Ainda que o Irã seja um dos principais inimigos das potências ocidentais, existe um imenso cuidado para evitar que Israel, com a justificativa de se sentir ameaçado, acabe por se precipitar e ataque o país do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Os Estados Unidos e países da Europa preferem insistir no método das sanções para tentar conter o desenvolvimento iraniano de tecnologia destinada à produção de armas nucleares.
Um dos motivos para a cautela ocidental seria a reação que uma ofensiva militar israelense causaria. A professora de Relações Internacionais Cristina Pecequilo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirma que uma ação militar contra o Irã "só pioraria o cenário de grande instabilidade geopolítica" na região. "Ainda há tropas no Afeganistão e a situação continua incerta no Iraque", analisa a professora.
O cientista político Alexsandro Eugenio Pereira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), destaca que um hipotético ataque seria o pretexto que o Irã espera para uma ofensiva contra Israel.
"Esta ofensiva não estaria baseada, ainda, em bombas nucleares, mas seria suficiente para promover uma destruição considerável do Estado israelense", diz o professor.
Pereira, que coordena o Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da UFPR, diz acreditar que um conflito entre Israel e Irã colocaria o mundo em circunstâncias parecidas com o da Guerra Fria, em que o Irã recorreria aos aliados Rússia e China, enquanto Israel contaria com apoio do velho aliado EUA e de países europeus, como a França.
Consequências
O estreito de Ormuz, uma das principais vias de escoamento do petróleo produzido no Golfo Pérsico, tem sido outro fator que gera tensões entre os iranianos e seus rivais do Ocidente.
Se o Irã cumprisse as ameaças de fechar o estreito geraria problemas para os países que dependem da produção petrolífera da região.
Diante das tensões já existentes, um ataque de Israel agravaria a condição que já é crítica e levaria ao aumento do preço do petróleo, segundo o professor Expedito Bastos, pesquisador de assuntos militares da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). "Isso pode aumentar a crise no continente europeu e mesmo levá-la para outros lugares, que não estão em crise", explica.
Bastos considera que "do ponto de vista militar, o Irã não é uma potência com capacidade de resistência de longo prazo". O professor compara a realidade iraniana com a do Iraque. "O problema é [depois de atacar] ter que ocupar. O Iraque caiu rapidamente, só que desencadeou uma série de contratempos que estão durando até agora".
A retirada das tropas norte-americanas do Iraque não foi sinônimo de paz para o país. Pelo contrário, uma série de conflitos internos tiveram início desde então. Em dezembro foi emitida uma ordem de prisão para o vice-presidente Tareq al Hashimi, que é sunita. Ele considera que sofre perseguição política, já que o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, é xiita.
Síria
Um problema mais próximo geograficamente, mas que tem sido tratado com discrição pelo governo israelense, é a Síria. O país enfrenta a luta de rebeldes para derrubar o ditador Bashar Assad há um ano. O Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) já condenou os ataques do governo sírio contra civis, que poderiam ser equivalentes a crimes contra a humanidade.
Israel tem dúvidas se deixa Assad cair ou não, segundo Bastos, já que hoje está em uma "situação relativamente cômoda" com a Síria. "Não se sabe o que vem no pós- Assad. Se houver uma reviravolta muito grande, corre-se o risco de criarem outra República Islâmica, mais forte que a Arábia Saudita, ou mais xiita do que o Irã."
Por outro lado, o pesquisador da UFJF acredita que se o problema com a Síria for resolvido com a queda de Assad, o Irã ficaria praticamente isolado, já que o país perderia um de seus aliados.