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São Paulo – "Em certos dias, eu lamentava que Belgrado não fosse Amsterdã, mas em outros ficava feliz por não ser Berlim Oriental". A frase do documentarista sérvio Malden Maticevic sobre a capital da antiga Iugoslávia – hoje apenas Sérvia – descreve bem o regime político híbrido que vigorou naquele país durante Guerra Fria. Definido por cientistas políticos como "titismo", em alusão ao ditador Josip Broz Tito, o governo iugoslavo combinava as estruturas do comunismo com alguns mandamentos de livre mercado e liberdades civis incomuns ao bloco soviético.

Os iugoslavos recebiam em média 9 milhões de turistas por ano, fabricavam carros da Renault e da Volskwagen, tinham acesso a produtos ocidentais e podiam viajar ao exterior, ainda que com certas restrições. O regime comunista de partido único era independente da União Soviética e recebia dinheiro dos Estados Unidos para programas de reconstrução depois da 2.ª Guerra Mundial. O líder Tito era um ditador respeitado no mundo da democracia. Foi o primeiro comunista a fazer uma visita oficial à realeza britânica. Também conheceu a Casa Branca durante a curta presidência de John Kennedy e visitou Brasília com Juscelino Kubitschek.

A rádio B92 surgiu oito anos depois da morte de Tito, em 1989, pelas mãos de estudantes ansiosos por afrontar o regime de comunismo frouxo e decadente e trocá-lo pela democracia. Enquanto o Muro de Berlim caía, a Iugoslávia registrava uma variação da antiga política, que, na Sérvia, ganhava contorno nacionalista na figura de Slobodan Milosevic. A B92 via um futuro cosmopolita e democrático para o país e, por isso, logo ganhou a pecha de vendida, anti-sérvia, e subversiva. Seu jornalismo engajado e debochado entrecortava a programação musical feita de Sonic Youth, Public Enemy e Clash. A emissora foi fechada quatro vezes durante a década de 90, enquanto seus funcionários eram sistematicamente perseguidos.

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