Berlim - Os eleitores da Alemanha escolhem hoje os novos membros do Parlamento federal, e a chanceler (premier) Angela Merkel é apontada como a grande favorita para seguir liderando o país. Os resultados finais podem, porém, trazer algumas mudanças importantes na política nacional.
"Angela Merkel permanecerá como chanceler em todos os cenários", afirma o cientista político Gero Neugebauer, da Universidade Livre de Berlim. A grande expectativa, porém, é sobre como será a formação do segundo governo Merkel.
Em 2005, o partido da chanceler, União Democrata Cristã (CDU, pelas iniciais em alemão), obteve uma vitória estreita. O resultado forçou a formação de uma "grande coalizão", entre o CDU e seus rivais do Partido Social-Democrata (SPD, pela sigla em alemão). Agora mais fortalecida, Merkel tenta formar uma nova coalizão, sem o SPD.
"A chance da manutenção da grande coalizão é muito pequena", nota Neugebauer. O professor revela que a tendência é haver uma maioria para a coalizão entre conservadores e liberais, "mesmo que estreita". O parceiro preferencial para a CDU é o Partido Democrático-Liberal (FDP, também pelas iniciais em alemão).
Já outro analista, Günther Maihold, do independente German Institute for International and Security Affairs, acredita que é possível ainda haver a manutenção da grande coalizão.
Ele justifica seu ponto de vista apontando para o alto número de indecisos: "Até o momento há ainda um terço dos eleitores que não decidiu seus votos, de maneira que pode haver surpresas de última hora."
Maihold lembra que, em eleições anteriores, os social-democratas tiveram desempenho bastante superior ao previsto pelas pesquisas.
Desafios
Entre abril e junho, a economia da Alemanha cresceu 0,3%, tirando o país da recessão. Uma líder considerada discreta e com boa imagem pessoal, Merkel foi bem avaliada por boa parte da população por sua forma de conduzir o país na crise. Além disso, beneficia-se de uma oposição dividida. Merkel argumenta que ainda são necessárias reformas para haver mais crescimento, e a atual formação de governo não seria a ideal para avançar nesses pontos.
Apesar da melhoria no cenário, Neugebauer prevê um futuro difícil para o novo governo Merkel, independentemente da coalizão que assuma. Ele estima que o desemprego deve subir dos atuais 3,5 milhões de pessoas (oficialmente 8,3% da força de trabalho em agosto, segundo a Agência Federal do Trabalho do governo alemão) para 4 milhões. O problema do desemprego é ainda mais grave no leste do país, na antiga República Democrática da Alemanha (RDA), onde mesmo 20 anos após a reunificação a taxa de desemprego é o dobro da média nacional.
Neugebauer lembra que a crise reduziu os ganhos com os impostos, mas aumentou a necessidade de gastos em seguridade social. Os liberais, porém, querem reduzir logo os impostos, enquanto a CDU acredita que não é o momento para isso, o que pode gerar atritos.
Outro desafio pela frente é comum a vários países europeus: o envelhecimento da população e, em consequência, da força de trabalho. Um estudo da consultoria McKinsey projeta que em 2020 a Alemanha terá falta de 2,4 milhões de trabalhadores.
Segundo projeção da Divisão de População da Organização das Nações Unidas (ONU), a população de idosos com mais de 65 anos na Alemanha chegará a 20% do total dos alemães em 2010 e se aproximará de 25% da população total em 2020. É uma proporção de envelhecimento só superada pelo Japão, que segundo os dados da mesma divisão da ONU superou a marca de 20% em 2005. Os dados foram reproduzidos pela revista The Economist de 19 de setembro.
"Em algum momento, você começa a ter problemas com uma força de trabalho pequena para sustentar uma grande população de idosos aposentados. Você pode melhorar a tecnologia, mas precisa de uma grande quantidade de jovens no mercado de trabalho", comenta o economista Fábio Pina, da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), para quem a Alemanha precisa fazer um ajuste na previdência e estimular a natalidade.