A preocupação dos israelenses com o futuro se reflete no número de bebês que põem no mundo. Ao contrário dos pessimistas italianos, com taxa de 1,38 filho por mulher, ou dos espremidos japoneses, com 1,27, o povo de Moisés registrou fertilidade de 2,96 filhos por mulher em 2008.
O número torna Israel um dos poucos países do primeiro mundo com taxa de natalidade próxima de 3 filhos por mulher, o que pode ser interpretado como uma resposta à pressão demográfica entre judeus e árabes.
"Um filho não é suficiente porque este é um país tradicional do ponto de vista cultural. Mas também é pela demografia", disse à Gazeta do Povo a socióloga israelense Yahel Ash Kurlander.
No território israelense, os judeus são maioria (76% da população, ou 6 milhões de pessoas), mas nos territórios palestinos ao redor a população já é de quase 4 milhões, com taxa de fertilidade que alcança 5,1% na Faixa de Gaza, de acordo com a inteligência norte-americana (CIA World Factbook). Em Israel, as famílias árabes muçulmanas têm em média 3,8 filhos. Independentemente da lógica dos números, corre solto o temor de que, num período de 10 anos, os judeus sejam ultrapassados.
"É uma questão de vida ou morte", afirmou à agência Efe o presidente da ONG Fence for Life, Ilan Tsion, temendo que a desvantagem númerica deixe Israel mais vulnerável. A organização defende a separação física entre israelenses e palestinos, como ocorre nos trechos onde há um muro divisório.
A esse sentimento se soma a tradição judaica de núcleos familiares fortes. "Logo que casei começou a pressão. E aí, não vão ter filhos? E um só não é suficiente. Só não tenho meu segundo já porque minha filha tem apenas um ano e meio", conta Yahel, que também dirige uma ONG de direitos da mulher e quer ter quatro filhos.
A presidente da empresa israelense de redação Write Point, Paula Stern, tem cinco filhos e nega influência religiosa ou étnica na decisão. "Cada vez que tinha outro bebê sentia que a família não estava completa. Só quando o quinto nasceu eu disse: Era isso, era ele que faltava". Para ela, a demografia do país não é tão relevante quanto a violência na sociedade.
"Quero ter só mais um", restringe Danit Laish, de 31 anos. Ela justifica: "Estou preocupada com o que vai acontecer em Israel quando ele (o filho) for maior, mas a ideia pessimista de judeus serem minoria, isso não vai acontecer. Temos os muito ortodoxos para balancear."
De acordo com o discurso corrente em Israel, dos parquinhos aos restaurantes, o segredo da fertilidade nacional está nas famílias ortodoxas, que chegam a ter 10, 12, 14 filhos.
"É a maior taxa de fertilidade para homens com uma só mulher", diz Shira Mano, coordenadora de um centro de treinamentos do governo israelense. Ela arrisca uma explicação de foro íntimo. "Eles não utilizam métodos contraceptivos e seguem preceitos bíblicos, com dias de resguardo para a mulher, que acabam permitindo a relação sexual só nos dias próximos do período fértil."
O judeu ortodoxo Barack Ben, que nasceu em Los Angeles e imigrou para Israel com um ano de idade, faz uma ressalva: "Quero mais filhos, com a ajuda de Deus". Ele e a mulher têm um menino e uma menina.
Incentivo
Além da ajuda divina, os judeus que não conseguem procriar contam com a mãozinha do Estado. "Temos o maior número de clínicas de fertilização in vitro do mundo", conta Yahel. Se não der certo, o casal tem direito a mais uma tentativa. Tudo grátis. A tecnologia desenvolvida na área agregou o turismo médico ao religioso e àquele voltado às comunidades kibutzim.
Apesar do incentivo estatal e da tradição de famílias numerosas, é alto também o número de abortos em Israel. De acordo com a organização religiosa Efrat há 50 mil interrupções da gravidez por ano no país. O aborto é legalizado, mas a mulher precisa passar por uma junta médica que o autorize. É raro que a permissão não seja concedida.
ONGs como a Efrat, em geral de cunho ortodoxo, dedicam-se a desestimular a prática, muitas vezes oferecendo apoio financeiro para que a mulher decida ter o filho. Em anúncios de jornal, um dos argumentos pelo qual justificam a manutenção da gravidez é a necessidade de os judeus manterem sua maioria populacional.
Árabes
Já entre a comunidade árabe, a preocupação demográfica parece não se refletir. Nibal Hamdan, que mora em Haifa, tem uma filha, e pondera que muitas famílias pensam duas vezes antes de encher a casa, preocupadas em poder educar e dar boas coisas a eles.
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* A jornalista viajou a convite do governo de Israel.