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Revolta árabe

Aliado de ex-ditador será novo premiê do Egito

Manifestantes egípcios contra o governo militar se reúnem em frente do Ministério do Interior, perto da Praça Tahrir | Esam Al-Fetori/Reuters
Manifestantes egípcios contra o governo militar se reúnem em frente do Ministério do Interior, perto da Praça Tahrir (Foto: Esam Al-Fetori/Reuters)

A nomeação pela junta militar que controla o Egito de um ex-aliado do ditador Hosni Mubarak como premiê interino promete elevar novamente as tensões na Praça Tahrir, no Cairo.

Segundo a mídia estatal, Kamal Ganzouri, 78 anos, aceitou convite para ser o chefe do novo gabinete egípcio, que substituirá o que renunciou na terça-feira, após a escalada de protestos que já deixaram ao menos 39 mortos.

Primeiro-ministro de Mubarak entre 1996 e 1999 e acusado de fazer parte do círculo de poder e corrupção da ditadura deposta em fevereiro, Ganzouri está longe de ser a face de renovação que os manifestantes esperavam.

Ao mesmo tempo, a junta fez ontem um pedido de desculpas pela violência da polícia, tentando acalmar a fúria que voltou a tomar conta da praça.

Uma megamanifestação está sendo esperada para hoje no local. Opositores ambicionam reunir 1 milhão de pessoas, a fim de dar um sinal inequívoco da insatisfação popular com a demora na transferência de poder.

Ainda ocupada por milhares de pessoas, a Praça Tahrir viveu ontem um dia de relativa calma, depois de cinco dias de intensos confrontos. Em um raro gesto de apaziguamento, a junta militar lamentou a violência.

"O Conselho Supremo das Forças Armadas apresenta seu pesar e profundas desculpas pelas mortes de mártires, filhos leais do Egito", afirmaram dois generais em mensagem no Facebook.

Apesar do pedido de desculpas, o comando militar deixou claro que não pretende deixar imediatamente o poder, frustrando a de­manda central dos manifestantes.

Em uma entrevista coletiva no Cairo, os generais desprezaram os gritos de protesto, afirmando que deixar o poder seria "trair a confiança depositada pelo povo".

"Não vamos deixar o poder por causa de uma multidão que grita slogans", disse o general Mukhtar el-Mallah, colocando a junta em posição de vítima. "Estar no poder não é nenhuma bênção. É uma maldição e uma responsabilidade pesada."

Se os militares se negam a deixar o poder, os manifestantes não mostram intenção de deixar a praça. "Conhecemos todos os truques", afirma o estudante Moh­­maed Soubeh, 23 anos. "Fica­­remos até os militares nos devolverem a revolução."

Abuso

Duas jornalistas que cobriam as manifestações no Cairo denunciaram ontem terem sido vítimas de agressões sexuais por policiais. Mona al Tahawy, de nacionalidade americana-egípcia, e Caroline Sinz (francesa), afirmaram que também foram espancadas. "Além de me baterem, os cachorros [policiais] me submeteram à pior das agressões sexuais", escreveu no Twitter Mona al Tahawy. Sinz disse que foi atacada por uma multidão de homens não identificados.

Junta militar mantém eleição na segunda-feira

A Junta Militar egípcia afirmou ontem que o país está preparado para as eleições legislativas programadas para a próxima segunda-feira e prometeu garantir a segurança durante a votação.

Manifestantes que ocupam a praça Tahrir desde sábado querem que o pleito seja adiado e que um conselho de anciãos substitua os militares no comando do país. Os protestos atuais são vistos como uma segunda fase decisiva para o Egito após as revoltas de janeiro que derrubaram Mubarak.

O general Mokhtar el Mulla defendeu que "Tahrir não é o Egi­­to", em referência aos manifestantes que pedem a renúncia do conselho militar.

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