Seus sonhos, enquanto marchavam para o norte, eram sobre a América, com abundantes empregos, boas escolas e proteções contra a violência e as ameaças de casa.
Mas o futuro, por enquanto, se tornou essa extensa cidade fronteiriça, onde os salários por hora giram em torno de US$ 2,50, faltam oportunidades educacionais e a extrema pobreza faz dos assaltos e sequestros uma ameaça constante.
Cerca de mil integrantes da caravana permaneceram em Mexicali, preocupados com o fato de que a violência do cartel de drogas e as condições de vida em Tijuana, que era o destino final, seriam insuportáveis.
Esses temores foram confirmados quando os agentes da Patrulha da Fronteira dos EUA dispararam gás lacrimogêneo contra um grupo de imigrantes que tentaram invadir a fronteira no último final de semana, resultado de tensões crescentes em torno do que se tornou uma espera de meses para pedir asilo nos EUA.
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“Estou apenas procurando uma oportunidade para trabalhar”, disse Denis Paredes, 33 anos, que chegou de Honduras este mês. “É melhor ficar aqui por algum tempo, onde é pelo menos um pouco mais calmo”.
A possibilidade de um fluxo de longo prazo pressionou a rede de albergues que por muito tempo ofereceu refúgio gratuito para migrantes, mas que agora cobram modestos aluguéis para pagar por alimentos e outras despesas.
Ao mesmo tempo, os participantes da caravana começaram a solicitar uma forma de asilo mexicano que lhes dá permissão para trabalhar – um resultado que o próximo presidente Andrés Manuel López Obrador deve encorajar ao procurar aumentar o desenvolvimento econômico do país.
Esta semana, a Comissão Mexicana de Assistência aos Refugiados montou escritórios temporários em Mexicali e Tijuana voltados para os migrantes de caravanas, que estão sendo dirigidos pelo escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
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Até agora, quase cem pessoas em Mexicali se inscreveram para buscar asilo, enquanto cerca de 230 se inscreveram em Tijuana, segundo o ACNUR. A agência processou 14.600 pedidos em todo o país no ano passado, principalmente de centro-americanos, aprovando cerca de 20%.
Em Mexicali, a decisão dos migrantes da caravana de ficar por mais tempo no México vem com uma série de cálculos. Alguns estão ganhando tempo, ainda esperando por uma chance de asilo dos EUA. Outros calculam que as medidas de segurança na fronteira dos EUA acabarão se afrouxando o suficiente para que elas cruzem ilegalmente.
Ainda outros estão ansiosos para ganhar algum tipo de salário depois de passar vários meses sem trabalho enquanto estavam na trilha da caravana, suas expectativas aumentadas com a promessa de López Obrador de oferecer cerca de 100 mil permissões de trabalho para migrantes da América Central.
Albergue
A pressão econômica que eles enfrentam foi óbvia essa semana dentro do Migrant Hotel, um albergue que cobra US$ 1,50 por noite para os centro-americanos que ficaram muito mais tempo do que o esperado.
Genaro Fernández, de 33 anos, estava quase chorando enquanto estava deitado em um colchonete com outros hondurenhos na manhã de quarta-feira (28). Eles tinham a intenção de assinar contrato de trabalho diário com uma fábrica de barris, mas não acordaram a tempo para a seleção das quatro da manhã. Fernandez contava com os US$ 11 que ele ganharia pelo dia.
Ele se juntou à caravana depois que um empreendimento fracassado com uma fazenda de suínos em Santa Bárbara, Honduras, o deixou com uma dívida bancária de quase US$ 21.000. Sua esposa, que ficou para trás com seus dois filhos jovens, relatou recentemente que um funcionário do banco estava furioso fazendo exigências de pagamento.
“Como vou pagar quando estou quebrado?”, Fernandez disse. “Todos nós queremos trabalhar”.
No albergue La Michoacana, onde uma parte ondulante do teto parecia pronta para entrar em colapso, o diretor Gonzalo Pacheco Aguilar aconselhou os migrantes a encontrar trabalho e casas permanentes em Mexicali. Seu exemplo foi um grupo de migrantes haitianos que se instalaram em casas abandonadas na cidade. Muitos ganharam proteções federais depois de chegarem como refugiados dois anos atrás.
“Eles conseguiram empregos em fábricas e chamaram suas famílias para se juntar a eles”, disse Pacheco na quarta-feira. Ele aprovou quando Sofia Cardona, uma associada do ACNUR, explicou a um pequeno grupo de hóspedes do albergue os benefícios do programa mexicano de ajuda aos refugiados.
O processo é semelhante ao sistema de asilo dos EUA, embora com muito menos demora. Funcionários do governo avaliam o nível de risco de um candidato em seu país antes de iniciar uma verificação de antecedentes e emitir uma decisão final.
Aqueles que passam em uma avaliação inicial recebem residência temporária com permissão para trabalhar, embora devam permanecer no estado em que seu caso está sendo analisado.
Sergio Tamai Jr. – cujo pai, Sergio Tamai Sr., criou o Migrant Hotel – reuniu um grupo de cerca de 20 migrantes para caminhar do albergue para o escritório temporário da comissão na quarta-feira.
“Vocês todos caminharam mais”, Tamai disse ao grupo antes de partirem.
Quando chegaram, vários migrantes pareciam incertos sobre por que tinham ido. Gloria Hernandez, que com sua filha Jennifer, 17 anos, se juntou à caravana de migrantes em El Salvador, inicialmente achou que o governo mexicano poderia ajudá-la a obter asilo nos EUA.
“A verdade é que estou um pouco confusa”, disse Hernandez, 50 anos, antes de entrar para discutir seu medo geral da violência em El Salvador durante o equivalente a uma entrevista de admissão.
Planos
Naquela noite, David Mendoza, 31 anos, estava no quarto do Migrant Hotel que ele dividia com outros três homens. Uma música rock dos anos 80 surgiu da rua abaixo enquanto alguns imigrantes conversavam por vídeo com seus entes queridos. Outros abraçavam seus colchonetes e dormiam no corredor iluminado e adornado de grafite.
Da varanda, entrava o cheiro de maconha.
Mendoza fez o pedido para as proteções federais mexicanas e recebeu um pedaço de papel com um endereço de um site do governo na internet, onde ele poderia verificar seu status. Ele não estava otimista.
“Eu sempre soube que não poderíamos cruzar para os EUA”, disse Mendoza, que nasceu em El Salvador e se juntou à caravana no estado mexicano de Chiapas.
“Eu vou só ficar bem aqui”, disse ele.
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