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Segurança

Ameaça nuclear terrorista

Teste nuclear realizado pelos EUA em meados do século passado: medo é de que essa potência caia na mão de terroristas | Artillery Shell
Teste nuclear realizado pelos EUA em meados do século passado: medo é de que essa potência caia na mão de terroristas (Foto: Artillery Shell)

Viena - Se o impensável acontecer e uma bomba nuclear destruir o coração de uma grande cidade, como enfrentaremos o desconhecido enquanto a poeira radioativa assenta? Como saberíamos quem o fez, com o quê? Fanáticos do Oriente Médio com um artefato improvisado feito de urânio roubado? Uma bomba norte-americana sequestrada?

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, diz que o terrorismo nuclear é "a mais imediata e extrema ameaça à segurança global". É o impensável que está sendo pensado diariamente em esquinas secretas das capitais mundiais.

Mas cientistas versados no assunto e investigadores que estão por trás de um novo relatório do governo norte-americano dizem que as instituições nucleares dos Estados Unidos precisam de mais especialistas e mais dados.

"Eu não acredito que a comunidade de inteligência esteja pronta para o desafio", disse Rolf Mowatt-Larssen, que trabalhou por anos como líder da inteligência norte-americana sobre armas de destruição em massa.

As preocupações são evidentes num relatório divulgado pelo governo em junho, uma versão não secreta de uma avaliação secreta da Agência de Prestação de Contas do Governo dos EUA, e de um estudo prévio feito por importantes organizações científicas.

Eles dizem que a idade avançada dos especialistas nucleares e a consequente diminuição dos integrantes dessas unidades e das instalações de análise dos EUA seriam enfatizadas se uma arma nuclear destruísse uma cidade ou uma "bomba suja" que espalhasse radioatividade fosse detonada nos Estados Unidos.

Os cientistas também dizem que as bases de dados internacionais que catalogam as características dos materiais nucleares em todo o mundo, essenciais para buscar pistas no caso de um acontecimento desses, "não são nem sequer extensas ou utilizáveis o suficiente".

"Se você tem dados de referência, é possível identificar a origem. É como uma base de dados de digitais", explicou Richard Hoskins, especialista em segurança da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), em entrevista concedida na sede da entidade, em Viena.

Hoskins mantém registros globais sobre contrabando de materiais nucleares. Sua base de dados na AIEA registra 1.646 incidentes de tráfico, roubo ou perda de materiais nucleares desde 1995, inclusive 18 que envolvem plutônio ou urânio altamente enriquecido, que abastece bombas nucleares.

Nenhum caso envolve material suficiente para a construção de uma bomba e Hoskins disse que sua agência não detectou evidências de uma rede extremista, em vez de ladrões oportunistas, por trás de algum incidente. Mas não se sabe se algo não foi percebido, lembra ele.

E pelo menos um grupo extremista assumidamente aspira a conquistar o status nuclear, lembra outra autoridade de Viena, Roger Howsley, chefe do Instituto Mundial de Segurança Nuclear, um grupo recém-formado – apoiado pelos Estados Unidos – para aconselhar a segurança de instalações nucleares. "A Al-Qaeda afirmou que teria (armas nucleares) se pudesse", disse ele.

Os extremistas enfrentam grandes desafios ao tentar roubar uma bomba ou mesmo construir uma se obtiverem material para isso, dizem especialistas. Mas, "mesmo a pequena chance de que os extremistas tenham essa capacidade muda dramaticamente a equação", disse Mowatt-Larssen, ex-funcionário da CIA e ex-chefe de inteligência do Departamento de Energia dos Estados Unidos, durante um recente debate na Universidade Georgetown, em Washington.

Para evitar que materiais para fabricação de bombas atômicas caiam em mãos erradas, especialistas forenses em energia nuclear tentam rastrear as pistas do material comercializado por traficantes até sua origem, com o objetivo de obstruir a saída desses materiais em instalações vulneráveis.

Analistas norte-americanos fizeram descobertas "definitivas" num caso de urânio altamente enriquecido recuperado de contrabandistas na ex-república soviética da Geórgia em 2006, o mais recente desse nível dos arquivos de Hoskin. Acredita-se que o material tenha vindo da Rússia.

Mas, em muitos casos, detalhar os resultados de casos como esse pode ser impossível por causa das grandes lacunas das bases de dados de informações necessárias para acompanhar o material físsil.

"O problema é que este tipo de dado não é compartilhado regularmente", disse Laura Rockwood, da AIEA. Fabricantes de combustível nuclear consideram esses dados como informação proprietária. Governos veem riscos de segurança nacional em transferir esse tipo de informação, particularmente com Estados que não tenham armas nucleares.

No ano passado, um relatório de cientistas norte-americanos, de uma força-tarefa da Associação Americana para o Avanço da Ciência e da Sociedade Americana de Medicina, pediu que os Estados que têm armas nucleares cooperassem mais com a base de dados internacional.

Klaus Mayer, um especialista nuclear forense da Comissão Europeia não vê isso acontecer. "Há tantas sensibilidades envolvidas", diz. Em vez disso, os europeus veem mais esperança em um sistema descentralizado de bancos de dados nacionais protegidos, que seriam pesquisados em casos de emergência.

Como o relatório dos cientistas norte-americanos, o novo estudo da GAO diz que a diminuição do número de especialistas forenses norte-americanos – menos de 50 – precisa ser reposto com novos radioquímicos e outros especialistas.

Como os Estados Unidos fizeram seu último teste com bomba nuclear em 1992, "poucos cientistas permanecem nos laboratórios nacionais, realizando experiências com técnicas de radioquímica em escombros de um evento nuclear e analisando os resultados", diz o documento.

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