Nem as polêmicas de Donald Trump com os latinos, como a proposta de um muro na fronteira com o México e a deportação em massa dos sem papéis, fazem os hispânicos necessariamente votar em Hillary Clinton. Católicos fervorosos, eles vivem o dilema de votar numa candidata vista como alguém que vai contra seus princípios morais, ao apoiar o aborto. Esta indefinição pode, em estados com muitos imigrantes, como o Arizona, mudar o resultado da eleição. “Estamos entre a cruz [católica] e o muro [de Trump]. Na fronteira”, afirma Karina Ruiz, presidente da Arizona Dream Act Coalition, ONG que auxilia imigrantes ilegais.
Os democratas buscam os latinos lembrando que Hillary prometeu apresentar, nos primeiros 100 dias de seu governo, uma proposta abrangente de reforma migratória. Os republicanos, por sua vez, focam nas igrejas.
Terra dos “Dreamers”, forte movimento de imigração que pressiona por mudanças, o Arizona já tem 30,7% da sua população formada por latinos. O total dos eleitores com origem hispânica deve superar os 20%. Diversas ONGs têm tentando aumentar a participação dos latinos na política, mas estes problemas podem derrubar a participação eleitoral do grupo.
“Acho que votarei nela [Hillary] por ser a menos pior, mas vejo muitos de meus amigos decidindo simplesmente não votar”, afirmou Isabel Yerpiz, 28 anos, filha de mexicanos. “A gente sabe da importância, mas estamos com opções muito ruins.” Ela confirma que o apoio ao aborto causa impacto na comunidade latina de Phoenix, embora muitos vejam com bons olhos o fato de Tim Kaine, vice de Hillary, ser católico.
Rosa Maria Soto, diretora do Parents & Youth in Action, ONG em prol da educação de latinos, afirma que o grupo anda dividido, e muitos estão desanimados com as eleições. Apesar de a imensa maioria detestar Trump, muitos não se empolgam mais com os democratas. Além da questão religiosa, há uma certa decepção com o governo de Barack Obama, que prometeu muito ao grupo, sem, contudo, ter entregado grandes soluções. Parte disso se deve, segundo ela, à forte resistência republicana no Congresso.
“Todos os latinos lembram que Obama deportou mais imigrantes sem papéis que George W. Bush; ele foi o presidente que mais deportou na história”, disse Karina Ruiz. “Se vemos nesta eleição muitas pessoas fartas com os políticos, os latinos estão ainda mais cansados.” No estado, alguns apelidaram Obama de “deportador-em-chefe”, mas alguns programas, como o Daca, que facilita a regularização de crianças que chegaram aos EUA com menos de 16 anos, continuam valendo, apesar de a Suprema Corte ter suspendido o Dapa, voltado para pais de filhos nascidos nos EUA. Este é mais um apelo para os democratas no estado.
A professora Gabriela Garza, que tem 60 anos e vive há 25 no Arizona, afirma que vê, ao mesmo tempo, os latinos mais preocupados com a política, mas, ao mesmo tempo, desanimados. “Vemos os partidos muito focados nos jovens, mas se esquecem dos mais velhos. Muitos não podem votar, mas influenciam a casa e a comunidade”, disse ela.
Os partidos sabem que este voto cresce e é crucial. Mas concordam que, agora, os desafios são maiores: “Ao mesmo tempo em que aumentam a sua participação, os latinos estão ficando mais independentes. Eles não votam mais automaticamente nos democratas, precisam de argumentos”, disse Enrique Gutierrez, coordenador da comunicação democrata no estado.
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