Quem é - Chanceler conquista eleitores com estilo discreto e novo corte de cabelo

Berlim - Uma década atrás, Angela Merkel era conhecida pelos alemães principalmente por seu feio corte de cabelo, que fazia com que ela fosse alvo de piadas. Hoje em dia, como chanceler da Alemanha, é considerada a mulher mais poderosa do planeta e é ela quem faz as piadas.

Nos últimos quatro anos, Merkel liderou de forma cautelosa, mas competente. E depois de uma campanha sem muito brilho, ela deve vencer seu ministro de Relações Exteriores de centro-esquerda, Frank-Walter Steinmeier.

Merkel e Steinmeier, que lidera o Partido Social-Democrata (SPD, também pela sigla em alemão), têm governado juntos na "grande coalizão" desde 2005.

Em meio à crise financeira, os alemães parecem se confortar com o estilo reservado de Merkel: a chanceler de 55 anos prefere ouvir e fazer considerações antes de tomar qualquer decisão e, em sua propaganda na televisão, identifica a força como "não ser levada por todas as situações difíceis".

"Ela não cometeu nenhum grande erro", avalia Ulla Bock, socióloga da Universidade Livre de Berlim. No governo, Merkel geralmente deixa as discussões entre os participantes de direita e de esquerda de sua "grande coalizão" se encerrarem antes de intervir.

Em 2009, a revista Forbes qualificou Merkel como a mulher mais poderosa do mundo pelo quarto ano consecutivo. Como líder da terceira maior economia do mundo, poucas mulheres poderiam disputar esse título, embora ela tenha tido um início improvável.

Agência Estado

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Veja que Angela Merkel deve continuar no poder após eleição de hoje
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Berlim - Os eleitores da Alemanha escolhem hoje os novos membros do Parlamento federal, e a chanceler (premier) Angela Merkel é apontada como a grande favorita para seguir liderando o país. Os resultados finais podem, porém, trazer algumas mudanças importantes na política nacional.

"Angela Merkel permanecerá como chanceler em todos os cenários", afirma o cientista político Gero Neugebauer, da Universi­­dade Livre de Berlim. A grande expectativa, porém, é sobre como será a formação do segundo governo Merkel.

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Em 2005, o partido da chanceler, União Democrata Cristã (CDU, pelas iniciais em alemão), obteve uma vitória estreita. O resultado forçou a formação de uma "grande coalizão", entre o CDU e seus rivais do Partido Social-Democrata (SPD, pela sigla em alemão). Agora mais fortalecida, Merkel tenta formar uma nova coalizão, sem o SPD.

"A chance da manutenção da ‘grande coalizão’ é muito pequena", nota Neugebauer. O professor revela que a tendência é haver uma maioria para a coalizão entre conservadores e liberais, "mesmo que estreita". O parceiro preferencial para a CDU é o Partido De­­mo­­crático-Liberal (FDP, também pe­­las iniciais em alemão).

Já outro analista, Günther Maihold, do independente Ger­­man Institute for International and Security Affairs, acredita que é possível ainda haver a manutenção da grande coalizão.

Ele justifica seu ponto de vista apontando para o alto número de indecisos: "Até o momento há ainda um terço dos eleitores que não decidiu seus votos, de maneira que pode haver surpresas de última hora."

Maihold lembra que, em eleições anteriores, os social-democratas tiveram desempenho bastante superior ao previsto pelas pesquisas.

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Desafios

Entre abril e junho, a economia da Alemanha cresceu 0,3%, tirando o país da recessão. Uma líder considerada discreta e com boa imagem pessoal, Merkel foi bem avaliada por boa parte da população por sua forma de conduzir o país na crise. Além disso, beneficia-se de uma oposição dividida. Merkel argumenta que ainda são necessárias reformas para haver mais crescimento, e a atual formação de governo não seria a ideal para avançar nesses pontos.

Apesar da melhoria no cenário, Neugebauer prevê um futuro difícil para o novo governo Mer­­kel, independentemente da coalizão que assuma. Ele estima que o desemprego deve subir dos atuais 3,5 milhões de pessoas (oficialmente 8,3% da força de trabalho em agosto, segundo a Agência Federal do Trabalho do governo alemão) para 4 milhões. O problema do desemprego é ainda mais grave no leste do país, na antiga República Democrática da Alemanha (RDA), onde mesmo 20 anos após a reunificação a taxa de desemprego é o dobro da média nacional.

Neugebauer lembra que a crise reduziu os ganhos com os impostos, mas aumentou a necessidade de gastos em seguridade social. Os liberais, porém, querem reduzir logo os impostos, enquanto a CDU acredita que não é o momento para isso, o que pode gerar atritos.

Outro desafio pela frente é comum a vários países europeus: o envelhecimento da população e, em consequência, da força de trabalho. Um estudo da consultoria McKinsey projeta que em 2020 a Alemanha terá falta de 2,4 milhões de trabalhadores.

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Segundo projeção da Divisão de População da Organização das Nações Unidas (ONU), a população de idosos com mais de 65 anos na Alemanha chegará a 20% do total dos alemães em 2010 e se aproximará de 25% da população total em 2020. É uma proporção de envelhecimento só superada pelo Japão, que segundo os dados da mesma divisão da ONU superou a marca de 20% em 2005. Os dados foram reproduzidos pela revista The Economist de 19 de setembro.

"Em algum momento, você começa a ter problemas com uma força de trabalho pequena para sustentar uma grande população de idosos aposentados. Você pode melhorar a tecnologia, mas precisa de uma grande quantidade de jovens no mercado de trabalho", comenta o economista Fábio Pi­­na, da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), para quem a Alemanha precisa fazer um ajuste na previdência e estimular a natalidade.