra socialista. A construção se estendia por 37 quilômetros dentro da zona urbana da cidade.

A ideia de construir um muro dividindo a capital alemã surgiu ao final da Segunda Guerra Mundial, com a derrota da Alemanha e sua consequente ocupação pelas forças aliadas. Cada país herdou um setor de Berlim, sendo um americano, um inglês, um francês e um soviético. Os três primeiros formaram a parte capitalista, enquanto o último adotou o regime socialista. Nasciam assim as Alemanhas Ocidental e Oriental. O muro visava preservar o lado oriental da influência capitalista.

Com a derrocada da União Soviética e seus aliados no Leste Europeu, o regime comunista também foi perdendo força. Em 9 de novembro de 1989, o muro começa a ser derrubado, colocando fim a um dos principais símbolos da Guerra Fria e reunificando a Alemanha.

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"Reconstrução"

Entre as atividades programadas para celebrar os 25 anos da queda do Muro de Berlim está a "reconstrução" da barreira. O muro será reconstituído de forma simbólica, com 8 mil balões de luz. Eles vão dividir a capital alemã em dois lados, seguindo a mesma linha do muro, por 16 quilômetros. Os balões vão cruzar Berlim do dia 7 ao dia 9 de novembro.

1989: soldados fazem vigia no local após a queda que marcou a reunificação da Alemanha
2014: menino observa o outro lado do muro, que se tornou atração turística da capital alemã

No próximo domingo completam-se exatos 25 anos de um dos episódios mais importantes da história contemporânea. Era o dia 9 de novembro de 1989 quando o muro que dividia a capital alemã Berlim veio abaixo. Mais do que uma barreira física que separava moradores da mesma cidade, começava a ruir a polarização que durante décadas confrontou dois sistemas políticos, o comunismo e o capitalismo. À medida que a Alemanha iniciava o processo de reunificação, grande parte dos regimes socialistas pelo mundo entrava em colapso.

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O historiador britânico Frederick Taylor mergulhou a fundo na história do Muro de Berlim, da construção à derrubada, passando por todos os anos de divisão política e social. Dessa pesquisa nasceu o livro Muro de Berlim – Um Mundo Dividido 1961-1989, que reúne relatos e análises sobre os mitos que essa divisão criou em todo o mundo. Taylor conversou por e-mail com a reportagem da Gazeta do Povo e falou sobre o significado do muro e a influência que ele ainda exerce, 25 anos depois da queda. Quando da construção do muro, imaginava-se que ele teria o significado que ganhou durante décadas, de uma divisão não apenas regional, mas mundial entre dois regimes políticos?

Estava claro em 1961 que o muro seria um divisor entre dois sistemas globais. No oriente, sob controle comunista, o muro era apresentado abertamente como um instrumento para prevenir que os valores ocidentais minassem a construção do comunismo na Alemanha Oriental e no restante do bloco soviético.

Berlim era, de alguma forma, estratégica para os dois grandes blocos da Guerra Fria (Estados Unidos e União Soviética)?

Para os soviéticos, a presença de tropas britânicas, americanas e francesas em Berlim Ocidental, assim como um governo municipal eleito democraticamente em setores do ocidente, eram uma ameaça e uma inconveniência. Para o ocidente, especialmente para os americanos, isso era um alerta ao controle comunista na Europa e uma mostra dos valores ocidentais. Dessa forma, os dois lados estavam preparados para o risco de um enfrentamento. Apenas quando ficou claro aos russos que os americanos não estavam dispostos a se retirar os comunistas aceitaram a existência de Berlim Ocidental. Mas a luta entre ocidente e oriente continuou, com maiores possibilidades de sucesso ao comunismo e sem risco de uma guerra nuclear.

Em sua pesquisa o senhor ouviu muitas histórias de quem viveu aquela época. Qual delas mais impressionou?

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Há muitas histórias impressionantes. De todas elas, acho que a história das pessoas que fizeram túneis sob o muro para ajudar pessoas a escapar do lado oriental são as que mais me impressionaram. O perigo, a sujeira, o medo de que, quando chegassem do outro lado, a polícia comunista estaria pronta para prendê-los... São histórias fantásticas e de um grau de coragem que eu jamais me vejo equiparando (principalmente porque tenho claustrofobia).

Em que momento o muro começou a ruir?

Por cerca de dez anos após a construção do muro a Alemanha Oriental esteve muito bem. Aí veio o aumento dramático no preço do petróleo. Depois, na década de 1970, houve o chamado "Tratado de Helsinki" dos direitos humanos, assinado pela Alemanha Oriental, mas que não tinha a intenção de implantá-lo. Isso foi gradualmente aplacando o regime comunista. O sistema econômico na Alemanha Oriental se mostrou ineficiente e o país, com poucos recursos naturais, precisou importar muito do ocidente. Aos poucos, o regime comunista se tornou dependente de empréstimos e transferências da Alemanha Ocidental, que, por sua vez, foi enriquecendo. Na década de 80, esses fatores tornaram o regime comunista cada vez mais fraco. Além disso, a União Soviética também estava cada vez menos disposta a ajudar o regime militar da Alemanha Oriental. Em 1989 o regime estava oco como uma árvore apodrecida, pronto para desmoronar.

Vinte e cinco anos depois da queda, Berlim e a Alemanha ainda guardam resquícios daquela divisão?

Ainda há alguns elementos de divisão na sociedade alemã, apesar de eles estarem diminuindo. No início a distinção era bem forte. Muitos acreditavam que o Partido Comunista iria desaparecer enquanto uma nova geração cresceria no ocidente. Hoje, no entanto, o ex-Partido Comunista ainda é uma importante força política. Mas isso não acontece exclusivamente em função das divisões do passado. A extrema esquerda ainda está ganhando apoio na antiga Alemanha Oriental. Muitos dos novos políticos da Alemanha unificada estão mais apoiados em divisões de classe do que geográficas. Na verdade, os políticos da Alemanha unificada se parecem mais com os da Alemanha dos anos 1920, com os seis maiores partidos distribuídos entre a extrema direita e a extrema esquerda, embora as políticas não sejam tão violentas quanto naquela época. Hoje a Alemanha ainda é um país bastante desigual, econômica e socialmente, e não apenas no antigo oriente. Partes da antiga Alemanha Oriental agora são ricas, enquanto partes da antiga Alemanha Ocidental se tornaram mais pobres.

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