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Tensão

Ameaça de ataque de Israel ao Irã piora cenário no Oriente Médio

Avião israelense, do modelo francês Rafale, faz treinamento. Um eventual ataque ao Irã envolveria uma complexa operação aérea | Jack Guez /AFP
Avião israelense, do modelo francês Rafale, faz treinamento. Um eventual ataque ao Irã envolveria uma complexa operação aérea (Foto: Jack Guez /AFP)

Ainda que o Irã seja um dos principais inimigos das potências ocidentais, existe um imenso cuidado para evitar que Israel, com a justificativa de se sentir ameaçado, acabe por se precipitar e ataque o país do presidente Mah­­moud Ahmadinejad. Os Estados Unidos e países da Europa preferem insistir no método das sanções para tentar conter o desenvolvimento iraniano de tecnologia destinada à produção de armas nucleares.

Um dos motivos para a cautela ocidental seria a reação que uma ofensiva militar israelense causaria. A professora de Relações In­­ternacionais Cristina Pece­­quilo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirma que uma ação militar contra o Irã "só pioraria o cenário de grande instabilidade geopolítica" na região. "Ainda há tropas no Afeganistão e a situação continua incerta no Iraque", analisa a professora.

O cientista político Alexsandro Eugenio Pereira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), destaca que um hipotético ataque seria o pretexto que o Irã espera para uma ofensiva contra Israel.

"Esta ofensiva não estaria ba­­seada, ainda, em bombas nucleares, mas seria suficiente para promover uma destruição considerável do Estado israelense", diz o professor.

Pereira, que coordena o Nú­­cleo de Pesquisa em Relações Inter­­nacionais da UFPR, diz acreditar que um conflito entre Israel e Irã colocaria o mundo em circunstâncias parecidas com o da Guerra Fria, em que o Irã recorreria aos aliados Rússia e China, enquanto Israel contaria com apoio do ve­­lho aliado EUA e de países europeus, como a França.

Consequências

O estreito de Ormuz, uma das principais vias de escoamento do petróleo produzido no Golfo Pér­­sico, tem sido outro fator que gera tensões entre os iranianos e seus rivais do Ocidente.

Se o Irã cumprisse as ameaças de fechar o estreito geraria problemas para os países que dependem da produção petrolífera da região.

Diante das tensões já existentes, um ataque de Israel agravaria a condição que já é crítica e levaria ao aumento do preço do petróleo, segundo o professor Expedito Bastos, pesquisador de assuntos militares da Universi­­dade Federal de Juiz de Fora (UFJF). "Isso pode aumentar a crise no continente europeu e mesmo levá-la para outros lu­­gares, que não estão em crise", explica.

Bastos considera que "do ponto de vista militar, o Irã não é uma potência com capacidade de resistência de longo prazo". O professor compara a realidade iraniana com a do Iraque. "O problema é [depois de atacar] ter que ocupar. O Iraque caiu rapidamente, só que desencadeou uma série de contratempos que estão durando até agora".

A retirada das tropas norte-americanas do Iraque não foi sinônimo de paz para o país. Pelo contrário, uma série de conflitos internos tiveram início desde então. Em de­­zembro foi emitida uma ordem de prisão para o vice-presidente Tareq al Hashimi, que é sunita. Ele considera que sofre perseguição política, já que o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, é xiita.

Síria

Um problema mais próximo geo­­graficamente, mas que tem sido tratado com discrição pelo governo israelense, é a Síria. O país enfrenta a luta de rebeldes para derrubar o ditador Bashar Assad há um ano. O Conselho de Direi­­tos Humanos da Organiza­­ção das Nações Unidas (ONU) já condenou os ataques do governo sí­­rio contra civis, que poderiam ser equivalentes a crimes contra a humanidade.

Israel tem dúvidas se deixa As­­sad cair ou não, segundo Bastos, já que hoje está em uma "situação relativamente cômoda" com a Sí­­ria. "Não se sabe o que vem no pós- Assad. Se houver uma reviravolta muito grande, corre-se o risco de criarem outra República Islâ­­mi­­ca, mais forte que a Arábia Sau­­dita, ou mais xiita do que o Irã."

Por outro lado, o pesquisador da UFJF acredita que se o problema com a Síria for resolvido com a queda de Assad, o Irã ficaria praticamente isolado, já que o país perderia um de seus aliados.

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