A aliança de grupos de direita, como o partido fujimorista Força Popular, com o autodenominado partido marxista Peru Livre conquistou nesta quarta-feira (26) a presidência do Congresso peruano para o mandato de 2023-2024 e colocou o legislador Alejandro Soto em primeiro lugar na sucessão constitucional para o cargo de chefe de Estado, caso a presidente Dina Boluarte renuncie ou seja destituída.
A lista encabeçada por Soto, membro do partido de direita Aliança pelo Progresso (APP), derrotou o grupo de centro-direita Ação Popular (AP), liderado por Luis Aragón, depois de receber 77 votos a favor contra 39 do seu rival, além de quatro em branco e oito nulos.
Soto é advogado, tem 63 anos e nasceu em Cusco, um dos principais focos dos protestos antigovernamentais que paralisaram o sul do Peru após a fracassada tentativa de golpe do ex-presidente Pedro Castillo (2021-2022). Além disso, ganhou destaque ao ter um programa de televisão no qual entrevistava a si mesmo em várias ocasiões.
A aliança vencedora, que comandará o período legislativo 2023-2024, levou como candidato Hernando Guerra García, do Força Popular, para a primeira vice-presidência do Congresso, Waldemar Cerrón, do Peru Livre, para a segunda, e Roselli Amuruz, do partido de direita Avança País, para a terceira.
Esta eleição foi realizada em um momento em que o Congresso tem níveis mínimos de aprovação pública e em que retornam os protestos antigovernamentais, exigindo a renúncia de Boluarte, o fechamento do Legislativo e a convocação de eleições gerais e de uma assembleia constituinte.
Enquanto a votação ocorria, um grupo de manifestantes se reuniu em frente ao Palácio Legislativo para expressar repúdio aos deputados e reiterar o seu pedido de fechamento do Congresso, enquanto eram cercados por agentes antidistúrbios da Polícia Nacional do Peru (PNP).
Com a eleição de Soto, o Congresso peruano continuará sendo liderado por um representante da direita, após a direção presidida no último ano por José Williams, embora agora em aliança com o Peru Livre, o partido que levou Castillo à presidência peruana em 2021 e legenda da atual presidente Dina Boluarte, que não tem vice-presidentes.
A apresentação desta fórmula causou grande surpresa entre os grupos políticos e a opinião pública, uma vez que Guerra García é um dos principais porta-vozes do fujimorismo e Cerrón é irmão do fundador do Peru Livre, Vladimir Cerrón, que lidera um partido autodenominado marxista.
O fato levou até mesmo três deputados do Peru Livre a renunciarem a essa bancada após denunciarem uma “traição”, embora Vladimir Cerrón tenha afirmado que ele e seus correligionários não estão “a serviço do fujimorismo” e que fizeram “uma jogada estratégica para terem uma representação na mesa do Congresso que, devido ao dogmatismo e ao sectarismo, nunca tiveram”.
Na hora de prestar juramento, Guerra García o fez pela atual Constituição peruana, que foi promulgada em 1993, durante o governo de Alberto Fujimori (1990-2000), enquanto Cerrón o fez pela convocação de uma Assembleia Constituinte e de uma nova Constituição, bandeiras que defende e entram em choque com as posições da direita peruana.