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O Great Reset, plano das elites ocidentais para mudar as cadeias de produção e implantar um “capitalismo verde” e que cujo resultado deve desembocar, como disse Andrew Stuttaford na National Review, em uma economia corporativista, preocupa aqueles que lutam por mais liberdade social e econômica.
A lista de políticos, empresários e outros proeminentes que participaram das conferências do Fórum Econômico Global sobre o assunto também chamou a atenção de outros países do globo, inclusive da Rússia, onde um dos mais proeminentes intelectuais do país se manifestou recentemente contra o objetivo do fórum.
Alexander Dugin é o mais famoso ideólogo russo e foi durante muitos anos próximo de Vladimir Putin. Dugin lançou recentemente um manifesto chamado The Great Awekening [O grande despertar] que pretende ser um contraponto à “grande reinicialização” proposta pelo Fórum Econômico Mundial.
O pensador russo apresenta uma visão interessante sobre os problemas recentes do mundo, mas é notável que "se esquece" dos problemas que o próprio regime comunista causou. Se o manifesto pode faltar um pouco com a objetividade, ao menos apresenta como uma parcela da classe dirigente russa encara o Ocidente.
A política externa de Biden
Dugin destaca o termo "sustentável" do plano do Great Reset como “o conceito mais importante do Clube de Roma – o ‘desenvolvimento sustentável’. Esta teoria baseia-se em outra teoria – os ‘limites do crescimento’, segundo a qual a superpopulação do planeta atingiu um ponto crítico (o que implica a necessidade de reduzir a taxa de natalidade)”.
Como o plano propõe uma mudança grande de paradigmas para a redução total das emissões de carbono, o pensador russo afirma que é essencial “capturar a imaginação e a vontade da humanidade: a mudança só acontecerá se as pessoas realmente quiserem”.
A principal ideia da "Grande Reinicialização" é a continuação da globalização e o fortalecimento do globalismo após o interregno de Donald Trump. Os Estados Unidos, pela força que possui de influenciar a política de outros países, vão favorecer o great reset. Ao menos é o que pensa Dugin, a política externa de Biden será resumida à quatro medidas principais:
- a escalada das relações com os países e regimes que rejeitam a globalização (e aqui ele inclui, Rússia, China, Irã, Turquia, etc.).
- uma maior presença militar dos EUA no Oriente Médio, Europa e África.
- a disseminação da instabilidade e das "revoluções coloridas".
- o uso generalizado de "demonização", da "exclusão de plataformas" e do ostracismo de rede (cultura do cancelamento) contra todos aqueles que têm pontos de vista diferentes dos globalistas (tanto no exterior quanto nos próprios EUA).
O papel da Rússia
Dugin reconhece que há uma parcela grande da sociedade europeia e norte-americana insatisfeita com o atual estado do Ocidente, que ele identifica com os “trumpistas” e com os “movimentos populistas da Europa”, mas o mais importante papel de combate ao globalismo ele atribui à Rússia.
“Após a tentativa fracassada de se integrar à comunidade global na década de 1990, graças ao fracasso das reformas liberais, a sociedade russa ficou ainda mais convencida do quanto o globalismo e as atitudes e princípios individualistas são estranhos aos russos”, defende Dugin.
A Rússia deveria então despertar para o seu papel na escala histórica e tornar-se um "polo em um mundo multipolar". E esse destino, para Dugin, é uma missão “imperial” que “os globalistas farão tudo o que estiver a seu alcance para evitar”.
Dugin imagina que com o “despertar imperial da Rússia, ela é chamada a ser um sinal para uma rebelião universal de povos e culturas contra as elites liberais globalistas”, levando ao crescimento de outros impérios que manteriam um equilíbrio entre si. Soa bastante como uma nova Paz de Vestfália, mas ele não dá nenhuma pista de que estratégia a Rússia empregaria para esse fim e tampouco de como isso não iria incidir em uma guerra catastrófica.