O grupo Siemens lançou uma campanha surpreendente que dará um prêmio de 3.000 euros a quem encontrar um engenheiro, revelando assim a crescente dificuldade das empresas alemãs de contratar mão-de-obra qualificada, sobretudo diante da demanda cada vez maior das indústrias.
Com um déficit de cerca de mil empregados, a Siemens revelou sua iniciativa há uma semana. Na mesma linha, a Software AG, número dois do setor da informática na Alemanha, anunciou ter adotado um programa de formação próprio para recrutar mais de 2.000 técnicos de informática até 2010.
Em contrapartida, o setor em expansão de energias renováveis teme uma desaceleração porque "falta pessoal qualificado, engenheiros e técnicos", declarou em entrevista ao jornal Die Zeit o presidente da federação do setor (BEE), Johannes Lackmann.
Estes exemplos ilustram um fenômeno que preocupa também a Agência alemã para o Emprego: a escassez de mão-de-obra em setores que exigem diplomas técnicos.
O instituto de pesquisa econômica IW de Colônia (oeste) acaba de publicar um estudo que calcula em 23.000 as vagas livres de engenheiro por mês, em média.
Os pesquisadores do IW garantem que, em 2006, este fenômeno deu prejuízo de 3,48 bilhões de euros à economia alemã.
No entanto, é evidente a contradição entre este fenômeno e o fato de que, apesar de estar em seu patamar mais baixo dos últimos cinco anos e meio, o desemprego atinge 3,8 milhões de alemães.
"Há um problema de imagem na profissão de engenheiro", destaca Michael Schwartz, porta-voz da Federação de Engenheiros Alemães (VDI) entrevistado pela AFP.
"Os jovens ainda se imaginam uns senhores vestidos de azul que passam seus dias em meio às máquinas", lamenta, destacando que as "funções técnicas interessam cada vez menos aos alemães da faixa dos 20 anos".
As condições demográficas e migratórias também explicam o fenômeno: a população alemã está envelhecendo e deixando o país. Cerca de 155.000 alemães foram morar no exterior em 2006, principalmente na Suíça, Estados Unidos e Áustria, segundo estatística divulgadas nesta semana.
Para o ex-diretor do grupo automobilístico BMW, Joachim Milberg, para enfrentar a escassez de mão-de-obra é preciso investir em formação. Para isso, ele sugere a criação de uma "academia de ciências técnicas".
Caso o problema aumente, segundo Milberg, a saída é contratar engenheiros estrangeiros. Neste caso, lamenta o empresário, há muitas as medidas restritivas que pesam sobre o setor.
"Um engenheiro ou um diretor estrangeiro que quer trabalhar na Alemanha deve demonstrar ás autoridades que ganhem mais de 80.000 euros por ano", destacou.
No entanto, para Wolfgang Braun, do instituto de pesquisa IAB, a situação não é tão alarmante como afirmam algumas empresas. Ele acredita que estas empresas deveriam suavizar seus critérios de seleção.
Para Braun, isto significa por exemplo não apenas contratar homens jovens, mas também mulheres e maiores de 50 anos.
Em todo caso, as empresas alemãs estão começando a buscar soluções que incentivem o emprego. Este é o caso da companhia de serviços que publicou nesta sexta-feira um anúncio com o qual espera contratar 260 engenheiros propondo abonos para escolas e babás.